Um colono comentou esses dias que três feriados em novembro era demais. Que o brasileiro não quer trabalhar. Aí eu fiquei pensando que a única coisa de que eu reclamo, em termos de feriado, é que não tem nenhum em agosto, nem em julho.
Por mim, falei pro colono, tinha um feriado por semana. Nas quartas, por exemplo.
O homem estava comendo pêssego, cuspiu o caroço na minha direção. Li nos olhos dele um terrível xingamento: “funcionário público!”
Pra suavizar o duelo, perguntei qual feriado de novembro ele eliminaria: Finados, Dia da Bandeira ou Dia da Consciência Negra.
— Não seria Dia da República? — ele retrucou.
Pesquisamos na internet: ele tinha razão. Dia da Bandeira é 19 de novembro. Taí outra baita ideia de feriado.
Sobre a minha pergunta, o colono ficou em cima do muro. Apenas disse que poderia ser eliminado qualquer outro, menos o Dia de Finados. Lá onde ele mora é um grande evento. As pessoas vão ao cemitério. Fazem em casa um silêncio sepulcral. Ficam de jejum. Em vez de usar trator e roçadeira, fazem apenas serviços com foice e enxada.
Já a Verônica, uma vizinha que estava escutando a conversa, disse que não abriria mão da Consciência Negra.
Não procurei alguém que comemore o Dia da República. Achei mais produtivo pensar num esquema assim: diz-me o feriado de novembro que eliminarias e dir-te-ei quem és.
Te anima a excluir algum? Ou vai torcer comigo pra que tenha feriados em todos os outros meses também?
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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