Caxias do Sul 22/10/2024

Fazendo o mais difícil

Palmas para as mães que optam por ampliar horizontes
Produzido por Neusa Picolli Fante, 17/08/2024 às 08:44:19
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

Ao longo dos dias, seja em consultório ou em observações aleatórias, verifiquei o abstrair sentimentos de pais para com seus filhos. Até que ponto isso é saudável e os prepara para a vida? Até que ponto os pais precisam compreender as artimanhas da vida para ajudar seus filhos a crescerem e se constituírem mais saudáveis?

Vamos falar sobre sentir com nossos filhos. Eles precisam saber reconhecer o que sentem, e não ver os sentimentos como errados, mas sim como parte dos seus dias, dos aprendizados. Um pai disse ao seu filho: “Nunca chore, não demonstre que tem medo”. Foi como dizer: se engane e engane ao outro também; não peça ajuda e não tenha ilusões. Assim foi se construindo nele o “mostre o que não é”.

Sim, vamos verbalizar que sentimos medo, que precisamos de apoio, que nos sentimos sós, que não sabemos como lidar com aquela pessoa ou situação.

Quando abrimos nossas inseguranças, algo pode vir iluminar nossa angústia, ajudar a encontrar uma nova direção e, assim, nos sentirmos mais confiantes.

Sabemos que, quando a vida oferece uma situação difícil, a criança cola no adulto. Quanto menos recursos essa criança tiver, mais ela cola no que aquele adulto pensa e em como enxerga a vida e os acontecimentos dessa... Ela se movimenta pelo olhar atrapalhado, ou não, do adulto que admira, ou se sente apegado, e que está do seu lado.

Minha filha optou por não deixar que vídeos absorvessem o brincar e o inventar do meu neto. Os meses iam passando e novas regras na família precisaram ter início. A família se reorganizou no novo formato, aprendeu-se a desconectar da tv e do celular para interagir mais com ele... Por vezes, quando ele chegava e a tv estava em um musical, ele virava a cabecinha e se inebriava com imagens, e nós corríamos para desligar e ligar a interação.

Quando ele tinha 10 meses, ela estava ensinando músicas de criança para ele. Sentados no chão da sala, ela pegou o celular e colocou a música. Ali cantavam e dançavam até que ele quis o celular. Ela disse que não e argumentou com ele. Ele me olhou esperando outra opinião a seu favor, claro que eu fiz não com a cabeça.

Ele chorou com vontade enquanto ela dizia pra ele: “Isso se chama falta de tolerância à frustração, meu filho!” e explicou para o bebê o que era. Eu ali, no lado de fora, e de boca aberta com a explicação dela. Foi ali que ela me explicou também: “o certo é nomear sentimentos, não é mãe? É o que estou fazendo”. Ele parou de chorar e continuou a brincar...

Palmas para ela, que o ajuda saber o que sente, e confirma que a mamãe está com ele enquanto ele experimenta a frustração!

As regras necessitam ficar claras para um bom entendimento. Os limites precisam ser construídos para um seguir adiante com mais tolerância à frustração e com direcionamento. Estamos conduzindo seres para que cresçam, não para que permaneçam na dependência, na menos valia...

Ajudar a se desenvolver não é para acomodados, é para os que se desafiam, acreditando que aquilo é o melhor que podem fazer pelos seus.

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

Da mesma autora, leia outro texto AQUI