Caxias do Sul 24/11/2024

Existe relação entre cognição e deglutição?

Dificuldade para engolir não é normal e serve de alerta para detectar possíveis doenças
Produzido por Aline Ferla, 13/06/2023 às 08:47:01
Foto: Sabrina Conte Retratos

Aparentemente simples, a deglutição é, na verdade, uma função bastante complexa, que depende da integridade de inúmeras estruturas de cabeça e pescoço para a sua execução, além de uma sofisticada organização de processos neurológicos.

Sabe-se que inúmeros fatores podem ocasionar dificuldades de deglutição: doenças neurológicas (Esclerose Lateral Amiotrófica, Esclerose Múltipla, Parkinson, AVC, Traumatismo Crânio-Encefálico), doenças oncológicas (Tumores de Cabeça e Pescoço), entre outros. Mas será que em situações clínicas que comprometem o estado cognitivo dos pacientes, como nas demências, podem ocorrer quadros disfágicos?

Primeiramente, é importante que se compreenda que alimentar-se com segurança pela boca não se trata apenas de questões de saciedade ou, puramente, de ato motor. Quando está difícil para engolir, ao que tecnicamente chamamos de Disfagia, o que pode estar seriamente em risco é a vida do paciente.

Amplamente divulgado em meios de comunicação, o diagnóstico de demência frontotemporal do ator Bruce Willis – do blockbuster “Duro de Matar” -, deu atenção à causa. Em que pese dar-se ênfase à afasia noticiada – dificuldade de compreensão e expressão da fala –, há de se atentar a outros sintomas possivelmente relacionados.

A demência frontotemporal é uma doença neurovegetativa grave que pode afetar a comunicação, a cognição, o comportamento e o movimento. Tem como características principais distúrbios primários de linguagem, em que os lobos frontais e temporais do cérebro atrofiam, causando a perda progressiva de compreensão, alterações na personalidade e na conduta social.

A dificuldade no processo de engolir é igualmente comum em pacientes com demências (sobretudo no Alzheimer), em maior ou menor grau, e de acordo com o estágio da doença. Sintomas como hesitação ou negação para comer, perda de peso, quadros de pneumonia de repetição, intolerância a alimentos sólidos os líquidos, constante perda de saliva pela boca e engasgos podem fazer parte do quadro em decorrência do comprometimento das áreas do cérebro que são responsáveis por essas funções.

Isso tudo porque o ato de comer também exige a utilização de inúmeras tarefas cognitivas: atenção, percepção, planejamento e execução estão envolvidas no processo de alimentação. Em casos demenciais, essas importantes atividades, então automáticas, podem estar bastante prejudicadas.

É importante que se observe que dificuldade para engolir não é normal. O fonoaudiólogo especialista em Disfagia é, dentro da equipe de saúde que atende essa demanda, o responsável pela avaliação, diagnóstico e reabilitação dos problemas de deglutição.

Aline Ferla é Doutora em Ciências Pneumológicas (Ufrgs), Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana (UFSM), com títulos de Especialista em Disfagia, Motricidade Orofacial e Fonoaudiologia Hospitalar pelo CFFa, e membro da European Society for Swallowing Disorders.