A pauta "Transição Energética" tem sido muito tratada recentemente em todos os países do mundo. Mas, afinal, o que é transição energética? O termo “transição” pressupõe uma passagem ou evolução de um cenário a outro. Portanto, transição energética está relacionada com uma nova perspectiva, mais ampla e sistêmica, da sustentabilidade ambiental e social.
O foco principal da transição energética é reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e as alterações climáticas consequentes dessas emissões. Para isso, a principal prática dos países é a mudança das matrizes energéticas poluentes, compostas por combustíveis fósseis à base de carvão ou petróleo, para fontes de energia renováveis, sendo elas hidrelétricas, eólicas, solares e biomassas. Outras ações como gestão de resíduos e eficiência energética também compõem esses projetos.
Para expandir o conceito da transição energética, foi criado um conjunto de princípios denominado 5Ds: Descarbonização, Descentralização, Digitalização, Desenho de Mercado e Democratização. A descarbonização consiste na redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), por meio da eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
A Descentralização propõe a criação de uma rede de geração de energia distribuída em pequena escala, reduzindo a dependência de grandes centrais elétricas. A Digitalização envolve a implementação de tecnologias inteligentes para gerenciamento e otimização do sistema energético.
O Desenho de Mercado deve garantir que as negociações nos mercados de energia sejam seguras e eficientes. Por fim, a Democratização propõe a disponibilização de energia elétrica para toda a população, diminuindo as desigualdades, bem como a inclusão da sociedade civil nas discussões e tomadas de decisão sobre a transição energética.
50% da matriz energética do país é renovável
No Brasil, a transição energética vai muito além do conceito de geração de energia. Isso porque, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) de 2022, aproximadamente 50% da matriz energética do país é renovável. Dessa forma, os projetos para reduzir as emissões de carbono no Brasil estão focados não somente no aumento da geração de energia por fontes renováveis como também em mudanças nas áreas de transporte, uso de solo, aproveitamento de resíduos e otimização do consumo de energia elétrica.
Nas áreas de transporte, tanto coletivo quanto individual, já existem iniciativas. Em relação ao transporte individual, quando se tratam de veículos elétricos ou híbridos, o acesso à população ainda é limitado, principalmente pela baixa diversidade e altos preços praticados no mercado. Em contrapartida, há grande conscientização relacionada à mobilidade sustentável a partir da criação de ciclovias e promoção do uso de bicicletas e patinetes elétricos em grandes cidades.
Já para o transporte coletivo, o país tem investido na utilização de tecnologias mais limpas, como ônibus elétricos e híbridos, principalmente em grandes centros urbanos. Alguns projetos envolvem a participação ativa de universidades federais e contam com subsídios de grandes players da indústria. Ser um dos maiores produtores de biocombustíveis no mundo, especialmente de etanol, permite ao Brasil a criação de subsídios relacionados à utilização desse produto.
Quanto ao uso do solo, as principais ações no país estão relacionadas com práticas sustentáveis na produção de alimentos e na conservação da biodiversidade. A agricultura de baixo carbono tem sido promovida como uma alternativa à agricultura convencional, com a redução do uso de agroquímicos e o aumento da produtividade.
Outra prática importante é a recuperação de áreas degradadas e a conservação da vegetação nativa, especialmente na região da Amazônia. O país tem se comprometido a reduzir o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa provenientes do uso do solo, com políticas de proteção ambiental e incentivos à produção sustentável.
Aliadas às práticas sustentáveis na produção de alimentos, diversas políticas de conscientização sobre o desperdício em ambientes coletivos como escolas e shopping centers estão sendo realizadas.
As campanhas de conscientização também abordam o uso consciente da energia elétrica, a fim de evitar desperdícios. Projetos de eficiência energética têm sido mais frequentes, principalmente no ramo industrial, que representa cerca de 40% do consumo total de energia elétrica no Brasil. Esses projetos auxiliam não somente no melhor aproveitamento de energia, como no aumento de eficiência de produção e competitividade, uma vez que as indústrias podem produzir mais, a partir da substituição de tecnologias ineficientes, e melhorar a margem sobre seus produtos, já que consumirão menos energia.
Todas as ações citadas permitem concluir que o Brasil é um país ativo quando se trata de Transição Energética e que tem ações sendo executadas dentro de todos os 5Ds (Descarbonização, Desenho de Mercado, Descentralização, Digitalização e Democratização). No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer em diferentes áreas para que o país possa liderar essa transição e contribuir para um futuro mais sustentável.
Alexia Marchetto de Souza é engenheira eletricista e analista técnica na Perfil Energia, empresa de gestão estratégica de energia com matriz em Caxias do Sul (RS) e atuação nacional.
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