Quando vivemos uma perda, do tamanho e intensidade que for, ficamos entre a perda e a restauração. Como propõe no modelo dual, Stroebe e Schut, dois importantes movimentos no luto: um voltado para a perda e outro para a restauração, a interação de ambos promove um luto saudável.
Dessa forma, ficamos nesses dois momentos e necessitamos não negar nenhum deles. Viver a dor e dar sentido à vida, ao trabalho, ao encontro das pequenas coisas que te fazem bem se faz necessário. Pode existir um momento para cada dor sentida e outro para cada restituição buscada - isso são as restituições e buscas saudáveis.
Não consigo substituir a dor que sinto por nenhuma outra coisa, mas posso viver a dor que sinto, e me ocupar da vida que não para. Afinal, quando se fala de luto não existe certo ou errado, cada um vive seu luto do seu jeito, à sua maneira.
Não temos como saber quantas dores nos restam por viver, pois não temos o controle de muitas coisas... A morte, a perda... não nos pertencem, podemos, no entanto, aprender a lidar com elas e alimentar nossa fé, construindo como é um lugar seguro para a pessoa importante que se foi, e assim seguir rumo a vida.
Um grande questionamento é como continuar a viver após o luto? Como aprender a caminhar diferente sem quem se ama? Digo que o grande desafio após uma perda dessas é continuar caminhando e amando quem se foi – só que de uma maneira diferente, ou seja: amar à distância, amar em separado...
Continuar a amar é ter forças para seguir, e seguir é uma homenagem com quem se foi... É mostrar que desejamos crescer, continuar, para um dia, quem sabe, nos encontrarmos...
Por isso, entre na dor que sente, deixe ela vibrar em você, entenda-a e não fique presa nela.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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