Há seres humanos atraídos pelas emoções. Assim são os pilotos de automóveis, motos, aviões e barcos que se arriscam para atingir o máximo desse sentimento, quase um êxtase. Nessa busca pela emoção e perigo, cada milésimo de segundo conta e faz a diferença.
Uma dessas pessoas é o multifuncional Ciro Baumann, mais conhecido por ter modernizado a cronometragem de corridas no Brasil e pelos sensacionais shows de batidas e capotamentos que realizou ao longo de sua carreira.
Atraído pelos carros e, naturalmente, pelas corridas, ainda muito jovem começou a frequentar o Autódromo de Interlagos. Sua competência, dedicação, eficiência e amizade sempre foram reconhecidas por quem o conhece e, principalmente, pelas empresas para as quais realizou trabalhos.
Nascido na cidade paranaense de Rolândia, chegou em São Paulo aos cinco anos de idade, trazido pelos pais durante a Segunda Guerra Mundial. Seu pai era químico e trabalhava com peles de animais.
Quando se tornou adulto, foi trabalhar na Ômega, especializou-se nos cronômetros tecnicamente mais avançados e, naturalmente, entusiasmou-se com a possibilidade de adotá-los nas corridas, modernizando e facilitando o trabalho de cronometragem que, até aquele momento, era realizado de forma muito simples, por esportistas abnegados.
Até os anos 1960 ou pouco mais que isso, a cronometragem e a classificação das corridas eram feitas com o registro da passagem dos carros a cada volta com seus números anotados em fitas de papel e transferidos a outro membro da equipe, que cuidava do mapa de classificação dos concorrentes. Uma forma bem primária e empírica, mas era o critério disponível naquele tempo sem os recursos eletrônicos.
Ciro teve a oportunidade de fornecer os novos cronômetros que existiam, mas eram desconhecidos pelo setor automobilístico, para modernizar o trabalho de cronometragem das corridas, especialmente as de longa distância, como a 12 Horas, 24 Horas, 1.600 Quilômetros e Mil Milhas Brasileiras.
Também teve a oportunidade de acompanhar todos os eventos realizados no Autódromo de Interlagos, entre os quais, as apresentações da equipe francesa Jean Sunny, e da norte-americana Tournament of Thrills, que realizavam malabarismo em automóveis.
Esses eventos despertaram em Ciro Baumann, também amante das emoções, o desejo de dedicar-se a shows de trombadas e de superação de obstáculos. Ele se especializando em colisões e acidentes empolgantes que se tornaram mais emocionantes a cada exibição.
Shows de trombadas faziam sucesso nos autódromos brasileiros (Foto: Arquivo pessoal)
Ao longo de sua carreira, seus shows foram marcados pela destruição de 127 automóveis e emocionaram ou levaram ao delírio os espectadores com os capotamentos em alta velocidade em autódromos e em avenidas devidamente protegidas para segurança dos espectadores.
Ciro foi o artista que provocou maiores emoções a quem assistiu às suas exibições, sempre enriquecidas com novos e preocupantes lances, porque a cada show incluía um novo ato que envolvia perigo.
Ciro Baumann, saindo ileso de uma de suas apresentações (Foto: Arquivo pessoal)
A fama de sua habilidade chegou às produtoras de cinema que o procuraram para participar como dublê de artistas em lances que exigiam coragem e muita perícia na condução de carros e na administração do perigo.
Essa fase acrescentou mais fortes emoções à vida e ao trabalho de Ciro, por ingressar no mundo da sétima arte. Ciro diz que foi uma oportunidade de enriquecimento, pessoal e profissional, em que aprendeu muita coisa pelo desempenho e comportamento do grupo. Ou seja, acrescentou arte à sua forma técnica de trabalho.
Ciro trabalhou para vários filmes, fez novas amizades e viveu num ambiente diferente, assimilando novos conhecimentos. Considera que teve a oportunidade de aprimorar sua especialização na condução de veículos em cenas empolgantes.
Cenas empolgantes tiravam o fôlego da plateia (Foto: Arquivo pessoal)
No filme “Lili Carabina”, em que a artista Betty Faria interpreta a temível bandida carioca, Ciro Baumann, como dublê, substitui o amante de Lili numa fuga porque ela queria vingar-se de uma traição.
Num trecho complicado, Baumann perdeu o controle do carro, que se chocou contra uma grande pedra e resultou em explosão, seguida de incêndio. O carro ficou destruído, mas, por sorte, Ciro nada sofreu. Por segurança, a produtora tinha contrato com uma empresa especializada e havia programado uma equipe de socorro, que incluía bombeiros.
Em Xerém, na Baixada Fluminense, passou por sufoco porque, em uma cena, o Dodge Dart que pilotava capotou e afundou num lamaçal, com as rodas para o ar. Com o carro submerso, teve dificuldade para abrir a porta e sair e, por sorte, recebeu auxílio de uma enfermeira que não se importou em enlamear o impecável uniforme branco para socorrê-lo.
O Rio de Janeiro foi palco de outros momentos emocionantes de sua carreira. Em filmagem para a gravação de um programa de “Os Trapalhões”, que envolvia um avião de pequeno porte, conhecido como carioquinha, Ciro precisou realizar um capotamento e, em seguida, os integrantes dos Trapalhões entraram no carro. Ciro lembra que um deles, o Zacarias, deitado no interior, gritou “xiii, viraram o mundo de cabeça para baixo”.
Em Búzios, aconteceu a cena mais emocionante para outro filme. Os produtores programaram uma gravação do carro no momento em que a ponte elevadiça se abre para a passagem de um veleiro. O desejo do produtor era filmar o voo do carro com as partes da ponte separadas.
E Ciro, após analisar o tempo de abertura e fechamento da ponte com os profissionais responsáveis pela operação, calculou a velocidade que precisava manter em relação ao tempo de abertura e realizou a voo com êxito. Por ter sido uma cena inédita, foi festejada pelo diretor do filme que, além de cumprimentar pela cena mais empolgante de sua carreira, convidou Ciro e todos para comemorar o voo com um jantar.
A internet revela cenas de algumas exibições de Ciro Bauman. Procure, acesse e empolgue-se com algumas cenas de seus shows.
Luiz Carlos Secco trabalhou, de 1961 até 1974, nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.
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