A dor crônica tem cura? Essa é uma dúvida recorrente na prática de consultório, assim como os pacientes questionam o que poderá ser considerada uma dor crônica.
Enquanto médico especialista em Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos Oncológicos, com atuação por mais de duas décadas na Clínica de Dor, referência no Estado do Rio Grande do Sul, afirmo que, quando a dor persiste por mais de três meses, pode ser diagnosticada como dor crônica, a partir de uma minuciosa avaliação.
Cabe informar que, segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 30% da população mundial sofre com algum tipo de dor crônica, sendo que, no Brasil, são diagnosticados mais de dois milhões de casos por ano, tendo como as mais comuns, as dores músculo-esqueléticas. Porém, mesmo incurável, a boa notícia é que esse tipo de dor pode ser atenuada, possibilitando ao paciente amenizar o sofrimento físico e, por consequência, o emocional, pois a continuidade da dor desestabiliza o indivíduo em todos os aspectos da sua vida: social, afetivo, laboral.
Cabe considerar que o tratamento da dor crônica é um projeto bastante dinâmico em função de sua característica complexa e do prejuízo que ela pode estabelecer ao longo do tempo, comprometendo a capacidade de funcionamento de vários sistemas, entre eles a memória, a imunidade, a pressão arterial, a glicemia.
Ressalto que, após diagnosticada a síndrome dolorosa, é imprescindível que o paciente tenha um acompanhamento a longo prazo para que se possa monitorar o aspecto físico-motor e optar pelas modalidades terapêuticas adequadas e, se necessário, fazendo substituições ou ajustes no tratamento medicamentoso, que inicia por modalidades simples até as mais complexas, conforme a resposta clínica e, se houver indicação, devemos associar diferentes técnicas.
A prescrição do tratamento também leva em consideração a eficácia e o menor efeito adverso possível, ou, em alguns casos, nenhum efeito colateral. Da mesma forma, pode-se optar, se necessário, por tratamentos mais invasivos e complexos para controle da dor, assim como os bloqueios analgésicos. Portanto, uma vez alcançada a estabilidade do quadro de dor, maiores serão os intervalos entre as consultas.
É importante enfatizar que a medicina considera a dor crônica como uma doença própria, sem cura, mas que pode atingir a remissão, ou seja, a ausência de sintoma doloroso. E não somente como um sintoma indesejável que perdura para o restante da vida.
Por isso, é imprescindível que o especialista tenha a compreensão e a dimensão da experiência física e emocional vivida pelo paciente para que possa buscar, se necessário, um acompanhamento multidisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas, para que, juntos, se amenize o sofrimento do paciente e, por consequência, promova uma melhor qualidade de vida ao indivíduo.
Luciano Machado de Oliveira é médico especialista em Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos Oncológicos – Oliveira Rizzo Clínica de Dor – Caxias do Sul e Porto Alegre. É membro da Clínica de Dor do Hospital Moinho de Ventos Porto Alegre.