No ano de 1978 foi publicado, em coedição do Instituto Estadual do Livro e a Editora da Universidade de Caxias do Sul, um livro de poemas de Olmiro Azevedo (1895 – 1974), intitulado Vinho Velho. Ele havia falecido quatro anos antes e deixado a coletânea de poemas organizada, com esta apresentação cheia de humor:
EU ME EXPLICO
Dos meus dois primeiros livros – VEIO D’ÁGUA e VINHO NOVO – esgotados hoje, ou sumidos, fiz esta seleção de VINHO VELHO, à qual acrescento, por fim, outros poemas de dias idos e vividos. Não sou de Caxias do Sul, como pensaram Agripino Grieco e Tristão de Ataíde. Filho de Montenegro, criei-me em Cruz Alta, na vivência dos campos de meu pai. Vim para a serra quando a mocidade me sorria. Penetrei-me do ambiente, dos homens e das coisas do planalto. Tudo observei, e, mais ainda, senti comovidamente.
[...] Foi por isso, talvez, que falei baixinho tantas vezes, comigo mesmo, e com ternura, a riscar traços no chão, esquecido, à sombra dos vinhedos.
Como dá para ver, essa apresentação já é um poema. Sua poesia mereceu o aplauso de Agripino Grieco e de Tristão de Ataíde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima), que eram os críticos mais famosos e respeitados do movimento modernista, dando-lhe projeção nacional.
Fui honrado com o convite para escrever um prefácio para esse VINHO VELHO, onde afirmei:
“A cidade em que ele fez seu ‘pouso’ não deve esquecer este seu poeta. Ela lhe deve um punhado de imagens de que só a memória de que é dotada a poesia poderia preservar. E uma cidade só é verdadeiramente humana quando seus habitantes possuem uma memória comum. Olmiro de Azevedo contribuiu substancialmente para a criação dessa memória. Os outros, os que não são da cidade, encontrarão nos seus poemas um testemunho sobre a importância de se identificar com os homens e as coisas com que se convive”.
Como amostra, vai o trecho inicial do Poema da Terra Loura e Verde, que faz a abertura do livro:
Eu canto a terra loura e verde
em que fiz meu pouso,
entre os simples que amam o vinho e a charrua.
Eu canto a terra loura pelos trigais maduros
e o milharal que esplende nas espigas cheias,
à hora da fartura.
Basta isso para ver que os críticos literários da capital do país tinham razão em ficarem deslumbrados com nosso poeta serrano!
O poeta serrano Olmiro Azevedo (Foto: Divulgação)
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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