Caxias do Sul 25/11/2024

Coronavírus: o inimigo que nos espreita não vem do comércio

Por mais uma semana, novamente, o direito de abrir as portas nos foi tirado
Produzido por Idalice Manchini , 23/07/2020 às 09:48:29
Foto: Julio Soares

Já se sente o gosto amargo e incômodo de uma semana de portas fechadas, das incertezas em responder os questionamentos dos funcionários que anseiam por trabalhar, dos dias sem atender os clientes presencialmente na modalidade classificada "não essencial" para o comércio varejista. Por mais uma semana, novamente, o direito de abrir as portas nos foi tirado.

Pergunto-me se o vírus tirou uma folga, já que não havia comércio aberto no centro da cidade e shoppings para que ele circulasse. Personagem que assombra nossos dias há meses, o coronavírus fica à espreita só no aguardo de um passo em falso, de um deslize mínimo para atacar.

Curioso: o comércio ficou fechado, mas o inimigo não ficou à toa. Seguiu seu rumo ao infectar pessoas e tirar vidas de caxienses. Os números não foram contidos. Pudera ter desaparecido, mas o alvo estava a olhos vistos. Bandeira vermelha, estabelecimentos comerciais impedidos de atendimento presencial, população circulando pelo centro da cidade. Essa equação de fatores fez o vírus se movimentar, mesmo com o comércio fechado.

Para nós, comerciantes, a última semana de comércio varejista não essencial fechado serviu para comprovar que o risco de contaminação do coronavírus não vem de um segmento específico. A vida não para. Pessoas se deslocam, sozinhas, acompanhadas, com familiares e em grupo. A regra de uma pessoa da família para comprar no comércio "essencial" é solenemente ignorada. Desses, muitos seguem desrespeitando os protocolos de saúde determinados para conter a disseminação do vírus, andando sem máscara com tranquilidade.

Contaminar-se com o coronavírus requer exposição sem a proteção recomendada. Assim, a contaminação não está diretamente relacionada com a abertura do comércio porque depende também da forma como as pessoas se posicionam frente ao combate à pandemia e às suas necessidades de consumo.

De nossa parte, o comércio vem colaborando para preservar a saúde dos caxienses ao cumprir os protocolos de saúde estabelecidos pela OMS para a COVID-19 para evitar a propagação do vírus, obedecendo a orientação da utilização de máscara, tanto dos funcionários quanto dos clientes, o uso do álcool gel nos estabelecimentos, cumprindo as regras para a prova de roupas e também contribuindo para evitar aglomeração de pessoas, limitando o número de clientes no interior da loja. Esses cuidados reforçam o argumento de que o comércio oferece segurança aos clientes para manter as portas abertas, independente da bandeira vigente.

Defendemos o nosso direito de atender os clientes com 100% de funcionários para a bandeira amarela, 50% na laranja, 25% na vermelha e para a preta comércio fechado. Essa é uma saída coerente para que possamos manter os postos de trabalho: após mais de 100 dias nessa gangorra precisamos buscar um equilíbrio entre a saúde e a economia. E vale lembrar que o comércio varejista dito não essencial é o que tem se empenhado mais em controlar o número de pessoas com acesso aos estabelecimentos para que façam as compras sozinhas, sem expor crianças e idosos.

Defendemos portas abertas. Hoje é permitido aos comerciantes manter em funcionamento apenas o comércio eletrônico, drive thru, take away e a tele-entrega, com 25% dos trabalhadores, como modalidade exclusiva de atendimento, para comércio de rua e shoppings. Defendemos o direito de abrir com 25% dos funcionários em bandeira vermelha. Afinal, essas decisões deveriam ser tomadas por quem conhece a realidade de Caxias do Sul: o poder executivo municipal e não o Estado, que desconhece as particularidades do comércio local.

Infinitas são as soluções para que um segmento não seja penalizado sozinho por um vírus que afeta todos, sem distinção. Alternativas para tornar o comércio mais sustentável enquanto a economia sofre duras perdas não faltam. Basta investir em bom senso e em regras que possam ser aplicadas à realidade.

* Idalice Manchini é presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Caxias do Sul