Por Eulália Isabel Coelho
“Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver a alma”. A afirmação do Nobel de Literatura George Bernard Shaw (1856-1950) estima nossa necessidade fundamental de experiências artísticas. O cinema, fonte inesgotável dessa prática, nos envolve e sensibiliza precisamente quando nos toca a alma.
Na coluna de hoje, trago sugestões de duas plataformas de streaming voltadas ao que convencionamos chamar de Cinema de Arte. Aquele que passa longe de Hollywood e se afirma com linguagem, técnica e estética diferenciadas. E que nos levam à reflexão, abrindo inúmeras possibilidades de leitura.
São a MUBI e o Belas Artes à la Carte, salas de cinema virtuais, com um toque de cineclube.
Ambas são fontes de entretenimento seletivo, com curadorias que investem em filmes cult, clássicos, independentes e premiados, voltados aos cinéfilos de carteirinha e aos espectadores que buscam, ainda que eventualmente, obras com essas características.
Trata-se de um universo à parte que contrasta com o que é oferecido pelas demais plataformas de conteúdo audiovisual. Um passeio pelos dois sites revela acervos únicos e encantadores. Você pode experimentar as plataformas por um período de teste gratuito.
MUBI
Beginning é um dos destaques de janeiro
A MUBI, que nasceu há 13 anos com um repertório pequeno, conquistou o público carente de Cinema de Arte, atuando com um certo caráter cineclubista que foi crescendo ao longo do tempo. Conheça a plataforma AQUI
O streaming funciona com uma biblioteca de 30 obras em cartaz por mês. Todos os dias entra um novo título e sai outro, em um processo de movimento circular. O catálogo traz obras-primas, filmes de grandes diretores, curtas, documentários, obras experimentais, além de filmes recém-saídos de festivais internacionais.
Um dos destaques de janeiro na plataforma é Beginning, de Dea Kulumbegashvili, que entra em cartaz com exclusividade no dia 29. Indicado oficial da Geórgia ao Oscar 2021, a obra marca, segundo a crítica especializada, o grande talento da cineasta estreante. O filme é vencedor da Concha de Ouro do Festival de San Sebastián.
Confira os destaques em cartaz na MUBI nesse mês:
Especial Wim Wenders.
Dedicado a um dos cineastas mais importantes do Novo Cinema Alemão.
Entram em cartaz três de suas obras: os documentários Room 666, de 1982 e Tokyo Ga, de 1985, ambos relacionados à arte cinematográfica com grandes diretores entrevistados. No espectro ficcional, entra um de seus filmes mais famosos, Asas do Desejo, de 1987, pelo qual recebeu a Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes.
O aclamado diretor alemão Wim Wenders
Retrospectiva Éric Rohmer (1920-2010).
Dedicada ao lendário cineasta francês, que recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza em homenagem à sua carreira, em 2001. A seleção começa com O Signo de Leão, primeiro longa-metragem do diretor, de 1962.
Éric Rohmer, nome crucial da Nouvelle Vague
MyFrenchFilmFestival.
A plataforma exibe a seleção de 33 filmes que inclui o recente drama de Aude-Léa Rapin, Heróis Nunca Morrem, de 2019.
Essa é a 11º edição do festival que ao final distribui os seguintes prêmios: Grande Prêmio do Júri Internacional, Prêmios do Público, Prêmios da Imprensa Internacional.
Heróis Nunca Morrem, drama se passa em Sarajevo
BELAS ARTES À LA CARTE
O Belas Artes à la Carte surgiu no final de 2019 e arrebatou o público durante a pandemia. O segmento faz parte do tradicional cinema de rua paulistano Petra Belas Artes, cuja programação é voltada ao melhor da cinematografia mundial. Conheça a plataforma AQUI
O acervo funciona de forma permanente, ou seja, o assinante pode ver e rever seus filmes prediletos quando quiser, ao contrário das plataformas globais que retiram periodicamente obras de seus catálogos.
Com gêneros, décadas e estilos diferentes, obras premiadas e clássicas, o streaming brasileiro oferece aos cinéfilos um material qualificado e muitas vezes raro. Entram em cartaz quatro novos títulos toda semana. São disponibilizados também filmes para aluguel por 72 horas, como em uma videolocadora.
No À la Carte, a criatividade é evidenciada na titulação das seções, criando, assim, um jogo de ludicidade com o assinante: “Preparem seus Lenços”, “Hahaha”, “Divos”, “Mulheres Maravilhosas”, “Filmes Cabeça” e “Além do Arco-Íris”, são alguns deles.
“Se você nunca viu um filme cult, comece por aqui” é um segmento especial do À la Carte, com obras para iniciação de cinéfilos.
Lá você encontra títulos como Trens Estreitamente Vigiados, do tcheco Jiri Manzel, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1968, e Quando Voam as Cegonhas, de 1957, do cineasta Mikhail Kalatozov, único filme russo a receber a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Cena do filme premiado Quando Voam as Cegonhas
Confira os destaques em cartaz no À la Carte nesse mês:
MyFrenchFilmFestival, que está na MUBI, também integra a programação do À la Carte até 15 de fevereiro com longas, curtas e obras de realidade virtual. O Festival é gratuito para assinantes ou não, e todas as obras são legendadas em dez idiomas.
Entre os concorrentes se sobressai Camille, drama inspirado na história real de uma fotojornalista que morreu aos 26 anos cobrindo conflitos na República Centro-Africana em 2014. A atriz Nina Meurisse, que interpreta a protagonista, foi indicada ao prêmio César de Melhor Atriz.
Camille, obra do francês Boris Lojkine
A Árvore dos Frutos Selvagens, do premiado diretor turco Nuri Bilge Ceylan, é destaque no cardápio de janeiro. O título do filme é o do livro que o protagonista deseja publicar. Estão no elenco Dogu Demirkol, Murat Cemcir e Bennu Yildirimlar.
A Árvore dos Frutos Selvagens, um olhar intimista
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Eulália Isabel Coelho é jornalista, professora de cinema e escritora
bibacoelho10@gmail.com
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