Com o título acima em italiano, foi publicado em Roma um livro por ocasião do Centenário da Imigração Italiana em nosso país, com a primeira parte do volume dedicada à vida dos italianos no Rio Grande do Sul.
O texto-chave é uma longa crônica do professor Gaetano Massa, organizador da obra, que contou com pesquisa de Rovilio Costa e equipe, feita na Colônia de Alfredo Chaves, hoje Veranópolis. Os motivos, segundo Gaetano Massa, foram estes:
A Colônia de Alfredo Chaves, em particular, conservou quase intactos os costumes primitivos. O Rio Das Antas, que a separava das outras colônias, era difícil de atravessar, assim os colonos viveram quase isolados até os anos ’50. Foi só então que a construção de uma ponte sobre o rio permitiu aos habitantes da colônia ter contatos mais frequentes com outros povoados mais integrados na vida do país.
As anotações que seguem são constituídas pelas narrações esparsas dos próprios emigrados e reproduzidas da forma mais acurada possível. Os resultados da pesquisa foram expostos na publicação de um livro de extremo interesse histórico, cultural e sociológico. (COSTA, Rovílio e outros. A Imigração italiana no Rio Grande do Sul. Vda, Costumes e Tradições. Porto Alegre, EST São Lourenço de Brindes, 1975).
Gaetano Massa, com base nessa publicação, elenca os seguintes itens dos costumes coloniais, traduzidos para o italiano:- A importância da água - Construção e modelo das casas - Material de construção - Os móveis - O fogão - A constituição familiar - Datas e comemorações – Aniversários – Casamentos - Festas - Medicina, saúde e higiene - Remédios familiares – Alimentação – Vestuário – O café – A polenta – O filó – A colheita do grão – A vindima – A luz – O açúcar – O arroz – Vida familiar – A religião – Amizade – Namoro – Noivado – Matrimônio – Matrimônio de viúvos – Recreação – Comércio – Transportes – Os tropeiros.
Para dar uma ideia do sabor dessa coleta feita para publicação em Roma, vai aqui a tradução de um trecho do item Transportes:
A carreta era o meio de transporte, talvez o único para cargas pesadas, e era puxada por cavalos ou bois.
O emprego do boi era característico das zonas montanhosas. Os carreteiros profissionais que transportavam madeira ou mercadorias faziam as viagens com seis ou oito mulas; algumas eram de reserva e substituíam as que cansavam ou adoeciam durante a viagem. Antes de partir preparavam o necessário para vários dias: comida e bebida para eles e para os animais, além da capa para se protegerem da chuva. Tinham certeza da hora da partida mas ignoravam a do retorno, as estradas eram dificultosas sobretudo por causa dos banhados. Entre os carreteiros havia uma grande solidariedade: ajudavam-se nas dificuldades e se a alguém acontecia alguma coisa, avisavam imediatamente os familiares.
A vida dos carreteiros era dura e ingrata: quase sempre fora de casa, enfrentando o frio, o vento, a chuva o sol e comendo geralmente, durante a viagem, pão, queijo e salame, e às vezes suportando a fome.
Também em minha família ficou um drama de carroceiro na história. Meu tio-avô, de nome Aurélio (nome que emplaquei no personagem Aurélio Gardone, do meu romance O Quatrilho), morreu num acidente de carreta na entrada de Ana Rech.
O irmão dele, meu avô Guilherme, preferiu ser tropeiro, viajando entre Nova Vicenza e Conceição do Arroio – levando queijo, salame e vinho, e de lá trazendo rapadura, banana e cachaça. Mudou-se para lá com a família e iniciou um processo de integração com a cultura luso-açoriana, raízes de onde eu venho...
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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