Nada pode ser tão prático. É a comida do café da manhã, do café da tarde, da parada de ônibus. É o alimento de quem não tem tempo. É o alimento atemporal.
Todas as culturas humanas desenvolveram algum tipo de pão. É o alimento sagrado, o símbolo por excelência da nutrição. Os rituais canibalísticos da Igreja Católica (“este é meu corpo”, diz que disse Jesus) são realizados com algum tipo de pão. A hóstia nada mais é do que a simbolização de outro símbolo: o pão.
Quando comemos pão, não comemos apenas farinha e água. Quando comemos pão, estamos comendo a História.
O prazer do pão (atenção, estrangeiros, para a pronúncia desse ã) aumenta ainda mais quando nós mesmos o produzimos. Fazer pão não se limita a um ato primitivo, como assar carne, mas se abrange num ato metafísico: é um ritual, uma celebração ecumênica da vontade de continuar, apesar de tudo, vivo.
Pão é divindade. Pã, o deus do mato, imprevisível e por isso temido. Em grego, pan representa o todo. E, no mundo anglosaxão, pun: o deus do trocadilho.
É preciso não confundir o (atenção estrangeiros) pão duro com o pão que o diabo amassou. O pão duro é facilmente amolecido com um chazinho de cidreira. E o pão que o diabo amassou não tem nenhum problema, pensa quanto forno bom que esse cara tem.
Segue a receita: mistura farinha e água. Sal e fermento, talvez. Molda como quiser e coloca pra assar. Está pronto quando estiver dourado.
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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