Caxias do Sul 21/11/2024

Chegada a Tubarão

Cônego Donato atinge a meta de submergir nas águas termais que movimentam o turismo na cidade catarinense
Produzido por José Clemente Pozenato, 12/09/2024 às 09:15:04
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

De Araranguá a Tubarão, registra o Cônego Donato, “há dez estações de trem, que são: Araranguá, Morretes, Sangão, Criciúma, Içara, Esplanada, Morro Grande, Jaguaruna, Congonha e Tubarão. As mais importantes são Tubarão, Jaguaruna, Esplanada, Criciúma e Araranguá”.

Essa ferrovia catarinense teve sua construção iniciada em 1880, ainda no tempo do Império, para transportar o carvão da região de Criciúma. Até hoje o trem maria-fumaça anima o turismo das cidades ao redor das águas termais de Tubarão. Turismo que já tinha vitalidade naquele ano de 1937. Mas voltemos ao relato original, com detalhes curiosos sobre os costumes do local, e onde ficou registrado que pessoas de Caxias e de Bento Gonçalves iam até lá para curtirem os banhos.

Chegados a Tubarão nos hospedamos no Hotel Cascaes: eram cerca de onze horas da manhã. Ao meio-dia almoçamos e depois fui até a casa canônica pedir licença para celebrar a missa na Capela de São Sebastião, que dista cerca de dois quilômetros do lugar dos banhos. O pároco de Tubarão é um religioso da Congregação do Sagrado Coração de Jesus, vindo da Alemanha, um sacerdote muito zeloso. Na casa canônica conheci dois outros sacerdotes, um nascido na Alemanha e o outro no Brasil.

Na estação de Tubarão encontrei o Sr. Ettore Pezzi, de Caxias, e Ernesto Rubbo, que mora em Canoas. Este último eu o conheci em Bento Gonçalves no ano de 1906 quando eu era Vigário daquela paróquia. Ele é agora bastante rico e vive de renda.

[...] Finalmente depois das três da tarde chegamos à estação de Guarda, que dista cerca de meio quilômetro do lugar dos banhos termais. Guarda não é propriamente uma estação, embora tenha também telégrafo. [...] Chegando ao lugar dos banhos encontrei o Sr. Giuseppe Ricardo Cornelli, dono dos banhos, que já passou dos sessenta, viúvo com filhos que moram com ele, homem com bastante saúde e bom conversador. Ele não fala de outros assuntos, a não ser da água termal, e conta coisas maravilhosas de curas, e diz que aquela é uma água santa.

[...] Dá para ver que este lugar de banhos está crescendo. O Sr. Cornelli quer que nos banhos, que são pequenos quartos com tanques de cimento, haja um pouco mais de higiene. Uma senhora de certa idade é encarregada de lavar os tanques depois da saída do banhista, mas esses tanques de cimento não duram muito tempo, porque a água termal as corrói e, como me disse o Sr. Cornelli, deverá trocar e colocar outros melhores.

[...] O clima nessas paragens é bastante ameno, quase nunca cai geada no inverno, de modo que os colonos colhem feijão até no mês de maio. Neste ano os tijolos foram vendidos a 45$000 ao milheiro, que é um preço bem alto, enquanto em outros anos eram vendidos por 20$000 ao milheiro. Dessa maneira podem ser construídas aqui casas de material. Os tijolos vêm transportados de Laguna e depois com barcos a vapor vão a Florianópolis.

À noite às vezes com a luz de uma lâmpada a querosene se podia fazer um jogo de cartas, porque ainda não há ali luz elétrica. Próximo aos banhos há uma corrente de água que desce de uma montanha, de modo que se poderia facilmente obter luz elétrica. Perguntei ao Sr. Cornelli por qual motivo não tinha ainda instalado luz elétrica e ele me respondeu assim: “Veja, Padre, tenho medo de que, represando a água que desce do monte, ali se criem mosquitos”.

Um argumento do qual o Cônego Donato não discordou, porque os mosquitos continuavam sendo uma ameaça permanente para as suas noites de sono, no decorrer de toda a viagem...

(A SAGA SEGUE NA SEMANA QUE VEM)

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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