No texto anterior, escrevi que a figura de Celeste Gobbato, um dos mentores da Festa da Uva, merecia ser mais exposta ao conhecimento de todos, tão importante foi sua atuação para a cidade de Caxias do Sul, para o Rio Grande do Sul e o Brasil.
Está à disposição, para tanto, uma publicação da EDUCS (Editora da Universidade de Caxias do Sul), em formato e-book, de autoria de Katani Monteiro: Entre o Vinho e a Política: uma biografia de Celeste Gobbato (1890-1958).
A autora começa a biografia relatando que, desde menina, deparou com o nome de Celeste Gobbato. Era uma rua, no Bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, onde a “gurizada” da escola se reunia para brincar. Ir brincar na “Celeste” era “sinônimo de muita diversão” à beira do Guaíba. Mas hoje, também lá, ela é conhecida apenas como “a rua do Fórum”.
Foi essa experiência de infância, confessa Katani Monteiro, que a levou a escolher o relato da biografia de Celeste Gobbato como tese de doutorado em História, por ela defendida na Ufrgs. Uma tese a que não escapa nenhuma fonte de dados: de Caxias do Sul, do Estado, do Brasil, da Itália.
O visionário Celeste Gobbato (Foto: Geremia/Divulgação)
Uma pesquisa que contou também com o grande volume de escritos de Celeste Gobbato, publicados no Brasil e na Itália. E, para concluir com sabor não apenas de arquivo, cita entrevistas oferecidas pelos seus três filhos – Lydia, Tito e Piero Gobbato –, que colocaram à disposição o acervo particular da família.
O resultado da investigação não é uma coleção de minúcias. Na passagem da tese para o livro, Katani Monteiro constrói uma narrativa que transpõe a formalidade acadêmica para dar a dimensão contextual da trajetória de Celeste Gobbato, com o desenho de sua personalidade.
O título da obra, Entre o Vinho e a Política, resume seus dois campos de atuação. Como enólogo, Gobbato difundiu uma política da produção de vinho por todo o país. Como político, pôs o calor do vinho nas ações de governo, tanto no período em que foi intendente de Caxias como durante seu mandato de deputado. Mas é possível que a atuação política tenha servido de motivo para descer uma sombra sobre sua figura,..
Na minha avaliação, foi ele o grande mentor e estrategista da Festa da Uva. Até mesmo os dois cenários da Festa – o de um lugar para exposições e o de um corso alegórico pelo centro da cidade – vieram dele. O carro alegórico da Estação Experimental de Viticultura e Enologia desfilou com toda a pompa na Festa da Uva de 1933, enfeitada com ninfas e ramos de videira!
Carro alegórico da EEVE na Festa Regional da Uva de 1933, que Celeste Gobbato presidiu. (Foto Geremia. Coleção: Celeste Gobbato. Acervo: IMHC/CEDOC/UCS/Caxias do Sul)
Não por acaso era Celeste Gobbato o diretor da Estação Experimental e também o diretor da Festa da Uva daquele ano. Um nome para ser exaltado, à espera de maior reconhecimento.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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