Não, Caxias do Sul não está parada. Não, o clima de quarentena não transformou a cidade num território fantasma como em alguns lugares da Europa e dos Estados Unidos. Não, as pessoas não saem de casa apenas para ir à farmácia e ao mercado, conforme aconselham as entidades de saúde e os decretos municipais.
É só dar uma circuladinha pelo seu bairro, mesmo que a caminho do super, para identificar pequenos estabelecimentos abertos. Borracharias, serrarias, oficinas mecânicas, lojas de material elétrico e outros negócios de fundo de quintal. Alguns, operando de forma discreta.
A prefeitura de Caxias já flexibilizou o último decreto, regulamentando a abertura de padarias, lotéricas, comércio de insumos agrícolas, veterinárias, óticas, clínicas de saúde, feiras de agricultores e serviços registrais. Porém, seguem suspensas as atividades em indústrias, construção civil, a maioria dos estabelecimentos comerciais e de serviços, shopping centers, agências bancárias e hotéis.
O site recebeu denúncias de espaços que deveriam estar fechados por decreto, mas que burlam de alguma forma a medida e funcionam. Falta fiscalização para fazer valer as regras pelos órgãos públicos. Mas não é o momento de apontar dedos nem de acusar.
Vamos aos fatos:
O coronavírus, a partir do que estamos assistindo em países europeus que empilham corpos em caminhões frigoríficos, precisa ser levado muito a sério.
O pico do vírus ainda não foi atingido no Brasil, país de dimensões maximizadas, e coloca interrogações frente a um futuro que pode ser incontrolável e trágico por falta de leitos e equipamentos hospitalares.
Mas também é impossível negar que:
Pequenos empresários e profissionais liberais estão à beira de um colapso financeiro, o que os deixa cegos de preocupação com as contas que se somam, com as dificuldades de manter suas famílias e com a iminência de ter de demitir ou fechar as portas.
Entre o risco de contaminar-se pela Covid-19 e de ir à falência financeira, numa região que sempre enalteceu o “lavoro” como herança dos imigrantes italianos, o temor às vezes é de proporções muito parecidas. Por isso, muitos burlam as regras e vão à luta. É possível condená-los? Não. É possível absolvê-los? Não. Há culpados? Não.
Qual a solução? Estão nas mãos dos governantes medidas de socorro que representem um suspiro de lucidez a quem sempre pagou impostos, gerou renda e empregos e agora suplica por esperança num momento de desespero. Patrões e empregados estão no mesmo barco. O vírus avança. A palavra, e mais importante, as ações parecem distantes de nossas (agora sempre higienizadas) mãos.