Qualquer segmento do varejo, seja ele do tamanho que for, tem as perdas como um grande vilão. Elas representam, em média, algo em torno de 2% sobre o faturamento líquido, mas esse índice pode variar de acordo com o setor.
O varejo tradicional supermercadista tem perdas de 2,37%, e as áreas de moda e farma registram, respectivamente, 1,18% e 1,13%, como aponta a Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe). Em uma operação de bilhões, esses números podem chegar a milhões de reais.
Para combater as perdas, já se sabe que implantar um bom plano de prevenção é fundamental. Mas isso vai muito além do simples querer, é preciso ter vontade (desde a própria diretoria) para começá-lo. Os resultados, certamente, virão.
Assim, elenco cinco erros que a maioria das empresas comete e que diminuem a margem de lucro dos negócios.
1 - Não conhecer o negócio
Parece óbvio, mas, não é. Diariamente, muitos empresários, executivos, empreendedores e gestores tentam fazer gestão da prevenção de perdas em seus negócios sem conhecer como tudo funciona. É preciso conhecer os detalhes de cada operação, em especial, qual é a proposta de valor que a sua empresa entrega para os clientes. A partir desse ponto, ter uma visão da cadeia de processos de valor que leva a isso.
Uma forma de conhecer o negócio é ter um mapa de processos macro e a descrição de como cada um desses processos contribui para a entrega da proposta de valor da empresa. Conhecendo os processos macro, é possível propor soluções que melhorem a margem, porque fica claro onde estão os pontos críticos de riscos de perdas.
A margem de lucro é uma consequência de uma proposta de valor entregue com excelência e eficiência.
2 - Não medir suas perdas
Um jargão do mundo corporativo é que não se gerencia aquilo que não se mede. É importantíssimo a medição das perdas corporativas, sejam de estoque, financeiras, comerciais, legais ou quaisquer um dos oito tipos de perdas que afetam uma empresa.
É inadmissível gerenciar perdas com base em achismos. Quanto melhor o processo de medição delas, melhor a qualidade e maior a acuracidade, mais assertivos serão os planos de ação para gerenciar o negócio. Quando falamos de perdas de estoque, é importante destacar que o foco deve ser identificar ao máximo as perdas:
Quanto maior a participação percentual das perdas identificadas, melhor será o plano de ação para redução das perdas de estoque, porque a(s) causa(s)-raiz(es) fica(m) mais evidente(s).
Quanto maior a participação percentual das perdas desconhecidas, menos assertivo será o plano de ação para redução das perdas de estoque, porque fica mais difícil identificar a(s) causa(s)-raiz(es).
Uma medição profissional e eficiente das perdas corporativas orienta a empresa a uma gestão de ações que melhorem a margem de lucro dos negócios.
3 - Apontar os erros sem indicar soluções
Faz parte do processo de melhoria contínua identificar inconformidades, mas, sobretudo, propor a reflexão e a análise dos pontos identificados. Para isso, é possível utilizar ferramentas conhecidas como Diagrama de Ishikawa, PDCA, 5W2H, Matriz SWOT e claro, o Pentágono de Perdas.
Apontar o erro por apontar, para indicar o culpado, focar na pessoa, é errado. O correto é focar no processo e seguir essa ordem dos passos para melhoria contínua: Identificação, Padronização, Medição, Análise, Inovação, Engajamento e Feedback.
E assim, a redução e manutenção das perdas corporativas em níveis que melhorem a margem de lucro da empresa se torna possível e profissional.
4 - Comprar soluções mágicas
Não existem soluções mágicas! Existem metodologias que levam a um plano estratégico que possui um conjunto de ações que irá melhorar a margem do negócio através da prevenção de perdas. A aplicação de ações que afetem os pilares Pessoas, Processos, Auditoria, Tecnologia e Indicadores leva a uma execução que tem maior probabilidade de êxito.
Ao buscar qualquer tipo de solução, lembre-se sempre de pedir ou calcular o ROI, conhecido como Retorno Sobre Investimento. A fórmula para isso é muito simples: ROI = (ganho obtido – investimento inicial) / investimento inicial. O ganho obtido pode ser estimado para a determinada ação ou solução. Mas é de suma importância que todo projeto tenha o acompanhamento desse indicador, acompanhado de outros como produtividade, lucratividade, por exemplo, e assim, entenda-se se a solução é eficiente ou não.
5 - Tratar a dor sem saber a doença
É como na vida pessoal, se você está com dor de cabeça, não necessariamente a dor está na cabeça! Dor, segundo definições, é “uma sensação desagradável que sinaliza lesões reais ou possíveis”. Enquanto doença é uma “alteração biológica do estado de saúde de um ser (homem, animal etc.), manifestada por um conjunto de sintomas perceptíveis ou não; enfermidade, mal, moléstia”.
Preste atenção nessa parte da definição de doença: manifestada por um conjunto de sintomas perceptíveis ou não. Ou seja, a doença (perdas corporativas) nem sempre se manifesta por sintomas perceptíveis. E nem sempre a dor indica qual é a doença.
Para tratar a doença (e a dor) é preciso um diagnóstico (avaliação) e a análise de exames (números) para então determinar as possíveis patologias (“pathos” = sofrimento e “logia” = estudo) que, então, serão objeto de avaliação para o tratamento correto. Em uma empresa, é a mesma coisa.
E agora reflita: quais desses erros você comete na gestão de prevenção de perdas e que afetam a margem de lucro da sua empresa?
Anderson Osawa é CEO da AOzawa Consultoria, especialista em governança Operacional e Corporativa, palestrante, consultor, professor da FIA Business School e autor do livro “Pentágono de Perdas: Transformando Perdas em Lucros”.