Este ano vai ficar na história da literatura serrana, rio-grandense e brasileira com uma marca especial: o lançamento de Montanhas Azuis, outro livro inédito de poemas deixado por Oscar Bertholdo (1935 - 1991). O lançamento oficial dessa obra póstuma ocorreu na Feira do Livro de Farroupilha, realizada há pouco, de 7 a 11 de novembro de 2023, na Praça da Emancipação, depois de sete anos de interrupção do evento.
Em matéria publicada pelo jornal O Farroupilha (em 10/11/23), uma sobrinha do poeta, Tânia Bertholdo, que organizou a publicação dessa obra, relata que seu tio, ao falecer, deixou muitos inéditos, a maioria deles já organizados para a impressão. Os cinco herdeiros dividiram esse tesouro, com a responsabilidade de encaminhar sua publicação. A primeira obra a ser publicada foi Bocca Chiusa. Logo depois, o pai de Tânia, de nome Ulisses Bertholdo, decidiu publicar O Fazedor de Lonjuras.
Para a edição deste, em 2011, Tânia Bertholdo me solicitou que escrevesse um prefácio, a que dei o título de “Lonjuras”. E pediu também que fizesse uma revisão do texto original. Duas tarefas que realizei com o máximo de emoção. Uma delas foi a de descobrir em Oscar Bertholdo um poeta que eu não conhecia. O poeta conhecido até então tinha seu olhar concentrado nas paisagens e nos personagens da Serra Gaúcha, marcados pela cultura do imigrante italiano. Nesse livro inédito, o poeta fazia uma viagem pela Europa. Por isso o título de “O Fazedor de Lonjuras”.
Dividido em quatro partes, Bertholdo deu a cada uma delas, escritas a mão na folha de rosto, os seguintes títulos:
a) andei e fiquei andando europeu
b) memorial para o meu vêneto avô Luiz
c) o avesso de dentro
d) de profundis.
Já na divisão dos arquivos originais, aparecem os seguintes títulos definitivos:
1ª parte: O AVESSO DE DENTRO
2ª parte: ALUMBRAMENTO EUROPEU
3ª parte: CANTO DO IMIGRANTE
4ª parte: DE PROFUNDIS.
Na segunda parte, a do Alumbramento Europeu, datado de 1973-1974, ficou registrada no final de cada poema a cidade europeia em que foi escrito, com a respectiva data. O primeiro foi escrito em Padova, em junho de 1973. Os seguintes têm data de novembro do mesmo ano, nas seguintes cidades: Bruxelas, Londres, Veneza, Trieste, Cortina d’Ampezzo, Roma (Fontana di Trevi), Florença, Orvietto, Sorrento, Nápoles, Valle de los Caídos (na Espanha) e Lisboa. A coletânea se encerra com um poema escrito na Úmbria, em maio de 1974.
Em Montanhas Azuis, o tema volta a se concentrar na paisagem serrana. Oscar Bertholdo deixou o livro pronto para a edição, inclusive com prefácio de Jayme Paviani. O texto pode ser acessado por download no site da Editora da Universidade de Caxias do Sul. Lá estão estes dois versos de encantamento:
“Só os poetas sabiam que as montanhas
são realmente azuis em minha terra”.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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