Quando vi a notícia de que 21 de junho é o Dia Internacional do Aperto de Mão, lembrei logo de alguns apertos de mão que recebi e ficaram indeléveis na memória, e não apenas nos dedos. Cada um deles me trouxe uma mensagem diferente, e fácil de ser captada.
O primeiro de que tenho registro foi o do aperto de mão do sublime poeta lírico Mario Quintana. Estava eu cursando mestrado na Ufrgs e o professor Guilhermino César, sempre inventivo, organizou um evento no auditório da Assembleia Legislativa, onde cada aluno deveria fazer uma conferência. A mim coube falar sobre “A essência da poesia lírica”, numa manhã cheia de sol em Porto Alegre.
Para meu encanto, e temor ao mesmo tempo, na segunda fila de cadeiras estava Mario Quintana. Me ouviu o tempo todo sem pestanejar e, quando concluí a fala, veio na minha direção e me deu um aperto de mão macio e prolongado. Sem soltar a minha mão, como se fizesse um pacto de amizade, elogiou a minha palestra que, segundo ele, todos os poetas deveriam conhecer.
O segundo aperto de mão indelével aconteceu no saguão de entrada da TV Globo, no Rio. Na ocasião, estava eu negociando com Daniel Filho e Antônio Calmon a produção do roteiro da novela O Caso do Martelo, para ser gravada dentro do programa de Casos Especiais. Estávamos dentro do prédio quando apareceu, na porta de entrada, ninguém menos que Roberto Marinho, seguido de um grupo reverente de assessores, como se fosse uma corte palaciana. Antônio Calmon me levou até ele, me apresentou e explicou o objetivo de eu estar ali. Roberto Marinho disse: - Seja sempre bem-vindo! - E me deu um aperto de mão tão forte que quase me esmigalhou os dedos.
Comentei com Calmon o que tinha sentido e ele, com seu bom humor costumeiro, me disse: – Ele sempre quer deixar bem claro que é ele quem decide tudo... E sabe como é chamado o escritório dele, aqui na Globo? “Sala do trono!”
O terceiro caso – e isso também faz parte de minha história – aconteceu em Los Angeles, na sala de coordenação da Academia de Cinema. Fui levado até lá no dia da entrega do certificado aos concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O coordenador era ninguém menos que Gene Hackman, astro consagrado nos filmes Operação França, Mississipi em Chamas e outros mais. Ele se levantou de trás da escrivaninha, abriu um sorriso e estendeu a mão. Estendi a mão também e recebi um aperto bem forte, mas amigável. Era como se ele estivesse me recebendo no seu mundo, que é o mundo do cinema.
Em resumo: cada um desses apertos de mão trazia uma mensagem clara, que não precisava ser expressa em palavras. Por isso é que, embora possa parecer estranho, faz sentido haver um Dia Internacional do Aperto de Mão. Esse é um gesto que não apenas aproxima as pessoas como cria algum laço de convivência entre elas. Coisa de que o mundo continua sempre necessitando, e cada vez mais.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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