É dito que, para um artista alcançar a imortalidade, sua obra deve entranhar-se no tempo de tal forma que nunca seja esquecida.
Maradona conseguiu isto.
Esta semana, com a sua partida, parte aquele que talvez tenha sido o maior personagem da história do futebol. Parte o jogador que se tornou mais do que um atleta, que, mesmo fora das quatro linhas, criou um misticismo e uma febre sem precedentes em torno de si.
Com a sua morte, morre o único que ousou desafiar o Rei pelo trono do esporte. Morre uma divindade, também, já que a mão de Deus jamais tornará a operar em benefício do homem, como fez com Don Diego.
Maradona chocou torcedores, calou multidões e provocou o grito na garganta de outros tantos. Maradona uniu a música ao jogo; a religião ao drible; a fé ao chute e ao gol. Através de uma habilidade quase arrogante e poucas papas na língua na hora de exaltá-la, ele moldou gerações de apaixonados por seu futebol.
Seu legado transcendeu países que nem as suas controvérsias puderam macular. De argentinos a italianos, de brasileiros a espanhóis, não havia quem não se encantasse e assombrasse em igual medida com os feitos do Don.
Neste 25 de novembro de 2020, ele encerrou sua passagem por aqui. Mas se engana quem pensa que Don Diego foi vencido – não. Os demônios brancos com quem dançava, e que eram seus inimigos de outras eras, jamais puderam verdadeiramente apagar as linhas escritas pelo futebolista que encantava como se compusesse ópera. Da mesma forma, as polêmicas palavras e certas atitudes jamais puderam verdadeiramente colocar-se à frente do drible, do gingado, da grande visão.
É dito que, para um artista alcançar a imortalidade, sua obra deve entranhar-se no tempo, não é? Sendo assim, Diego Armando Maradona é eternamente inigualável, inatingivelmente atemporal.
Ariel Fedrizzi é professor de inglês. Considera-se “um curioso das palavras, apreciador da força da Língua Portuguesa para construir mundos e contar histórias”.
arielfedrizziescritor@gmail.com