A transformação digital é uma constante e já faz parte da realidade de diversos setores socioeconômicos em todo o mundo. Com a era da tecnologia ganhando fôlego nos últimos meses, as áreas mais tradicionais e que ainda engatinhavam no quesito digitalização perceberam que o uso de tecnologias disruptivas não era o vilão do andamento dos negócios, mas sim grande aliado.
E, na área da saúde, isso não poderia ser diferente. Enquanto há alguns anos eram notórias as incertezas e a resistência em atrelar o uso de ferramentas e conceitos da Indústria 4.0, hoje já é possível identificar uma receptividade maior, impulsionada, principalmente, pela necessidade de encontrar alternativas mais ágeis, rápidas e assertivas para a promoção da saúde da população.
De acordo com a pesquisa Telemedicina no Brasil, mais de 70% dos respondentes afirmaram que continuariam com as consultas via videochamadas mesmo após a pandemia. Contudo, a modalidade, que ganhou destaque devido à necessidade do distanciamento social, ainda não possui uma regulamentação definida e atua até o momento em caráter de exceção.
É importante ressaltar que o recurso não vem para substituir as idas aos consultórios, mas sim como uma alternativa e forma de tornar o cuidado mais seguro, acessível e rápido, tanto para o paciente quanto para o próprio médico.
Mas, muito além do uso desses recursos para o atendimento primário e para o desafogamento dos sistemas de saúde, a tecnologia na área da saúde também tem acompanhado um movimento muito importante: a mudança de comportamento da sociedade.
Com um público cada vez mais conectado e imerso no ambiente digital, as instituições de saúde também devem preparar as suas operações com tecnologias que possam aproximar o cuidado das pessoas, pois a falta de processos simples, dinâmicos e mais acessíveis podem gerar um efeito rebote e, consequentemente, um gargalo de comunicação entre o relacionamento das instituições de saúde e o paciente.
Quem nunca adiou uma consulta, deixou de ir a uma sessão de terapia e até mesmo evitou uma ida ao pronto-socorro por falta de tempo? Pode até parecer um absurdo - e é! -, mas sabemos que isso é mais comum do que deveria. Com isso, o uso de algoritmos que possam direcionar as pessoas para os atendimentos de saúde mais adequados e plataformas que disponibilizam sessões e consultas remotamente, por exemplo, tem sido amplamente discutido e bem aceito no país.
Além disso, recursos que têm grande potencial de expansão na área são a Inteligência Artificial e o Big Data. Capazes de automatizar algumas etapas e fornecer insumos por meio de dados para a tomada de decisão, estas tecnologias têm sido inseridas, principalmente, no suporte à decisão das equipes médicas e assistenciais, assim como na escala do atendimento aos pacientes.
Conectadas com os prontuários eletrônicos e os históricos clínicos, as informações são cruzadas e armazenadas, auxiliando os médicos a chegarem a um diagnóstico e prognóstico mais rápido e assertivo, além de tornar o uso dos recursos mais eficientes nos sistemas de saúde.
Trazer inteligência, conectividade e a tecnologia para o setor, mais do que nunca, tem sido crucial para promover o cuidado e a atenção com a saúde. Se antes os números eram muito mais importantes do que as vidas, hoje a humanização e o investimento em qualidade de vida estão reinando, pois entende-se que a sociedade, de uma maneira geral, pode produzir com muito mais qualidade quando as pessoas estão felizes e bem cuidadas.
Sem dúvida, ainda há muito espaço para a tecnologia crescer na saúde aqui no Brasil e muitas coisas ainda devem ser reformuladas. Todavia, também é possível ver que o uso dessas ferramentas está, pouco a pouco, ganhando as graças do público e fazendo parte de suas rotinas, ficando claro o comprometimento dos profissionais que o atende, a praticidade e o custo-benefício, reforçando que não há razões para que este movimento se encerre junto à pandemia.
*Cristian Rocha é CEO e cofundador da Laura, healthtech que oferece soluções de inteligência artificial para a democratização do acesso à saúde.