Caxias do Sul 22/11/2024

A segurança ao volante a partir de um chip

O Brasil precisa passar a produzir microprocessadores para os seus carros
Produzido por José Carlos Secco, 29/05/2022 às 09:11:07
Foto: ARQUIVO PESSOAL

A indústria automobilística mundial depende dos fabricantes de microprocessadores para dar aos veículos os chips ou microprocessadores que precisam para garantir o funcionamento de todos os sistemas que proporcionam o nível de conforto e, principalmente, a segurança que as montadoras desejam para os seus clientes.

Precisa investir muito, reunir as empresas participantes da produção de veículos, utilizar seus profissionais experientes e fabricar microprocessadores para os automóveis, caminhões, máquinas agrícolas e até implementos rodoviários. E, talvez, fornecer para fabricantes de produtos diversos, como celulares, computadores, refrigeradores, rádios, televisores, enfim, tudo o que depender de microprocessadores, inclusive para o mercado internacional.

Ao consultar experientes engenheiros do setor automotivo brasileiro, especialistas em especificações técnicas, sustentabilidade, emissões e segurança de veículos, eles consideram que a crescente utilização de chips é um caminho sem volta e só será cumprida se os fabricantes se unirem para somar os investimentos necessários e o governo também participar, contribuindo com aportes consideráveis e a concessão de benefícios que ajudem a indústria a superar esse gigantesco desafio.

Esses engenheiros consideram que, quando a indústria automobilística fala na fabricação local de semicondutores, ela depende da participação e incentivo do governo brasileiro, com a criação de incentivos tributários, alfandegários, financeiros, trabalhistas e logística, entre outros, que atraiam os grandes fabricantes para se instalar no Brasil.

Consideram também que o Brasil dispõe de matéria-prima, água abundante, energia limpa e barata e, também, mão-de-obra qualificada. Mas esclarecem que quem mais utiliza os microprocessadores são os grandes fabricantes de autopeças e de eletrônica embarcada.

Esclarecem serem eles que estão com falta desse componente e não conseguem entregar os produtos para os sistemas de injeção eletrônica, computadores de bordo, equipamentos de mídia, sensores e controladores, o que provoca a interrupção da fabricação normal dos veículos.

O Brasil possui importantes empresas fabricantes de componentes e sistemas automotivos, mas, naturalmente, precisarão de ajuda para tornar possível a produção dos microprocessadores cujo uso nos veículos só vai aumentar, e muito.

Também informam que a colaboração deverá ser prestada por todas as empresas interessadas nessa batalha tecnológica.

Nesse aspecto, lembro que o Brasil tem experiência em unir os fabricantes para produzir de forma compartilhada, como a Autolatina (entre a Ford e a Volkswagen) na década de 1980 e, atualmente, a Stellantis, que une a Fiat, Chrysler, PSA (Peugeot e Citroën) e outras empresas do setor com excelentes resultados. Além disso, o Brasil possui as principais fábricas de autopeças mundiais e todas essas empresas já deram mostras dos benefícios proporcionados pela colaboração até agora por elas praticadas.

Inventados inicialmente para os celulares e produzidos, principalmente, por fabricantes asiáticos, os microprocessadores foram adotados por fabricantes de computadores, rádios, televisores, equipamentos de entretenimento, aparelhos domésticos e pelos fabricantes de veículos.

A indústria automobilística é a mais comentada como dependente dos microprocessadores porque os veículos são instrumentos de primeiríssima necessidade para o transporte de pessoas e de produtos em geral, principalmente alimentos e medicamentos.

Do celular a tudo o que as pessoas precisam, dependem dos microprocessadores porque, sem eles, o mundo para. De repente, um minúsculo chip transformou-se em produto de absoluta necessidade porque, carro e qualquer máquina, instrumento ou equipamento moderno, só terá sentido se os chips que garantem o imprescindível funcionamento estiverem à disposição dos fabricantes.

A importância dos microprocessadores é tão grande que a chave que destrava as fechaduras das portas por simples aproximação para o acesso ao interior do veículo, assim como o funcionamento do motor, sistema de alimentação que evita a emissão de poluentes, câmera de ré que dá segurança em manobras, sistema de alerta de que o veículo está fora de sua faixa de rolamento, ar-condicionado, suspensão, rádio, jogos que entretêm as crianças e até o estacionamento automático, sem a participação do motorista, precisam deles para funcionar.

No início da crise, imaginei que, na falta de microprocessadores, os carros poderiam voltar à fase inicial de sua concepção. Até seria possível, mas seria um retrocesso tão grande e complicado para os atuais padrões de produção das fábricas que se torna absolutamente inviável.

Como preservar o meio-ambiente e controlar as emissões sem os modernos sistemas de injeção eletrônica de combustível que neutralizam os gases poluentes que afetam o clima e a saúde das pessoas? E o volante de direção sem o sistema hidráulico ou elétrico, o conforto do ar-condicionado ou a segurança veicular? Todos seriamente comprometidos.

Entre os benefícios proporcionados pelos microprocessadores, já enfrentei episódios nos quais fui salvo pela eletrônica administrada pelos chips.

Há alguns meses, ao me dirigir certa noite ao local de um compromisso, notei que havia esquecido os óculos. Mas, como estava atrasado, decidi prosseguir minha viagem redobrando os cuidados na condução do veículo. Ao me aproximar de um cruzamento, meu carro surpreendeu-me, freando autonomamente e parando sem que eu tivesse tido qualquer interferência.

O sistema de detecção de obstáculos detectou a presença do obstáculo, no caso, um motociclista parado no cruzamento porque o semáforo estava fechado e eu, na pressa, não percebi. O sistema de proteção do automóvel freou o carro, livrando-me de um sério acidente. Devo reconhecer que fui salvo pelo chip.

Ou seja, os microprocessadores funcionam mesmo e, de agora em diante, não se pode imaginar veículos sem eles. O ideal é nos conscientizarmos de que eles realmente são imprescindíveis e proporcionam importantes benefícios para os usuários. E que é preciso que o Brasil crie condições para que possamos produzir os microprocessadores, independizando-se dos fabricantes internacionais que não conseguem atender a todas as marcas.

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José Carlos Secco é jornalista especializado na indústria automotiva e de transportes, diretor da Secco Consultoria de Comunicação, de São Paulo, com atuação inclusive na Serra Gaúcha.

mail secco@secc.com.br

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