Outra conferência marcante no Simpósio de Língua e Literatura Portuguesa, em 1968, no Rio de Janeiro, teve como tema A Poesia de José Régio. Foi proferida pelo Prof. Leodegário Amarante de Azevedo Filho (1927-2011), um ensaísta pernambucano de renome também em Portugal.
Começou justificando a escolha do poeta José Régio, um nome que ficou na sombra do nome de Fernando Pessoa, mas que pode ser considerado o mais importante para a difusão do modernismo na literatura portuguesa. E pôs na tela, pelo projetor, o esquema que iria desenvolver (e que copiei em meu caderno de anotações):
1) O Modernismo em Portugal
2) O grupo de Orpheu
3) O grupo de Presença
4) José Régio no grupo Presença
5) Análise literária e estilística da poesia de José Régio
6) Conclusões
Com a revista Orpheu, em 1914, inicia-se o modernismo em Portugal: dois números apenas saíram. Queriam “escandalizar o burguês”. Dela participaram Sá-Carneiro (que publicou “Dispersão” em 1913) e Fernando Pessoa. Na realidade, foi o legado estético do simbolismo que veio propiciar a estética modernista (isso também no Brasil): O “pauismo”, movimento de vanguarda criado por Fernando Pessoa, nome derivado da palavra “pauis” (pântanos), é puro simbolismo.
Em 1927, em Coimbra, surge a revista Presença, “folha de arte e crítica”. Dela participam J. Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e José Régio. O objetivo da publicação, segundo seus idealizadores, era a “difusão dos postulados estéticos da Orpheu”.
José Régio foi o principal teorizador, com ensaios na revista “Presença”. E também o principal realizador, com a produção de poesia, de ficção (romance, novela e conto), teatro, ensaio e crítica.
O poeta José Régio - 1901/1969 (Foto: Divulgação)
Tem sete livros de poesia. Três “em curva ascendente” (Poemas de Deus e do Diabo, Biografia – sonetos, As encruzilhadas de Deus) e quatro “em curva descendente”, quando decai esteticamente (Fado, Deus é grande, A chaga do lado e Filho do Homem).
As características gerais de sua poesia, na fase ascendente, são:
- umbilicalismo: voltado para si mesmo o pronome na 1ª pessoa;
- dualismo barroco: círculos concêntricos;
- impossibilidade da fé;
- preocupação metafísica de busca do impossível (marca simbolista);
- angústia metafísica da solidão: a comunidade humana é impossível.
- dois polos permanentes: Deus e o diabo, de herança barroca, de concepção filosófica não uniforme: seu Deus ora é imanente, ora transcendente.
Já na fase descendente, as características são:
. temas do cansaço e da solidão
. veio sarcástico e satírico (em "Filho do Homem")
. permanência da infância e da morte (veio barroco)
- dicotomia permanente entre: homem e poeta, poeta e mundo, poeta e sua época, poeta e diabo, tempo e eternidade, altura e abismo, poeta e Deus.
Em resumo, concluiu o Prof. Leodegário, transforma-se em um monocórdico. Mas, mesmo assim, merece um lugar permanente ao lado de Fernando Pessoa.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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