A pandemia da Covid-19 foi dramática na saúde global. Embora o foco tenha sido a mortalidade direta da doença, há repercussão indireta sobre outras condições de saúde como doenças cardiovasculares, psiquiátricas e oncológicas que acabam, de alguma forma, comprometendo a coletividade.
Após a primeira onda de hospitalizações e mortalidade de Covid-19, outras repercussões se tornaram mais aparentes. Houve redução nos encaminhamentos da atenção primária e atrasos no diagnóstico de doenças graves como câncer, por exemplo.
Um estudo da Caixa de Previdência e Assistência dos Servidores da Fundação Nacional de Saúde, com 40 mil pessoas, mostrou redução nos tratamentos com quimioterapia (14%), radioterapias (28%) e exames como colonoscopia e mamografia (35%). O significado prático desse fenômeno é calculado em milhares de vidas perdidas nos próximos anos.
Entende-se que, na incerteza e aprendizado sobre a nova doença infecciosa, medidas foram tomadas para controlar a pressão no sistema de saúde, que nunca esteve preparado para superutilização. A falha de mensagens precisas e claras alimentou uma crise de desinformação de todos os lados e em todo planeta. Conforme se aprende, deve ser responsabilidade dos órgãos de saúde coordenar, orientar e calibrar cada medida sanitária.
Ciência requer dados que são complexos de coletar, levam tempo e requerem uma análise responsável, e a pandemia mostrou essa clara lacuna de evidências, com uma narrativa que politizou uma discussão que deveria ser essencialmente técnica. Covid-19 não é uma entidade biológica isolada, mas agregada a epidemias de saúde mais amplas.
Cada país precisará ajustar seus sistemas, mas obtenção colaborativa de dados científicos sistemáticos e contínuos são cruciais. Ficou mais nítido que a desigualdade e desunião social são devastadoras. Se não aprendermos com isso, seguiremos doentes.
Stephen Stefani é médico oncologista do Grupo Oncoclínicas no RS