Caxias do Sul 22/11/2024

A insustentabilidade do transporte coletivo

Sem prioridade e investimentos, transporte coletivo nunca será sustentável no Brasil
Produzido por José Carlos Secco, 12/03/2021 às 10:30:19
Foto: ARQUIVO PESSOAL

Um ano depois do início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o que poderia ter sido um período pródigo e de evolução para o transporte coletivo nacional acabou, infelizmente, representando o oposto.

Decisões equivocadas, como a redução da frota circulante para manter as pessoas em casa, falta de comunicação direta e esclarecedora com os usuários e perda significativa de receita marcaram o período e colocam em risco o futuro de um dos mais importantes meios de transporte para a sociedade brasileira.

Para o usuário, o serviço oferecido é há décadas ruim ou péssimo, com poucas exceções em algumas cidades brasileiras. Para o operador, não há fôlego financeiro para investir em melhorias, sobretudo na modernização dos veículos, e nem infraestrutura que permita tornar o modal mais veloz, eficiente, seguro e pontual.

A queda de receita registrada desde março do ano passado levou muitos a uma situação de quase inadimplência E na visão dos governos federal, estaduais e municipais, não há recursos no orçamento para mais subsídios e para investimentos. Pelo contrário, o País assiste à batalha entre cada um desses entes, atribuindo a responsabilidade e a solução aos outros.

Nesses tempos de pandemia, os governantes dos poderes executivo ao judiciário, passando pelo legislativo, gritam e reforçam que o foco é o bem-estar, a saúde e a segurança da população. Mas porque essa “verdade” não se aplica ao transporte coletivo se mais da metade da população, sobretudo a mais carente, depende dele para se locomover?

Não há luz no fim do túnel! Neste ritmo e com esse direcionamento, o transporte coletivo público continuará a perder qualidade, eficiência e, consequentemente, usuários, o que levará a padrões inferiores de qualidade, com veículos mais velhos, frota reduzida, vias mal cuidadas, profissionais menos preparados. Engraçado é que, em vez de pensar em melhorar o transporte público, as autoridades usam-no para tirar proveito pessoal ou político, ampliando a gratuidade como se fossem os senhores donos do transporte. Um caso claro de cortesia com chapéu alheio.

Ninguém está satisfeito ou confortável, mas nenhum entre os que poderiam mudar o atual cenário toma uma atitude. Mas até quando? Até enfrentarmos o caos total? Quem ganha com isso?

Por que parte dos bilhões de recursos do governo federal para combate à pandemia não foram direcionados para a melhoria dos padrões do transporte coletivo brasileiro? Não deveria ser prioridade a segurança, o conforto e a eficiência do sistema que locomove tantos brasileiros economicamente ativos?

Não existe sustentabilidade no transporte coletivo. De nenhuma forma. Como está, ele é insustentável economicamente, em relação à satisfação dos passageiros, ao meio ambiente e aos desafios de preservação ambiental.

Neste aspecto, as empresas não terão condições mínimas para migrar as frotas para veículos menos poluentes e todos, os que utilizam e os que vivem nos centros urbanos, vão sofrer com a escalada da poluição, dos congestionamentos, da lotação e de todos os demais males e prejuízos advindos dessa ridícula falta de prioridade.

O pior é que os que podem melhorar um segmento da mais alta importância para o País não fazem uso desse modal e, por desconhecimento, não sentem a necessidade de mudar essa realidade.

José Carlos Secco é jornalista especializado na indústria automotiva e de transportes, diretor da Secco Consultoria de Comunicação, de São Paulo, com atuação inclusive na Serra Gaúcha.

mailjcsecco@secco.com.br

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