O fio da vida é que ligava tudo, ali se experimentava a alegria e a tristeza juntar.
A bagunça foi formada, alegria triste ou tristeza alegre começaram a existir. Ninguém sabia onde começava uma emoção e terminava a outra.
O buraco no peito já existia, e fazia tempo. O ser já não se assustava mais com o tamanho do vácuo que existia nele. O vazio, a amargura e a imensidão de sentimentos que ali assolavam vieram lhe visitar e mostrar, aos mais atentos, que estavam só de passagem. Foi assim, olhando para tudo que fazia parte, e sabendo que nenhum sentimento era exclusivo de ninguém, que perceberam que tudo se modificava, e se alteraria até o final...
As duas caras (sorrisos e angústias) lado a lado seguiam, mostrando a fragilidade daquele mudar, instabilidade por vezes a se expressar, que passou a ser a razão para meia alegria e meia tristeza encontrarem-se...
No caminhar, a alegria acolheu a tristeza, para juntas, e de uma nova maneira, prosseguirem a andar. E as duas resolveram um novo traçado para a vida desenhar. Ali sentadas, uma de escora para outra, deixavam o ser se expressar... O que se abria dentro, expandia para fora... Diluía a amargura do seu andar.
Permitiu-se ficar triste para novas alegrias encontrar. Ali a tristeza plantou flores no seu jardim e pôs-se a regá-lo... Plantou serenidade, coragem, determinação... Tirou a cara amarrada e pôs os pés no chão...
Tristeza, só num dia de névoa, a se perder no vazio, buscando o sol, a sensatez, um novo sentimento talvez...
Acostumada a ser infeliz, não sabia como se locomover, e se perdia quando tinha a possibilidade de ser feliz, não sabia como ser, o conhecido era outro...
Quando tirou a cara da felicidade, só sentia a melancolia, de se enxergar sem novo destino a reclamar. E o olhar desanimado ficar.
Alegria e tristeza de mãos dadas com a força da união que reverberava – amor – seja com o que tempo for...
Atrás da alegria, um amor radiante, extenso, pleno. Encontro! Além da tristeza, um amor sem medidas que procura amparo, suporte para suas dores...
Assim se encontravam, as duas sentadas no banco do lindo jardim, fazendo confidências de algo que jamais terá fim...
Cada uma resolveu ser quem era, triste ou alegre, e na nova etapa seguir. Determinadas a encontrar o seu caminhar, e seu jeito de sentir e andar. Assim, nas estradas que se seguiam, iam se transformando até o final – aquele estágio que não nos é permitido enxergar... Mas, nas curvas, nos encontros, nos desencontros, mostravam a graça de um novo tentar, recomeçar...
Alegria e tristeza ali a se misturarem - a cada instante uma delas tentando encontrar o seu lugar.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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