É impossível estar preparado para algo em que se desconhece aquilo que pode acontecer. Na vida, os golpes violentos e repentinos, os acontecimentos imprevistos, são aqueles que provocam os efeitos mais dolorosos e sofridos sobre as pessoas.
O inesperado, o grave e o súbito acontecimento negativo causam muita dor. Diante da possibilidade do imprevisto, assumir um pensamento negativo de que algo pior sempre possa acontecer é uma filosofia de trabalho e também de vida. Como ensinado por pensadores estoicos, como Sêneca (um filósofo romano), pensar sempre o pior é muito útil para enfrentar as adversidades e os infortúnios da vida.
Talvez, entre as profissões, a reação de um jornalista ao preparar a manchete e uma matéria sobre um fato novo e inesperado para a sociedade seja aquela que está mais próxima da surpresa que o imprevisível e o desconhecido podem causar sobre as pessoas. Na economia, os efeitos da surpresa e do inesperado normalmente são captados pelas variações nos preços dos produtos contidos nesses movimentos e causam diversos efeitos sobre uma sociedade.
A atual situação econômica do mundo está em patamares extremos, mas não deve ficar pior. O petróleo, depois da alta atingida na segunda metade do mês de fevereiro, tem apresentado uma evolução lateral em seu preço, incluindo arrefecimentos no valor do barril. O índice Commodity Research Bureau (CRB), que avalia os mercados globais de commodities, vem apresentando um comportamento semelhante. O preço de diversas commodities agrícolas, como a do trigo, também vem lateralizando e arrefecendo o seu valor. Começamos a ter indícios de uma nova situação com estabilidade. Não há necessidade em continuar premeditando e anunciando o mal.
Ainda temos valores espelhando condições extraordinárias, mas os custos de adaptação estão sendo assumidos, internalizados nas economias e recebendo ajustes. A sociedade ainda sofre com o efeito dos cartéis sobre diversos setores.
A crise de refugiados está em evolução. A Europa se adapta para depender menos dos recursos russos e toma sanções rigorosas contra responsáveis pela desfeita causada pelos imprevistos. O repentino fim de algumas facilidades, ou suas futuras limitações ao uso, como o do oleoduto e do gasoduto russos, e que foram diligentemente construídas, foi inesperado e impactou os preços. Existem, agora, medidas de adequações e de adaptações sendo preparadas.
A transição energética continua e ajusta novas plantas industriais e produtos à situação. Algumas delas podem causar o adiamento de decisões como a da Alemanha de fechar suas usinas nucleares até o final deste ano. São diversas as medidas tomadas para impedir a propagação de efeitos negativos maiores sobre a economia. A atual situação econômica do mundo está em uma situação extrema, mas não deve ficar pior.
No começo de junho, acabou o "lockdown" na economia de Xangai. O confinamento durou mais de 65 dias. A China voltou a reabastecer as cadeias de suprimento com prioridade para as empresas dos países desenvolvidos. O Brasil, além da demora chinesa no fornecimento, registra lentidão na liberação de cargas nas alfândegas, o que causa impacto na produção das fábricas. Porém, a reposição dos produtos está em andamento e sendo gradativamente realizada.
Nos Estados Unidos, a partir de março deste ano, o FED, Banco Central norte-americano, iniciou a política de alta nas taxas de juros para conter a inflação. O aumento de 0,75% em junho certamente trará efeitos no segundo semestre deste ano, além de trazer implicações na alocação dos ativos financeiros do mundo.
Não há mal que para sempre dure e nem existe uma longa noite que não encontre o dia. Os processos estão em andamento e gerando diversos ajustes que produzirão efeitos durante os próximos meses. Os países estão se adaptando e o conjunto de ações causará melhoras na economia internacional a partir deste segundo semestre do ano.
Agostinho Celso Pascalicchio é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutor e Bacharel pela USP e Mestre pela University of Illinois/USA.