Caxias do Sul 21/11/2024

A dor que chega em ti

Quanto mais você olhar para ela, menos assustadora ela vai se mostrar
Produzido por Neusa Picolli Fante, 01/07/2024 às 08:33:28
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

Ouço as pessoas dizerem que têm medo de olhar para a dor, pois ela parece grande e aterrorizante, e acreditam que não vão dar conta.

Com esse pensamento, se escondem dela, como uma maneira de não entrar em contato e de não senti-la. Na tentativa de se preservar desse sentimento e não desejar o desconfortável e o desconhecido, deixam-na encoberta, angustiando seus dias.

Assim, pessoas se constroem com a pretensão de ficarem longe da dor e de se protegerem dela. Ao invés disso, vivem num marasmo, tentando anestesiar o que necessita ser cuidado, para se recolocar e, pouco a pouco, dissolver o que tanto incomoda.

Além disso, na hora da dor, sem saber o que dizer, as pessoas falam: “vira a página, esquece, muda o disco” e muitas outras palavras aleatórias... Alguém já disse algo assim pra você?

Como se virar a página significasse deletar tudo que você viveu... Como se pudesse tamponar algo que está batendo à sua porta te importunando. Ignorar essa dor é deixá-la desenfreada na sua vida e, de uma hora para outra, ela pode aparecer sem você saber como lidar com isso. Vem de maneira distorcida, difícil, criando uma atrapalhação sem fim.

Nos momentos difíceis, ela aparece em formatos e nomes diversos, que podem ser raiva, tristeza, angústia, vazio entre muitos outros... Como uma tentativa de se desfazer de algo que provoca desconforto e que não compreendem muito bem. Então jogam, colocam, empurram-na para pessoas aleatórias que passam por eles, as quais não têm nada a ver com o que está sendo vivido ali e nem com a dor que está neles.

Eu lhe digo: Quanto mais você olhar para a sua dor, mais consegue compreendê-la e redirecioná-la, e menos assustadora ela vai se mostrar. Você aprenderá a manejá-la, vai poder se ensaiar no seguir em frente, apesar da dor emocional sentida.

Por isso, alerto que você deve se expressar enquanto sentir vontade, enquanto precisar se organizar internamente, enquanto existir alguma pendência.

Deixá-la encoberta não faz ela desaparecer, ao contrário, só se acentuam os medos, e as incertezas. Isso trava seus passos e dificulta o seguir adiante.

Esses medos que aparecem, que sente e consequentemente alimenta, continuam a te acompanhar. E é nessa engrenagem, de não querer olhar e não conseguir sair desse sentir, que bate contra si mesmo, e, assim você segue...

Quando esse monstro chamado dor não te aterrorizar mais, mais tranquilo você ficará. Ao aprender a lidar com essa aflição, você constrói passos significativos para modificar a angústia que chega a ti. Assim, conseguirá acolhê-la, compreendê-la e redirecioná-la.

Acalme o seu coração, acolha a dor que chega até você para uma nova direção construir. Sempre respeitando seu ritmo, dê a você mesmo o tempo de que necessitar para isso acontecer.

Olhe para sua dor, sozinho, acompanhado, no silêncio, no escuro, devagar, mas olhe...

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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