Caxias do Sul 22/11/2024

A comunicação aprimorando a ação

Comunicar ciência tornou-se uma prioridade nas estratégias de luta contra a pandemia
Produzido por Stephen Stefani, 28/04/2021 às 07:27:27
Foto: DIVULGAÇÃO

- Você está tomando os cuidados para reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus?

- “Sim, doutor, eu estou... O problema são as visitas!”.

Esse fragmento de diálogo, até divertido se fosse em outros tempos e não fosse cruelmente real, ilustra um aspecto fundamental da batalha sanitária que estamos vivendo: estamos falhando na comunicação. Comunicar ciência tornou-se uma prioridade, preocupação de órgãos públicos e privados e um assunto estabelecido de educação.

O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos estima que de 20% a 30 % das prescrições de doenças crônicas não são seguidas. Se incluirmos recomendação de parar de fumar ou realizar atividade física, os números podem ser piores. Mesmo que a informação seja abundante e acessível, não estamos conseguindo fazer as pessoas usarem máscaras de forma correta ou lavarem as mãos. Falta uma ponte entre comunicação e ação.

As mudanças podem ser difíceis, seja por falta de compromisso, interesse ou compreensão. As condições socioeconômicas, tratamentos inacessíveis ou as condições de vida difíceis têm papel eloquente na capacidade de adesão a recomendações médicas. Um remédio muito caro, mesmo que bem indicado, não será realidade para quem concentra esforço em comprar a comida dos filhos.

A falha em seguir recomendação médica é, também, um problema caro. A American College of Preventive Medicine estimou que a não-adesão era responsável, antes da pandemia, por pelo menos 10% das hospitalizações. Não temos dados atuais ou para nossa realidade, mas é justo imaginar que sejam ainda mais assustadores em condição de uma tragédia sanitária.

O consenso é que estamos falhando, de alguma forma, em dar solução para um número gigantesco de pessoas, o que leva a uma quantidade inaceitável de mortes evitáveis. Com todos cansados, os pensamentos binários e beligerantes são mais frequentes. Não existe solução simples, mas concentrar esforços naqueles pontos de menor desalinhamento, como benefício de máscaras e vacinas, pode contribuir para colocar todos na mesma direção.

Uma situação complexa como a pandemia não pode ser levada por antíteses simplistas como liberdade e ditadura, direita e esquerda, amigo e inimigo, como amor e ódio.

Stephen Stefani é médico oncologista do Grupo Oncoclínicas no Rio Grande do Sul. Fundado em 2010, é o maior grupo especializado no tratamento do câncer na América Latina.

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