O Brasil tem diversos órgãos capacitados e competentes responsáveis pelo levantamento de informações sobre os mais variados assuntos. Infelizmente, porém, a velocidade da disseminação do novo coronavírus e a abrangência dos impactos destrutivos dessa pandemia tornam quase impossível acompanhar pari passu a evolução da crise na sociedade. Ao mesmo tempo, todos sabemos que concentrar informações sobre um problema é fundamental para o planejamento de qualquer ação efetiva de busca de solução.
A situação é ainda mais complexa em realidades como a do Banco da Família, instituição de microfinanças referência no País. Grande parte do público atendido pela organização está na informalidade, justamente a fatia da população que sofreu quase de imediato e de forma severa os impactos da paralisação da economia e que muitas vezes, por dificuldades técnicas ou de acesso, não é acompanhada de perto pelos institutos de pesquisa.
Por isso, o Banco da Família decidiu escutar seus clientes por conta própria, para ter ideia mais clara de como a Covid-19 afetou seu cotidiano, primeiro passo para a criação de estratégias para conseguir superar esse momento delicado.
Os resultados são preocupantes. Das 220 pessoas entrevistadas (97% delas do mercado informal), 67,6% tiveram perdas significativas de receita. Do percentual de entrevistados que precisou fazer mudanças no negócio, 20% incluíram novos serviços nos seus portfólios. Outros 12% relataram terem perdido a fonte principal de receita. Os demais migraram para outras atividades.
A pesquisa também aponta que 70,5% tiveram problemas para manter as contas em dia e que 64,8% não receberam qualquer ajuda do Governo. Entre aqueles que precisaram tomar crédito, 79,8% recorreram ao Banco da Família.
Essa pesquisa ajuda a definir estratégias de atuação, além de uma adaptação necessária para que possamos nos manter ao lado de nossos clientes oferecendo soluções como a renegociação de débitos. Também buscamos fortalecer vínculos criados graças a nosso modelo de negócio, com agentes de crédito recrutados nas próprias comunidades, geralmente com alguma liderança comunitária, pessoas que se tornam próximas do núcleo familiar dos clientes.
Nosso comitê de crise, criado ainda nos primeiros dias de quarentena, foi transformado em comitê de retomada e assumiu a responsabilidade de analisar dados e cenários. O espanto inicial passou. A preocupação e a angústia com toda a situação permanecem. Mas precisamos de informação e dedicação para agir e buscar soluções em prol daqueles que tanto precisam de apoio no momento.
Isabel Baggio é presidente do Banco da Família
Com mais de 21 anos de atuação, o Banco da Família tem cerca de 20 mil clientes ativos em 128 municípios dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), já concedeu mais de R$ 886 milhões em crédito em mais de 318 mil operações.
Segundo a Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred), o Banco da Família é a maior instituição de microfinanças do Sul do país, tendo impactado nessas duas décadas mais de 1,3 milhão de pessoas.