A data dos 125 anos do cinema brasileiro foi comemorada dia 19 de junho, e estão previstos diversos eventos no decorrer deste ano, para marcar a celebração junto ao público.
Essa data de 19 de junho, oficializada como Dia do Cinema Brasileiro, foi escolhida porque nesse dia, no ano de 1898, teria sido feita a primeira filmagem no país, realizada por Afonso Segreto, um italiano radicado no Brasil. Voltando da Europa, ele teria filmado a Baía da Guanabara de dentro do navio chegando ao porto, fato que foi registrado nos jornais da época.
As datas comemorativas nem sempre têm base factual, bastando que tenham valor simbólico. O Dia Internacional do Cinema teve também origem num episódio não documentado, ocorrido a 28 de dezembro de 1895, menos de três anos antes de nossa data nacional. Teria sido nesse dia que, numa sala nos fundos do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, foi exibido o primeiro filme dos Irmãos Lumière. A plateia levou um susto quando viu um trem chegando na estação, parecendo que vinha para cima do público. Um evento marcante, em definitivo, para a “imagem em movimento”.
O fato é que, a partir dessas datas, o cinema passou a ser uma poderosa ferramenta para contar histórias, para registrar cenários e acontecimentos e para provocar debate sobre questões sociais, culturais e políticas. Com o passar de mais alguns anos, o cinema passou a ser chamado de Sétima Arte. Lembro que uma vez, em aula, um aluno me perguntou quais eram as outras seis artes, e tive de pedir para dar a resposta na aula seguinte. Depois de pesquisar, consegui enumerá-las: a música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura e a poesia. Houve protestos por não aparecerem na lista o teatro e a narrativa em prosa...
Quanto a esta última, tive oportunidade de demonstrar aos alunos o quanto o cinema havia influenciado a forma literária de contar histórias, tornando o cenário, a presença física das personagens e a linguagem direta mais importantes que o vocabulário sofisticado do romance do século dezenove. A mudança começou no romance norte-americano, se expandiu na Europa e chegou ao Brasil pelas mãos de Erico Verissimo.
Como tradutor de romances para a Editora Globo, de Porto Alegre, ele percebeu como a força da imagem era neles maior que a força das palavras, e adotou esse estilo em suas obras. A ponto de um crítico literário do centro do país, chamado Álvaro Lins, ter escrito que Erico Verissimo não era um escritor, mas um “contador de histórias”. Erico não se incomodou com essa opinião. Pelo contrário, a assumiu como sua marca pessoal. Nos “quarenta anos de sua carreira literária”, em 1972, foi publicada uma obra em sua homenagem, com o título de “O Contador de Histórias”, organizada pro Flávio Loureiro Chaves, que teve estreita convivência com Erico e toda sua produção, não apenas literária, mas também jornalística.
Já deixei claro a meus leitores, mais de uma vez, que o cinema serviu também de marco referencial para minhas novelas e meus romances. São duas as raízes desse meu estilo: a lição aprendida com Erico Verissimo e os truques descobertos nas sessões dos cineclubes de que fiz parte, onde tive ocasião de apreciar obras magistrais do cinema brasileiro, como O Cangaceiro, O Pagador de Promessas e por aí afora. Não é, portanto, mero acaso que minhas obras tenham chamado a atenção do mundo do cinema.
Celebrar os 125 anos do cinema brasileiro é, por tudo isso, algo a que me associo com o coração e a inteligência!
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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