Caxias do Sul 27/11/2024

Vinícola da Serra fecha 2020 com crescimento de 25%, mais um turno de trabalho e a geração de 108 novos empregos

Executivo explica a receita de sucesso para a empresa ser escolhida por 16 anos consecutivos a melhor fornecedora de vinhos ao setor supermercadista
Produzido por Silvana Toazza, 19/12/2020 às 08:00:22
Vinícola da Serra fecha 2020 com crescimento de 25%, mais um turno de trabalho e a geração de 108 novos empregos
Hermínio Ficagna é diretor-superintendente da Vinícola Aurora
Foto: Eduardo Benini

POR SILVANA TOAZZA

O que leva uma marca a garantir por 16 anos consecutivos o status de melhor fornecedora de vinhos ao setor supermercadista nacional? Com ou sem pandemia, esse é um posto assegurado pela Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, no prêmio promovido pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).

A cooperativa venceu obstáculos ao longo de sua história de quase 90 anos (a serem completados em fevereiro de 2021) e hoje possui 1,1 mil famílias associadas e 537 funcionários.

Mais uma vez, a Aurora precisou se reinventar durante a pandemia, embalada por uma safra histórica. A marca lança, em média, cinco novos produtos por colheita. E fechará 2020 com crescimento de 25% e mais de 100 novos empregos.

A seguir, entrevista exclusiva à seção “Conversa Afiada” com o diretor-superintendente da Vinícola Aurora, a maior do Brasil, Hermínio Ficagna:

A Cooperativa Vinícola Aurora foi eleita a Melhor Fornecedora de Vinhos pelos 200 maiores supermercados do Estado no Carrinho Agas. O que isso significa?
Significa o reconhecimento ao trabalho da Aurora com este canal que é extremamente importante no mercado brasileiro de vinhos. Pela 16ª vez consecutiva, fomos agraciados com este prêmio que, neste ano, teve a pandemia como um dos grandes desafios, mas que também leva em conta critérios como responsabilidade social, share (cota) de mercado, qualidade dos produtos ou serviços, relacionamento com o varejo, índices de ruptura, capacidade de inovação e cumprimento de prazos de entrega.

De que forma a pandemia refletiu nos negócios?
No início da pandemia, sentimos uma retração muito forte nas vendas, especialmente nos meses de abril e maio. A partir de junho, entretanto, começamos a identificar um padrão de comportamento que acabou favorecendo a comercialização de vinhos e, de uma forma ainda mais específica, de vinho brasileiro. O fato de as pessoas ficarem mais em casa, de não frequentarem restaurantes, associado ao câmbio, uma divulgação cada vez mais consolidada do vinho nacional e a repercussão da qualidade da chamada “safra das safras”, acabou revertendo em aumento no consumo da bebida.

Quais as estratégias adotadas para subverter o momento de incertezas?
Podemos observar um crescimento importante no e-commerce, já que nosso grande diferencial são nossos parceiros que possuem inúmeras lojas virtuais que vendem nossos produtos. Neste sentido, nosso trabalho é estar ao lado do cliente para desenvolver estratégias em conjunto e fortalecer ainda mais esses canais. Outra estratégia que já adotamos como padrão é justamente o que nos fez receber o prêmio da Agas, que é o atendimento bastante especial que damos aos supermercados, às lojas especializadas e ao próprio turista que visita a vinícola. São vários os canais em que estamos presentes e cada um deve ser trabalhado da melhor forma possível em meio a tantos desafios que foram impostos neste ano.

Como a companhia encerrará 2020 em termos de crescimento?
Devemos encerrar com um crescimento em torno de, aproximadamente, 25% nas comercializações de vinhos, espumantes, sucos de uva e coolers.

Foi preciso demitir ou houve geração de empregos?
Como os decretos publicados tanto pelo Estado quanto pelo município por ocasião do combate à pandemia do coronavírus passaram a restringir o trabalho para as pessoas que se enquadravam no grupo de risco, aqui consideradas as com mais de 60 anos e portadoras de doenças crônicas, para suprir tal lacuna e, pela necessidade de aumentar a capacidade produtiva, houve a implantação de mais um turno de trabalho nas linhas de envase. Para isso, foi necessário contratar 108 novos colaboradores no período da pandemia.

Qual a estrutura atual em termos de produção, parque fabril, funcionários e associados?
Historicamente, por ano, se envasava algo em torno de 64,5 milhões de litros de produtos vinícolas, divididos em 220 itens que compõem o portfólio das 13 marcas da empresa. No entanto, neste ano, este volume passou a ser bem maior, ou seja, foram envasados mais de 75 milhões de litros. Os vinhos, espumantes, sucos de uva, destilados e cooler da Aurora estão em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal. São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro lideram o ranking de vendas. Atualmente, a Aurora conta com 537 funcionários e 1,1 mil famílias associadas.

Quais os projetos de expansão? Há novidades a caminho?
A Aurora tem apresentado novidades ano a ano. Lançamos, em média, cinco produtos a cada safra. Em 2020, colocamos no mercado os vinhos Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 2017, o Aurora Gran Reserva Tannat 2018 e o Aurora Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2018, além do espumante Aurora Brut Rosé. Neste ano, também lançamos a linha Reservado Marcus James, exclusiva para o off trade, repaginamos os rótulos da Clos de Nobles e incluímos no nosso portfólio o azeite de oliva extra virgem espanhol Pequenas Partilhas Notáveis Ibéricos. Em 2021, continuaremos apresentando lançamentos, com ênfase para as diferentes regiões produtoras brasileiras, além de produções com Indicação Geográfica. Também estamos preparando novidades para a parte turística, que acabou sendo bastante penalizada neste ano em função da pandemia, novidades para o trade, de marketing, tudo com vistas aos 90 anos da Vinícola Aurora, que completaremos em fevereiro de 2021.

Quais produtos se destacaram nas vendas em 2020 e quais os principais mercados?
Colocamos como grande destaque os vinhos finos de uma forma geral, tendo como principais mercados os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Também tivemos recorde de vendas na linha de cooler e suco de uva. Quanto ao espumante, só não tivemos um crescimento maior em face de ter esgotado o produto no final de setembro, quando as vendas foram suspensas.

Qual a perspectiva econômica em relação a 2021?
Temos uma expectativa muito positiva com relação ao mercado em 2021. Estamos bastante animados com as possibilidades de vacinação e a própria consolidação do vinho brasileiro muito forte neste ano. As pessoas, de fato, descobriram o vinho brasileiro, melhoraram muito a percepção sobre nossos produtos e a Aurora, como líder de mercado de vinhos finos, de sucos de uva integral e coolers, acaba sendo um termômetro muito importante para o próprio setor. Por esses motivos, temos uma expectativa muito positiva para 2021.

Como enxergas a retomada do turismo?
Vínhamos numa recuperação do fluxo turístico, mas que foi arrefecida com o retorno da bandeira vermelha em praticamente todo o RS. Até novembro, mais de 74 mil pessoas visitaram a Aurora, 63% a menos do que no mesmo período do ano anterior, percorreram o passeio gratuito seguindo todas as medidas de segurança e higiene. Em 2019, o total foi de 202 mil turistas. A Aurora sempre recebeu muitos visitantes de outros Estados, porém, estamos observando uma maior quantidade de pessoas de regiões gaúchas mais próximas, que viajam de carro. Nos últimos meses, já havíamos identificado o retorno dos turistas que vêm para o Rio Grande do Sul de avião, especialmente de São Paulo, do Rio Janeiro e também do Nordeste. As pessoas estão sedentas por viagens, mas sabemos que o momento ainda exige um cuidado extremo e o principal é ter atenção máxima à saúde, tanto dos visitantes como dos nossos colaboradores. Essa retomada de forma mais forte estará ligada ao controle do novo coronavírus e, em especial, da vacinação em massa da população.

Como avalias a safra de uva?
Temos uma perspectiva bastante otimista com relação à colheita que se avizinha, que pode superar, em termos de qualidade, a histórica 2020, considerada a “safra das safras”. Um novo período produtivo de excelência será mais uma grande notícia para o consumidor, que terá ótimos produtos à disposição, e para o próprio setor.

O momento é de cautela ou otimismo?
Penso que o momento é de otimismo por diversas razões. Mesmo num ano bastante difícil, em que o foco das pessoas acabou sendo como lidar com um vírus que ceifou e ainda tira milhares de vidas no país, o vinho acabou sendo escolhido como um dos produtos para serem consumidos em casa. Percebemos uma mudança em algumas prioridades dos consumidores, passando a investir mais numa garrafa de vinho, a valorizar o produtor nacional e o tempo no convívio familiar. É claro que ainda teremos mais um período de incertezas, muito em função das demissões que acabamos vendo em muitos setores, a insegurança que esta pandemia causa na sociedade e a demora em resoluções de um problema de saúde que tem afetado muitas famílias.

Que lições uma empresa longeva como a Aurora, que já superou muitas crises, pode dar ao mercado?
Acredito que a principal lição é da perseverança, da solidariedade, da empatia. Temos de nos colocar no lugar do outro e isso não é uma simples frase retórica. Se formos adaptar esse conceito ao mercado, significa percebermos as mudanças nas formas de consumo, nos produtos mais procurados. Precisamos ter um contato muito especial também com os clientes, todos têm suas especificidades e merecem toda a atenção possível. Outro fator fundamental é pensarmos na realidade das mais de 1,1 mil famílias de cooperados, nos 537 funcionários, nos prestadores de serviço, que juntos somam mais de 6 mil pessoas ligadas à nossa empresa. É fundamental cuidar das pessoas que fazem com que a Vinícola Aurora seja essa força que é hoje, entre as maiores empresas do setor no país, pois nossos produtos são elaborados por pessoas para as pessoas.