Com as medidas de restrição contra o coronavírus, o varejo gaúcho colheu em abril queda histórica de vendas, só equiparada à crise global de 2009, há 11 anos.
Naquele mês, o recuo dos negócios do comércio do Estado foi de 27,69% sobre igual período de 2019 e de 17,4% em comparação ao mês anterior, março, aponta pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul (FCDL-RS), Vitor Augusto Koch, mostra preocupação com o que classifica de “gravidade dos indicadores”.
“Esta situação ocorreu exclusivamente em função das determinações do governo estadual e de vários municípios de fechar a maioria dos estabelecimentos comerciais, dentro de uma equivocada estratégia de combater a pandemia do coronavirus no Rio Grande do Sul”, critica o dirigente.
A entidade aponta alguns dados envolvendo o setor:
O fechamento de lojas em abril, por conta do coronavírus, levou ao registro de quase 20 mil demissões no varejo gaúcho. O número só não foi maior por causa da flexibilização das relações trabalhistas, com a possibilidade da interrupção temporária dos contratos de trabalho.
A maior queda verificou-se no ramo de livrarias e papelarias, totalizando 85,48% a menos na comparação com abril de 2019. O cenário foi prejudicado pelo recuo das vendas de material de escritório, uma vez que o setor de serviços, principal comprador, também foi afetado pelas medidas de restrição.
O segundo maior desempenho negativo nas vendas em abril ficou com o ramo de vestuário, calçados e tecidos, com queda de 78,4%, justamente num momento de aproximação dos meses mais frios no Rio Grande do Sul.
As lojas de veículos e os estabelecimentos que vendem artigos pessoais e cosméticos tiveram redução de 62% nas vendas em abril, comparando com o mesmo mês de 2019.
Móveis e eletrodomésticos, com queda de 39,88%; material de construção, com -31,79%; e produtos de informática e para escritório, com -20,85%, foram outros ramos com recuos expressivos de vendas em abril.
Chama a atenção que as vendas de combustíveis caíram 13,74% e de produtos farmacêuticos recuaram 7.26%. Embora esses ramos estivessem com suas lojas abertas no período de isolamento social, a queda nas vendas dos combustíveis se deu em função da própria redução da mobilidade das pessoas, que ficaram mais em casa.
“Entretanto, o recuo das vendas de produtos farmacêuticos é preocupante na medida em que pode ser o primeiro indicativo da falta de renda das pessoas, decorrente da parada da economia, impossibilitando o consumo de produtos essenciais para elas “, enfatiza o presidente da FCDL-RS.
Supermercados na contramão
O único ramo do varejo gaúcho a registrar o crescimento em abril foi o de supermercados, com avanço de 4,9% em relação ao mesmo mês de 2019.
Considerado setor essencial, portanto aberto, além de gêneros alimentícios, os consumidores adquiriram em hipermercados outros produtos, o que é avaliado pela FCDL-RS como uma distorção competitiva, uma vez que as lojas de roupas, calçados, linha branca e eletroeletrônicos estavam obrigatoriamente fechadas.
E maio?
Com relação aos indicadores a serem apurados sobre as vendas em maio deste ano, a FCDL-RS acredita que eles deverão ser um pouco melhores.
A esperança é que a venda de produtos seja maior do que a registrada em abril, em função da flexibilização do isolamento social em várias cidades gaúchas. No entanto, é praticamente certo que os indicadores estarão em patamares bem inferiores aos registrados em maio de 2019.