Caxias do Sul 24/11/2024

Tristeza na aldeia dos gauleses: morre Albert Uderzo, o desenhista de Asterix

Francês foi cocriador, juntamente com o roteirista René Goscinny, do personagem Asterix, o Gaulês, cujos álbuns são traduzidos para todo o mundo
Produzido por Marcos Fernando Kirst, 24/03/2020 às 19:44:33
Tristeza na aldeia dos gauleses: morre Albert Uderzo, o desenhista de Asterix
Foto: DIVULGAÇÃO

Por: MARCOS FERNANDO KIRST

Estamos no ano 2020 depois de Cristo. Todo o mundo foi invadido por um vírus letal que subjuga as defesas das pessoas que, sabendo não serem irredutíveis, sonham com uma poção mágica que lhes venha em socorro antes que seja tarde demais.

No meio desse roteiro típico de história em quadrinhos, o mundo real se vê subjugado ao poder destruidor de um micro-organismo muito mais difícil de combater do que os soldados romanos sempre derrotados pelos irredutíveis gauleses da famosa aldeia que resistia ao invasor, nos álbuns deliciosos que embalavam e embalam a fantasia de crianças e adultos de todo o mundo.

Mas, como vivemos no mundo real, não podemos contar com a ajuda de Asterix, Obelix, Ideiafix, Panoramix, Abracurcix, Ordenalfabetix, Ferroautomatix e Chatotorix, para virem em nosso auxílio. Até porque, nesse momento, essa turma de famosos personagens de papel vivencia o triste luto pela morte, nesta terça-feira, 24 de março de 2020, de um de seus criadores: o desenhista Albert Uderzo (1927 – 2020). Ele faleceu em decorrência de um ataque cardíaco, na casa em que residia com a família, em Neully-sur-Siene, na Ilha de França, arredores de Paris, aos 92 anos de idade (completaria 93 em abril)

Uderzo foi cocriador de todo o universo das aventuras de Asterix, o Gaulês, juntamente com o roteirista René Goscinny (1926-1977). Juntos, produziram, de 1959 a 1977, 24 álbuns de histórias caracterizadas pelos desenhos primorosos de Uderzo, e, em especial, pelo texto brilhante de Goscinny, com humor e metáforas permitindo várias camadas de leitura.

A dupla Goscinny e Uderzo, criadores de Asterix

Após a morte de Goscinny, em 1977, Uderzo decidiu dar sequência sozinho à produção dos álbuns, cuja edição era aguardada com ansiedade pelos leitores de todo o planeta (este que vos escreve, um deles). Ao passo em que o desenho se elegantizava cada vez mais, no entanto, os roteiros perderam força devido à ausência da genialidade ímpar de Goscinny.

A saga continuou por mais alguns anos, ao longo de um punhado de novos álbuns totalmente escritos e desenhados por Uderzo, até que ele, enfim, decidiu se aposentar e passar o bastão para uma nova dupla de desenhista e escritor que vem fazendo bonito nos últimos anos, resgatando toda a magia dos roteiros e mantendo a qualidade dos desenhos da dupla original de criadores, para a alegria dos fãs. Ao todo, já foram produzidos 38 álbuns com as aventuras dos gauleses, que venderam 378 milhões de exemplares ao redor do mundo.

Os dois álbuns mais recentes de Asterix e sua turma ainda não foram lançados no Brasil. Aliás, uma coincidência esquisita existente no penúltimo álbum (“Asterix e a Transitálica”), lançado em 2017, chamou a atenção de todos, em função do fato de um dos personagens (um romano piloto de biga) ser batizado de Coronavírus!!

A morte de Uderzo, nesse momento em que o mundo tanto clama por uma poção mágica e por irredutíveis heróis que venham em seu socorro, é triste e sintomática. Algum conforto, porém, pode ser obtido visitando (e/ou revisitando) o legado artístico que legou ao mundo ao lado de seu antigo parceiro, Goscinny. Vou (re)ler Asterix!