Caxias do Sul 23/11/2024

“Tivemos a postura de acelerar na crise”, diz empresário caxiense

Giovani De Zorzi, CEO da Moderniza Group, revela as estratégias para duplicar o faturamento no ano, contratar mais e expandir a marca pelo país
Produzido por Silvana Toazza, 26/08/2020 às 13:11:38
 “Tivemos a postura de acelerar na crise”, diz empresário caxiense
Giovani De Zorzi vê o futuro com otimismo
Foto: Gilmar Gomes

Em 1990, aos 19 anos, Giovani De Zorzi pediu ao pai que o emancipasse para abrir sua primeira empresa, na época de representação de formulários para computador. O jovem trabalhava na Randon, uma empresa reconhecida, com salário garantido e possibilidades de carreira, mas desde cedo acalentava o sonho de ter o próprio negócio. Já era aficionado por inovação e pela área de serviços.

Foi, então, consultar um empresário amigo da família, de quem recebeu o seguinte conselho: “estamos num momento difícil, mas, se você tiver persistência e conseguir aguentar uns três meses, vai vencer”.

Foi perseguindo esse sonho, driblando crise a crise e, especialmente, as mudanças intensas de mercado decorrentes das novas tecnologias, que Giovani não apenas se manteve na ativa nesses 30 anos como hoje é o CEO da Moderniza Group, tradicional fornecedora de soluções em software e e-commerce para o varejo. De Caxias do Sul, a marca tem conquistado projeção nacional, com mais de 2 mil clientes em 21 estados. Em dois anos, o número de funcionários foi multiplicado por cinco.

Giovani admite que esses três primeiros meses de “provação" sempre estiveram presentes em sua vida profissional:

“Desde 1990, emendamos uma crise na outra. O cenário dos negócios ficou só mais complicado. Nunca passou a crise dos três meses. Tivemos de ter uma capacidade de nos adaptar o tempo inteiro”, salienta.

O empresário já atuou como sócio ou parceiro em empresas como a Trends Solutions, que trabalhava com impressora fiscal, e a ACMIX, que há dois anos transformou-se na Moderniza. Nesse tempo, migrou do filão de hardware para software. “De 2009 a 2013, eu trabalhei sem remuneração nenhuma. Eu tinha um propósito”, lembra.

Nessa entrevista, concedida exclusivamente ao site, o empresário aborda o novo momento da empresa, que ele carinhosamente denomina como a “fábrica de prosperidade”, pelo formato de negócio que permite parcerias e expansão sem limites, em sintonia com a criatividade.

O bate-papo teve como moldura a sede da Moderniza, com vista exuberante para o Parque dos Macaquinhos, e muitas respostas foram complementadas por Edson Batista, sócio da empresa, que ainda conta com escritórios em Guaporé (RS) e Osasco (SP).

Os sócios Edson Batista e Giovani De Zorzi na sede da empresa,
com vista para o Parque dos Macaquinhos (Crédito da foto: Gilmar Gomes)

Qual foi a grande inovação proposta pela Moderniza?
Giovani De Zorzi: O nosso DNA de trabalhar com parceiros revendedores de softwares para o varejo. Por isso que crescemos muito de 2018 para cá. Hoje, estamos com 89 revendedores nacionais.

A pandemia impactou de que forma os negócios?
Todo mundo sofreu. Nós também sofremos, mas menos. Perdemos contratos porque atendemos o varejo, e muitas lojas saíram do mercado, mas, ao mesmo tempo, continuamos todo o mês conquistando novos clientes. Só no produto “loja”, temos mais de mil clientes hoje, e outros 4 mil como potenciais de migração de carteira por estarem vinculados às revendas do nosso software. Hoje, temos feito duas negociações por semana com novos parceiros.

Qual a estrutura atual da empresa?
A Moderniza tem hoje 15 funcionários e está indo para 18. No início da pandemia, éramos em 13 e, há dois anos, em cinco pessoas. Fecharemos 2020 provavelmente com 20 a 25 funcionários. Incluindo os revendedores de nossos softwares, falamos em 500 ou 600 pessoas que vivem do nosso negócio, incluindo os funcionários das revendas. Por isso, falo que somos uma fábrica de prosperidade. É a mágica de trabalhar com parcerias. Desenvolver o seu próprio sistema exige um custo alto com programação e mercado. Os nossos revendedores vendem, implantam o nosso software e dão suporte ao cliente.

É um software para o varejo em geral?
Sim, só não atende farmácia e posto de gasolina. No ramo de loja, trabalhamos com bares e restaurantes, salões de beleza, lojas de roupas, calçados, atacadistas, pequenos supermercados, bazares e presentes, acessórios. Já no software para logística, as concessionárias de veículos se destacam.

É muito complexo desenvolver softwares?
Sim, muito. Ano passado, tivemos 300 melhorias de software, já que são quase 90 parceiros nos dando feedback. Ou seja, consultoria gratuita de empresas de todos os cantos do Brasil nos dizendo: “melhora aqui, esse detalhe”. E este ano não vamos fugir de 500 melhorias no software.

O sistema é para...
Toda a gestão da loja, a entrada do produto, controle de estoques, vendas, parte fiscal, tudo. Este ano a gente deu a largada para a loja virtual integrada, com toda a gestão da loja física com o e-commerce.

Ingressar no e-commerce é um desafio ainda maior ao setor do comércio, mas fundamental. Os pequenos estão preparados?
O problema da loja pequena é ela conseguir fazer essa mudança de mentalidade, pois vender na loja física é uma coisa, vender no online é outra. É preciso ajudar o cliente a fazer essa virada de chave. Tem de divulgar, mudar as estratégicas semanalmente. A loja virtual é a ferramenta, mas envolve outra linguagem. Nos primeiros meses da crise da Covid-19, foram abertas 107 mil lojas online, mas mais de 70% não iria vender nada porque colocar a loja no ar sem estratégia não adianta. É preciso pensar em estoque, promoções, logística. Em cinco meses, quintuplicou o mercado de pessoas comprando pela internet. Um dos principais fundamentos desse mercado é a entrega. Tudo gira em torno do celular. A loja física hoje é a experiência, do café, do sofá, do cheiro, da música. O teu cliente não precisa mais vir na loja. Ele precisa querer vir. E o que você está fazendo para atraí-lo? Os lojistas, às vezes, estão focados em resolver probleminhas e não olham fora da caixa.

A Moderniza também está trabalhando com um software na área de logística?
Sim, já temos esse sistema adquirido por grandes redes de concessionárias. Entre elas está o Grupo Toniello, de Ribeirão Preto, o Grupo Fipal, de Cascavel, e o Grupo Barigui, de Curitiba. Esse projeto é um filhote, mas já temos três entre as cinco principais redes da Fiat no Brasil. Sabemos que existem montadoras interessadas em homologar esse nosso produto como padrão da marca no país. Fizemos o inverso do que normalmente se faz. Começamos esse projeto com os maiores clientes do mercado.

O que precisaram fazer durante a crise?
Nós temos a humildade de ouvir o cliente. Precisamos ser compreensivos com nosso cliente e dar descontos, reduzir o faturamento e também perdemos alguns contratos por conta do cenário, porque houve o fechamento de lojas. Tínhamos reunião de hora em hora com clientes, perguntando: “como eu posso te ajudar”? Nossa ideia era oferecer solução. Fomos incansáveis.

Qual a postura?
A de ajudar o cliente. A gente já tinha a loja virtual integrada no sistema. Então, disponibilizamos a loja de graça para os nossos clientes naquele momento. Tivemos a postura de acelerar na crise. Então, aproveitamos o momento da pandemia para melhorar as nossas soluções. Não só não demitimos ninguém, mas contratamos profissionais. Não tivemos redução de jornada. A postura foi a de manter a roda girando. No dia 18 de março, foi todo mundo para home office. Depois, gradativamente, a gente está retornando. Metade da equipe ainda está trabalhando em casa.

O mercado está reagindo?
O mercado retornou de uma forma mais rápida do que se pensava. No primeiro momento, o mercado caiu no faturamento e freou nosso crescimento, que estava num ritmo muito forte. Mas, a partir de julho e agosto, a gente já voltou a crescer. Julho, a gente já faturou mais do que março e agosto vamos faturar mais do que julho.

Quais são as perspectivas para 2020?
Perseguindo a meta de dobrar o faturamento em 2020. A gente não vai desistir até o dia 31 de dezembro. Nós temos um bom software. Mas a nossa melhor qualidade é nosso modelo de negócio.

E vocês estão implementando franquias também?
Nesse modelo de sucesso do negócio criamos as nossas franquias. Já estamos com quatro: em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Paraíba. Trata-se de um projeto que começamos no segundo semestre do ano passado. Esse modelo de negócio que criamos e testamos vamos replicar e criar clones. A meta é ter 10 franquias até o final do ano. Há ainda um terceiro estágio de expansão da empresa que eu ainda não vou revelar. Tivemos as revendas, as franquias e a terceira frente fica para a próxima entrevista.

Comente sobre a parceria com o Esporte Clube Juventude.
Fechamos uma parceria com o Juventude, integrando uma loja virtual com o nosso software físico, juntamente com o lançamento da camisa nova do clube. Existia uma loja terceirizada, mas a venda virtual foi viabilizada por nós. E hoje eles estão vendendo para todo o Brasil.

Quais as dicas você daria ao empresário?
Ele vai precisar prestar mais atenção em tecnologia e a estratégia dele vai precisar mudar, transportar esse conhecimento para o mundo digital. A vantagem de ser pequeno e jovem é que tu podes ser mais rápido.

Os desafios são muitos...
O grande desafio do empresário hoje é fazer as escolhas certas. Acertar quando diz “não” e acertar quando diz “sim”. Todo o problema te traz uma oportunidade. Escolher quais oportunidades são boas para a tua empresa é o grande desafio do momento. O mundo está cheio de oportunidades, mas o que eu vou escolher? Tem de ter foco.

Parte da equipe voltou ao escritório, mas 50% permanece em
home office (crédito da foto: Gilmar Gomes)

Leia também:

Marca caxiense cresce 40% no primeiro semestre e prepara lançamentos

Sem temer a crise, empresa caxiense cria novo braço de mercado