POR SILVANA TOAZZA
Ele herdou do pai Raul, do tio Hercílio e do irmão David o dom da liderança nata. Comanda um dos maiores conglomerados empresariais de Caxias do Sul (e do Brasil), com presença em mais de 100 países de todos os continentes e com um exército superior a 10 mil trabalhadores.
Não por menos, o CEO das Empresas Randon, Daniel Randon, ocupa um espaço nobre no pódio da 26ª edição do Líderes & Vencedores. Conquistou neste final de ano a distinção na categoria Sucesso Empresarial no prêmio concedido pela Federasul e pela Assembleia Legislativa do RS.
Subverter a crise econômica gerada pela Covid-19, diversificando os negócios e apostando em inovação e tecnologia para não demitir milhares de profissionais e suas famílias que dependem da Randon para viver, foi um dos legados de 2020 e um dos cases inspiradores à comunidade empreendedora. Esforço esse traduzido num terceiro trimestre considerado o melhor na história de 71 anos da companhia.
A seguir, entrevista exclusiva concedida à seção “Conversa Afiada” pelo CEO das Empresas Randon, Daniel Randon:
Qual foi a sensação de ter sido um dos agraciados na 26ª edição do Líderes & Vencedores?
Estar entre os agraciados do Líderes e Vencedores foi um momento muito especial, principalmente por estar ao lado de nomes relevantes do nosso Estado. É uma grande responsabilidade e também um reconhecimento ao legado que meu pai deixou nos negócios e no seu exemplo, e ao apoio da minha família e dos colegas de trabalho.
Qual a sua rotina diária de trabalho?
Logo no início da pandemia, trabalhei muitos dias em casa, reorganizando a rotina, me adaptando às reuniões online e à dinâmica com toda a família, que também estava em casa. Foi um período muito interessante. Tenho filhos em idade escolar e brinco que comecei a disputar a internet com eles, que estão com aulas online. Depois, seguindo todos os rigorosos protocolos de saúde e segurança desenvolvidos pela companhia, comecei a retomar, aos poucos, para a empresa. Hoje, procuro intercalar alguns dias de forma presencial na Randon. O que diminuiu muito foi o ritmo acelerado de viagens.
Como é seguir os passos e a referência de um empresário tão admirado quanto seu pai, Seu Raul Randon (falecido em março de 2018)?
Tenho muito orgulho de poder estar à frente da empresa que meu pai Raul e meu tio Hercílio construíram. Ao mesmo tempo, é uma grande responsabilidade manter e ampliar todo o trabalho desenvolvido por eles e depois pelo meu irmão David, que ficou dez anos na presidência da companhia. Para todas as ações que tomamos hoje nas Empresas Randon, nos inspiramos muito no legado do meu pai, que nos ensinou a importância da valorização das pessoas, do olhar social para as comunidades onde atuamos e de buscar o crescimento sustentável dos negócios.
De que forma as Empresas Randon conseguiram enfrentar a turbulência de 2020?
O tema “coronavírus” tem sido prioridade no nosso dia a dia, dentro e fora da empresa. Desde o início da pandemia, não medimos esforços e implementamos diversas ações para proteger a saúde dos colaboradores e dos familiares, e para assegurar a continuidade das operações, visando à sustentabilidade da economia. Como a nossa atuação é global, analisamos as melhores práticas adotadas no mundo para mitigar os impactos da Covid-19 e trabalharmos da maneira mais segura possível. Além disso, sabemos a importância de unirmos forças para contribuir com as comunidades e com a população mais necessitada. Por isso, apoiamos com diversas doações, como EPIs para os profissionais da saúde, álcool em gel, alimentos e respiradores para a rede de saúde. Seguimos conversando e orientando os nossos colaboradores para que mantenham os cuidados, principalmente agora no período de final de ano.
Os números têm sido animadores. A quais estratégias se devem?
Temos cinco pontos principais que considero que foram fundamentais para o enfrentamento da pandemia:
- Gestão conservadora e posição robusta de caixa adotadas pelas Empresas Randon se mostraram como estratégias ainda mais acertadas neste momento.
- Tivemos uma resposta rápida à pandemia, principalmente em razão da unidade da Fras-le na China, que nos trouxe aprendizados importantes para estarmos preparados.
- A companhia atuou em ações junto às comunidades para auxiliar a minimizar os impactos da Covid-19.
- Temos uma estrutura diversificada de negócios, que contribui para esse momento.
- Assim como em outras crises que já vivenciamos, enxergamos algumas oportunidades para acelerar mudanças na empresa: transformação digital (home office), otimização de processos, centralização de atividades em uma estrutura única, por exemplo.
Você acredita que o mercado já retomou?
O mercado vem mostrando sinais de retomada para diversos setores. Porém, sabemos que os próximos meses trarão outros pontos de atenção. É o caso da escassez de insumos, inflação de matérias-primas, aumento dos casos de Covid-19 e situação fiscal.
Que lição você tira da pandemia?
Sem dúvida, o momento atual vem para nos mostrar outras perspectivas das nossas vidas. Vamos passar a dar muito mais valor para as pequenas coisas, como o abraço e os encontros com a família e com os amigos. Neste contexto, o que vem me chamando muito a atenção, de forma positiva, é a solidariedade das pessoas. Me parece que estamos redescobrindo o nosso lado humano, com empatia e gratidão. As pessoas estão se mobilizando, doando tempo e dinheiro para ajudar de todas as formas e como podem. Além disso, os profissionais que estão na linha de frente também merecem nosso agradecimento e o nosso reconhecimento, pois estão fazendo a diferença neste período.
As empresas Randon projetam fechar 2020 com qual percentual de crescimento?
Vamos fechar o ano de maneira satisfatória. O terceiro trimestre de 2020 foi o melhor trimestre da história da companhia, com receita líquida consolidada de R$ 1,5 bilhão, aumento de 10,5% no comparativo com o mesmo período de 2019. Porém, é preciso manter a vigilância, pois ainda estamos em um contexto de incertezas e possíveis efeitos colaterais da pandemia.
O que esperar de 2021?
Estou confiante para 2021. Temos boas perspectivas de vacinas para a Covid-19 e acreditamos que a retomada vai acontecer. A expectativa do PIB é de crescimento, muito puxado pelo agronegócio, que segue em expansão, e por bons projetos de infraestrutura. Mas sabemos que será um ano com desafios e efeitos do pós-pandemia. Precisamos estar preparados.
Que dicas daria a empreendedores intimidados pelo momento?
Sempre digo que minha principal reflexão sobre tudo que estamos passando é que precisamos ser positivos. Um dos principais ensinamentos da pandemia de Covid-19 é a necessidade de atuar de forma colaborativa, unindo esforços com outras empresas, entidades e com o setor público. Cada um fazendo a sua parte para que tudo isso passe o quanto antes. Na Randon, temos uma cultura muito forte de cuidar de nós, dos outros e do todo. E isso é o que precisamos fazer neste momento.
