POR SILVANA TOAZZA
Assumir o comando da Rede Swan Hotéis já seria um desafio grandioso para Gabriela Schwan, executiva com 22 anos de experiência na hotelaria e atuação como vice-presidente do Transforma RS e membro do Nexo – Governança Corporativa.
Mas a nova CEO do grupo desde dezembro de 2020, com 40 anos de idade, precisou ir além: conciliar a gestão de um dos setores vitais à economia em meio ao cenário de pandemia, que colocou a atividade entre as mais impactadas pela retração do turismo de lazer e de negócios.
Casada e mãe de dois filhos, com especialização nos Estados Unidos, Gabriela sabe onde quer chegar, e não utilizou a pandemia como desculpa para estancar projetos da rede, hoje com atuação no Rio Grande do Sul e em Portugal. Pelo contrário: está com duas grandes obras saindo da gaveta no Rio Grande do Sul e uma em Portugal.
Uma delas envolve um novo hotel em Canela, voltado para o estilo de vida, a ser inaugurado no segundo semestre deste ano, gerando 120 empregos diretos e indiretos. Dessa forma, a Rede Swan, com sede em Novo Hamburgo, reforça sua presença no mercado da Serra, onde já possui um hotel em Caxias do Sul, e sinaliza sua aposta na recuperação do turismo.
Na entrevista exclusiva a seguir para a seção “Conversa Afiada”, Gabriela Schwan avalia o mercado da hotelaria e revela em detalhes os planos da Rede Swan Hotéis. Leia e inspire-se:
Como encarou o desafio de tornar-se CEO da rede Swan Hotéis?
Me tornar CEO já seria desafiador em um cenário “normal”; porém, encarei esse desafio com o plus do coronavírus. Meu maior desejo, que consegui colocar em prática em 2020, era imprimir um pouco do meu propósito, “minha cara”, na rede. Para isso, fizemos o rebranding da marca, uma mudança bastante audaciosa, mudando o símbolo e cores e nos reposicionando como rede hoteleira. Dentro deste projeto, temos novas unidades que estão por vir com um posicionamento mais inovador e tecnológico.
De que forma a pandemia impactou nos negócios do grupo?
O setor de turismo e hotelaria foi um dos mais impactados pela pandemia, e para nós, da Rede Swan, não foi diferente. Tivemos uma queda muito significativa na ocupação, além de muitos cancelamentos em eventos. A gente precisou se reinventar rapidamente. Tenho orgulho de dizer que nossos protocolos para hotelaria segura foram um dos primeiros a serem elaborados, pois não fechamos a rede em nenhum momento e isso nos deu uma vantagem. Além disso, fomos uma das primeiras redes hoteleiras a receber o Selo do Turismo Responsável do Ministério do Turismo.
Qual a estrutura atual da rede em termos de hotéis, funcionários e leitos?
Possuímos atualmente nove hotéis na rede, sendo que um - Swan Generation, de Porto Alegre - está fechado para reforma. Temos um em construção em Portugal e outro em Canela. Nossos hotéis em Portugal estão temporariamente fechados, respeitando as diretrizes daquele país. Atualmente, temos 4 hotéis em operação no Brasil (nos polos de Novo Hamburgo, Porto Alegre, Caxias do Sul e Rio Grande), cerca de 80 colaboradores e 1018 leitos.
Por que o investimento em Portugal?
Quando fiz minha especialização na Cornell University, em Nova York, conheci meu atual sócio de Portugal, que é português. Quando surgiu a vontade de expandirmos para outros países, foi natural essa aproximação com Portugal, que é um destino turístico muito procurado. Além disso, o país se aproxima do Brasil nos valores de hospitalidade, que é um dos nossos focos. Lá se iniciou a linha Life, hotéis mais voltados para estilo de vida e lazer, diferentemente do nosso posicionamento aqui no Brasil. Lá, atuamos dentro de um conceito de hotel boutique, em prédios históricos com, no máximo, 20 quartos, proporcionando experiência de hospedagem com aconchego quase familiar.
Swan Molinos está sendo reformado e se tornará o Swan Generation
Quais os planos de expansão da rede previstos para 2021?
Temos dois grandes lançamentos previstos para 2021. Um dos nossos hotéis em Porto Alegre, o antigo Swan Molinos, está sendo reformado e se tornará o Swan Generation, que para mim é o futuro da hotelaria corporativa. Esse empreendimento não será apenas hotel, mas terá espaços de coworking, coliving, interação entre o hotel e a comunidade no entorno, além de muita inovação e tecnologia. Temos também um empreendimento em construção em Canela, que será nosso primeiro hotel focado em life style aqui no Brasil.
Fale mais sobre o novo hotel projetado para Canela?
Em Canela, nosso empreendimento já está em construção. Diferente dos nossos outros hotéis no Brasil, este será um hotel design voltado para estilo de vida, lazer, turismo, com foco em famílias e casais. É um projeto encantador que tem uma grande conexão com a natureza e irá oferecer serviços diferenciados para nossos hóspedes, inclusive de alimentação. A previsão de abertura é o segundo semestre de 2021. Não é possível definir o valor do investimento final, devido às dificuldades atuais de encontrar matéria-prima. Estamos prevendo a geração de em torno de 120 empregos, entre diretos e indiretos. O turismo/hotelaria foi um dos setores mais impactados pela Covid-19.
Canela receberá hotel focado em estilo de vida e família
Você acredita numa retomada?
Sim, acredito que a retomada será gradativa, começando principalmente pelo turismo regional, pequenas viagens que podem ser feitas de carro, para destinos mais próximos, e inclusive para moradores locais que estão cansados de confinamento, e podem optar por ter uma experiência na sua cidade, passando uma noite agradável fora de casa. Por isso, estamos com um projeto de parcerias nos entornos dos hotéis para oferecer ainda mais vantagens para nossos clientes.
A ausência de eventos prejudicou muito o turismo de negócios, pela falta de circulação de executivos. Como driblaram esse momento?
Com o nosso histórico com programas de qualidade, de forma ágil elaboramos um guia de hotelaria segura, criando um andar de isolamento em todos os hotéis e nos disponibilizando a receber pessoas que gostariam de fazer um isolamento saudável. Além disso, a rede é um misto de hotelaria e flats e essa estrutura nos permite receber clientes de longa permanência, mensalistas e até mesmo moradores que querem usufruir de toda a estrutura hoteleira, em endereços privilegiados, que facilitam a mobilidade urbana.
Como enxerga o mercado de Caxias do Sul, onde a empresa tem um hotel?
Caxias do Sul é um dos principais polos de desenvolvimento do Estado, voltado ao polo metal mecânico com as principais empresas do segmento. Além disso, a cidade tem um potencial turístico muito grande ainda a ser explorado, devido aos seus atrativos e localização, principalmente no momento de retomada de viagens mais curtas, turismo regional. Neste momento, devido ao cenário que estamos vivendo, é uma cidade onde temos sofrido com a redução de viagens corporativas.
Qual a ocupação média dos hotéis da rede nesse momento?
Neste momento, de bandeira preta em todo o Estado, nossa ocupação média é 20%.
Quais lições o setor absorveu desse momento de crise e que vieram para ficar?
Acredito que a principal lição é colaboração. Mesmo antes do cenário Covid-19, já era um dos meus planos como CEO da Rede Swan Hotéis criar um projeto voltado para colaboração, interação entre as pessoas e esse momento só veio reforçar essa necessidade. O vírus nos ensina que estamos todos juntos, sem diferenciação, por isso, é tão necessária a colaboração, tanto internamente, entre nossos colaboradores, como externamente, através de parcerias com empresas que tenham propósitos similares aos nossos. O vírus vai passar, e sobreviverão apenas as empresas que aprenderem a colaborar.
Como 2021 se apresenta?
Como era esperado, 2021 apresenta uma retomada de forma lenta; o mercado só voltará a aquecer após uma parcela maior da população ter recebido a vacina.
Como criar uma marca de credibilidade?
Em momentos como este, de crise, nossos valores são testados. Por isso, a melhor estratégia para uma marca de credibilidade é manter a transparência e continuar cumprindo com seu propósito. Devido à nossa missão de encantamento e cuidado, não fechamos a Rede Swan em nenhum momento. Nossos hotéis no Brasil se mantiveram de coração e portas abertas, com foco no cuidado não apenas dos clientes, mas também dos nossos colaboradores. Acredito ser importante destacar que no início da pandemia, onde o acesso às máscaras era limitado, criamos internamente uma corrente do bem e confeccionamos máscaras que foram distribuídas para clientes, colaboradores e comunidade do entorno dos hotéis. Acredito que auxiliar a comunidade, quando possível, é de suma importância e sempre esteve nos valores da Rede Swan.
Que conselhos daria a um(a) jovem empreendedor(a) ou executivo(a) intimidado(a) pelo momento de incertezas?
Incertezas em maiores ou menores proporções sempre existirão no meio empresarial. Se eu pudesse dar um conselho, seria ter um propósito claro e se unir a pessoas com propósitos similares para, em colaboração, realizar grandes feitos.