Por MARCOS FERNANDO KIRST
Morreu na noite desta segunda-feira (25 de novembro de 2024), pouco antes das 20h, em Caxias do Sul, o escritor, tradutor e professor gaúcho JOSÉ CLEMENTE POZENATO, aos 86 anos de idade. Ele estava internado no Hospital da Unimed, em Caxias do Sul, desde 6 de novembro, para procedimentos de troca de uma válvula no coração. No entanto, diversas intercorrências acarretaram a piora de seu quadro de saúde, com necessidade de atendimento em UTI, não conseguindo se recuperar.
O velório terá início às 8h desta terça-feira, dia 26, na sala A do Memorial São José, em Caxias do Sul. O sepultamento está marcado para as 16h, no Cemitério Público Municipal. A Prefeitura de Caxias do Sul decretou luto oficial.
Pozenato era natural de São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, onde nasceu em 22 de maio de 1938. Na juventude, mudou-se para Caxias do Sul, ingressando no Seminário Diocesano para seguir os estudos, posteriormente bacharelando-se em Filosofia e atingindo o patamar de Doutor em Letras. Pozenato era casado com a professora aposentada, Doutora em Comunicação, pesquisadora e escritora caxiense Kenia Maria Menegotto Pozenato, com quem teve as filhas Maria Helena, Heloísa e Ana, que lhe deram três netos. O casal Pozenato e Kenia celebraria as Bodas de Ouro em evento programado para o dia 18 de dezembro deste ano, reunindo familiares e amigos.
O escritor manteve-se plena e proficuamente ativo até a véspera de sua internação hospitalar. Era colaborador do Portal www.silvanatoazza.com.br desde a estreia do veículo digital de comunicação, em 13 de março de 2020, no qual publicava semanalmente relevantes artigos de cunho cultural, compartilhando com a comunidade assuntos derivados de seu extenso saber e conhecimento sobre temas históricos, literários, socioculturais, artísticos, linguísticos, imigratórios e humanos.
Em outubro de 2021, havia lançado sua editora própria, a Editora Pozenato, por meio da qual vinha concretizando o relançamento de títulos integrantes de sua vasta obra literária, seus novos trabalhos e livros de outros autores. No computador de casa, onde trabalhava, dedicava-se à produção de obras inéditas, artigos e traduções, dando vazão aos projetos que moveram sua existência durante todas essas décadas. Ainda em setembro de 2022, foi homenageado em Porto Alegre com a Medalha Simões Lopes Neto, conferida pelo Governo do Estado do RS a nomes gaúchos por sua atuação em favor da cultura e da educação no Rio Grande do Sul.
Uma de suas últimas aparições públicas, em atividade cultural, deu-se em meados de outubro deste ano, quando participou da programação da Feira do Livro de Caxias do Sul, integrando um dos módulos da série "Café Com Patronos", debatendo o tema "A Poesia Como Representação da Cidade".
O nome de José Clemente Pozenato se transformou, ainda em vida, em sinônimo de personalidade de envergadura dedicada à produção e ao resgate dos aspectos culturais relacionados à região de imigração italiana no interior do Rio Grande do Sul e também no âmbito da literatura. Elencar seu vasto currículo é tarefa da mesma forma vasta e hercúlea, sendo os principais tópicos suficientes para ilustrar a relevância de sua atuação junto aos meios acadêmico, literário e cultural da Serra Gaúcha, do Estado e do país. Seu nome alcançou projeção nacional, ultrapassando as fronteiras da Serra Gaúcha e do Estado, com a indicação do filme “O Quatrilho”, de Fábio Barreto, para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em Hollywood, em 1996. A película foi baseada no romance homônimo de Pozenato, lançado em 1985, obtendo enorme sucesso de público. Além do cinema, a obra também ganhou adaptações para o teatro (com a peça “Quatrilio”, do grupo teatral caxiense Míseri Coloni, montada em 1990), e para a ópera, levada aos palcos em 2018.
Juntamente com outros nomes relevantes da cultura regional, como os professores e pesquisadores Ary Nicodemos Trentin e Cleodes Piazza Júlio Ribeiro (entre outros), foi um dos criadores do Projeto ECIRS (Elementos Culturais da Imigração Italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul), junto à Universidade de Caxias do Sul, dedicado à pesquisa antropológica e ao levantamento dos bens e valores culturais das comunidades rurais da região, valorizando e preservando essa cultura. Seu envolvimento com a cultura regional levou-o a aceitar convite do então prefeito de Caxias do Sul, José Ivo Sartori, a assumir a titularidade da Secretaria Municipal da Cultura, no ano de 2005. Entre seus feitos, figura a criação do PPEL, o Programa Permanente de Estímulo à Leitura. Recebeu o título de Cidadão Caxiense em 1991, conferido pela Câmara de Vereadores, e em 1994 foi escolhido Patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul.
Pozenato guardava como relíquia a máquina de escrever
na qual concebeu boa parte de sua extensa obra
(Foto: Marcos Fernando Kirst)
Marcou o cenário poético regional e gaúcho participando do Grupo Matrícula, em 1967, composto também pelos colegas, amigos e então jovens e promissores poetas Ary Trentin, Oscar Bertholdo, Jayme Paviani e Delmino Gritti. A publicação da antologia de mesmo nome, naquele ano, reunindo poemas dos cinco integrantes, configurou-se em um divisor de águas estético e temático no fazer poético da Serra Gaúcha e do estado. Posteriormente, Pozenato lançaria diversos livros solo de poesia, como “Vária Figura” (1971), “Carta de Viagem” (1981), “Meridiano” (1982).
Sua estreia na narrativa de ficção se deu no ano de 1985, quando lançou a novela policial “O Caso do Martelo”, inaugurando as aventuras do Comissário Pasúbio. A obra foi posteriormente adaptada para a televisão em uma “Terça Nobre” da TV Globo, em 1991, com direção de Paulo José. A veia policial do autor teve sequência, com o personagem Pasúbio voltando à ativa nos posteriores “O Caso do Loteamento Clandestino” (1989), “O Caso do E-mail” (2000), “O Caso da Caçada de Perdiz” (2008) e “O Caso do Sumiço da Espingarda”, editado em 2020, configurando-se na última obra ficcional lançada pelo autor. O clássico de sua autoria, “O Quatrilho”, formou uma “trilogia da imigração italiana no RS”, juntamente com os romances “A Cocanha” (2000), obra laureada com o Prêmio Açorianos de Literatura, e “A Babilônia” (2006).
Pontuou sua agenda nos últimos anos dedicando-se à tradução de textos dos clássicos italianos como Dante Alighieri (1265 - 1321), de quem verteu para o português a primeira parte da obra "A Divina Comédia", intitulada “Inferno”, em 2021, e também o longo poema “Os Triunfos”, de Francesco Petrarca (1304 - 1374), que lançou pela sua Editora Pozenato no mesmo ano.
A gatinha Lizzy inspirava o cotidiano do escritor
(Foto: Silvana Toazza)
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