POR SILVANA TOAZZA
Há um ano e quatro meses, a Randon Ventures, unidade de investimento em startups das Empresas Randon, nascia. Nesse curto período, ela não só surgiu, como se desenvolveu e identificou a necessidade de mudança de foco, mirando recentemente em startups em estágio mais avançado e com sinergia com os negócios da companhia caxiense. Só no primeiro ano de atuação, foram investidos R$ 18 milhões em quatro startups. É apenas um indicativo da velocidade com que se movimenta esse mercado tecnológico e de inovação.
Nesta entrevista exclusiva ao site, você, leitor, é convidado a carimbar o passaporte a esse mundo em que criatividade, tecnologia e ideias “fora da caixinha” se sintonizam com os negócios do novo tempo. O portal manteve os termos técnicos utilizados por Mateus de Abreu, 38 anos, head officer da Randon Ventures e gerente de Negócios e Estratégias Digitais das Empresas Randon.
No bate-papo, o administrador, com especializações em Análise de Sistemas e Gestão Empresarial, nos instiga a conhecer um universo com dicionário e gramáticas próprios e universais, que dão a tônica à economia do presente e do futuro:
Como nasceu a Randon Ventures?
A Randon Ventures nasceu de um movimento natural das Empresas Randon, que nos últimos anos vêm buscando ampliar o seu leque em inovação e sua relação com as startups. Hoje nos relacionamos com aproximadamente 50 startups. Uma das mais emblemáticas foi a Gupy (plataforma de recrutamento e seleção de recursos humanos), que chegou à companhia através do nosso programa Randon Exo. O feedback das startups, a relação saudável e positiva com as Empresas Randon, e a satisfação com os retornos e mentorias, ainda que informais, que receberam dos executivos, fizeram com que percebêssemos uma nova oportunidade de negócio. Então, em fevereiro de 2020, foi lançada a Randon Ventures.
Quais as conquistas no primeiro um ano e quatro meses de atuação?
O primeiro ano foi de aprendizado, de apresentar a Randon Ventures para o mercado e de fazer investimentos. Realizamos seis movimentos neste período, alguns deles concluídos em 2021. Os primeiros frutos começaram a aparecer e isso é só o começo. As startups passaram a se relacionar entre elas, numa dinâmica muito interessante. Temos bastante trabalho pela frente. Queremos ampliar as parcerias com startups e os investimentos.
Houve mudanças de foco recentemente. Quais são os objetivos?
A Randon Ventures começou com o objetivo de investir em startups em estágio inicial, que o mercado chama de anjo, e acabamos modificando esta tese ao perceber que tínhamos potencial para atuar em outras frentes. Hoje nosso foco é investir em pré-Seed, Seed, pós-Seed e pré Series A e Series A, startups um pouco mais maduras, que já têm faturamento e estão buscando expansão por meio de um apoio financeiro e estratégico. Esta foi a grande mudança da Randon Ventures. Os movimentos estão ligados ao acesso ao crédito, à mobilidade elétrica e à tecnologia automotiva, indústria 4.0 e logística. Seguimos para o ciclo 2021 com cinco verticais: logtechs, autotechs, insurtechs, fintechs, e indústria 4.0 ou smart manufactories, sempre com um foco na cadeia logística e de transporte, que é a nossa atuação.
Quais os principais investimentos já efetivados?
O principal investimento já realizado foi na Delta, de R$ 13 milhões. É uma startup com sede em Porto Alegre e com uma base tecnológica em Minas Gerais, muito forte no segmento de fleet management, insurtech e de assistência. O objetivo é estimular ainda mais oportunidades de novos negócios para as Empresas Randon, aproximar a organização de ecossistemas de inovação consistentes e ampliar a possibilidade de projetos de pesquisa envolvendo novas tecnologias disponíveis no mercado.
Quais as novidades no horizonte da Randon Ventures?
A Randon Ventures vem se posicionando rapidamente como parceira de alguns veículos de inovação brasileiros. Temos investimentos no Fundo Hélice, aqui da nossa região, e relacionamento com aceleradoras, fundos de investimentos, ventures capital, e estruturas de fomento à inovação, como ABVCAP e Distrito, uma série de iniciativas de aproximação com startups. Pretendemos realizar de 5 a 6 novos investimentos ainda este ano, potencializar a relação entre as startups investidas e as Empresas Randon, e concentrar os benefícios entre elas numa sinergia estratégica. Além disso, queremos retomar de forma gradual nosso posicionamento internacional, freado pela pandemia. Temos interesse em mercados como China e Israel, no que tange à logística.
A pandemia acelerou o processo tecnológico?
No nosso caso, especificamente, não sei se acelerou, mas modificou. Para uma companhia mais tradicional, foi um desafio realizar investimentos em outros negócios de forma remota. Conhecer uma startup e conhecer os founders num processo totalmente remoto. Foi uma grande barreira a ser vencida, mas reforçou o momento das Empresas Randon de mentalidade aberta para inovar e se reposicionar. Com a pandemia, mudamos a estratégia de investimento nas startups e postergamos nossa estratégia de posicionamento no mercado internacional.
Como se dá o trabalho hoje e quantas pessoas integram a equipe?
Temos três pessoas na equipe e recentemente fizemos uma nova contratação, que deve ser anunciada nos próximos dias, que vem do mercado de aceleração, de investimento em startups. Então passaremos a ter quatro pessoas full time. A Randon Ventures se apoia nas estruturas matriciais das Empresas Randon – jurídico, marketing, comunicação, financeiro, entre outros.
Como enxerga o futuro do setor de startups? Qual o maior desafio?
O mercado brasileiro como um todo e o mercado mundial estão extremamente líquidos, com uma oferta muito boa de investimentos. É um momento muito propício para investir em startups e para se ter uma startup. Quem tem uma boa ideia, deve montar um bom time – tão importante quanto a própria ideia – e buscar estruturas de fomento, de incubação, de aceleração. É preciso iniciar o desafio, tracionar a startup e buscar validação do seu produto e do mercado. Então, acessar a Randon Ventures ou fundos de venture capital. Eu vejo um mercado promissor em 2021, com um volume de investimentos que deve superar 2020. Este tende a ser o maior ano do Brasil em investimentos em startups.
Que dicas daria a jovens empreendedores?
Acredito que minha dica é um pouco clichê: se arriscar, tentar fazer o novo, não ter medo de errar nesse início, porque o erro faz parte, e buscar apoio. O Brasil está acordando para isso, o mercado está muito propício para as startups. Uma série de programas tem aparecido semanalmente. De empresas, de combinado de empresas, de estruturas de inovação, aceleração e fomento. Busquem apoio, não naveguem sozinhos. Queremos jovens, e não jovens também, pessoas experientes, que queiram empreender. O Brasil ainda engatinha em alguns pontos, há muita burocracia, mas é preciso ter persistência. O recado é: não navegue sozinho.