As vinícolas da Serra Gaúcha carregam a história de luta e superação dos imigrantes italianos. Cada garrafa de vinho, espumante ou suco de uva produzido pelo talento e suor desses empreendedores está impregnada da essência de uma atividade rural que potencializou o turismo da região. E é passada de geração em geração.
Primeiramente, os fundadores das pequenas cantinas trouxeram as técnicas herdadas dos antepassados que vieram da Europa. Depois, seus filhos e netos as aperfeiçoaram a partir da busca de conhecimento técnico, troca de experiências e formações em universidades.
Assim é a Vinícola Santini, instalada na Estrada do Imigrante, em Caxias do Sul. Foi fundada em 1986 por Armando Santini, descendente de imigrantes italianos. Após seu falecimento, em 1994, a Santini Indústria Vinícola foi assumida pelos filhos Milton, Nestor e Valmir Santini. Hoje, além dos filhos, o neto Douglas Rafael Santini, 26 anos, segue a tradição familiar ao mesmo tempo em que implementa inovação e constante aprimoramento nos negócios.
Dessa forma, a Santini não só frutifica como, prestes a completar 35 anos, esbanja vitalidade no setor, com crescimento no mercado, lançamento de produtos e olhar voltado ao enoturismo.
Leia na seção Conversa Afiada uma entrevista exclusiva com Douglas Rafael Santini, 26 anos, supervisor de produção da Vinícola Santini. O engenheiro de produção e sommelier confirma que a sucessão rural é possível, conjugando tradição com modernidade:
Qual o desempenho da Vinícola Santini?
Ao longo dos últimos cinco anos, a produção da empresa cresceu na ordem de 60%, mantendo o mesmo plantel de profissionais e investindo em tecnologia para acelerar os processos produtivos. E, nos últimos oito anos, a vinícola é auxiliada por consultorias externas para aprimorar a gestão e poder decisório, existindo um comitê de gestão para nortear questões estratégicas da empresa.
Como está sendo a safra de uva 2020/2021?
A safra de 2020/2021 está sendo bem surpreendente, com boa qualidade nas uvas e com bom rendimento nas parreiras. Isso se deve também ao bom inverno que tivemos. Tudo isso resultará em produtos de ótima qualidade.
Vinho branco Chardonnay e rosé de Pinot Noir e Marselan são lançamentos
Que novidades em produtos estão apresentando ao mercado?
Nos últimos dois anos, percebemos a necessidade e tendência de mercado, em que adicionamos ao nosso portfólio vinhos finos e espumantes. Nossos produtos têm em sua identidade a capacidade de serem fáceis de beber, descomplicados e agradáveis para qualquer momento. Para completar a linha Rota, nossa marca utilizada para os vinhos finos, recentemente foram lançados um vinho branco Chardonnay e um vinho Rosé de Pinot Noir e Marselan, super leves, que combinam muito bem com a nossa estação atual, verão, harmonizando perfeitamente com happy hours.
De que forma a pandemia impactou nos negócios?
A Vinícola Santini conseguiu sustentar os níveis de negócios em alta em 2020, em razão de ter mantido ativos os canais de comunicação com os segmentos em que atua. A pandemia mudou os hábitos dos consumidores, que passaram a cozinhar em casa e a consumir mais vinho, a companhia ideal para qualquer prato. Houve essa mudança de comportamento para os consumidores, que em alguns casos só bebiam vinhos em bares e restaurantes, passando a apreciá-los em casa. Com isso, o consumo aumentou. Para a linha de vinhos finos, a cotação do dólar, sempre em alta, permitiu que os produtos nacionais se tornassem competitivos, aumentando a fatia ocupada pelos varietais verde-amarelos em relação aos importados. E cada vez mais se percebe a melhoria de qualidade dos vinhos nacionais, criando desejo no consumidor brasileiro pelos rótulos elaborados aqui no Brasil.
Qual o reflexo nas vendas no período?
A Vinícola Santini não sofreu retrações neste período. Pelo contrário, vendeu mais em relação ao ano anterior, na ordem de 20%, dando atenção aos investimentos em melhorias no processo produtivo, com aquisições de dispositivos hidráulicos nas máquinas agrícolas para diminuir o esforço do trabalho manual e acelerar o tempo de colheita das uvas para a cantina.
Quais os principais produtos e mercados da empresa?
Hoje, a vinícola conta com um portfólio grande de produtos, desde vinho de mesa, suco de uva, vinhos finos e espumantes. Atualmente, nosso maior mercado de consumo é regional, abrangendo todo RS. Também estamos atuando e buscando novos mercados em todo o Brasil.
Vocês investiram em energia solar e sustentabilidade. Como está sendo o retorno?
Tínhamos o desejo de fazer este investimento buscando produzir energia limpa, renovável e no ano de 2020 tivemos a oportunidade de realizar essa instalação. A aplicação do projeto é recente. Estamos nos primeiros meses de utilização. É necessário no mínimo seis meses para poder contabilizar os ganhos na redução de consumo de energia contratada.
Quais os projetos de expansão da vinícola?
Estamos com estudos para melhorias nas instalações da cantina, com aumento nos espaços de armazenagem, em automatização de processos, em explorar o mercado consumidor de vinhos da América Latina, principalmente na parte norte. Também estamos avaliando a criação de espaço de enoturismo e ampliação do espaço de varejo, com a criação de um local de eventos para o público externo e área de convivência.
O vinho nacional está conquistando mais mercado ou ainda há preconceito?
A cada dia o vinho nacional está conquistando mais espaço ao consumidor, fazendo frente ao produto importado e sendo superior também, resultando em premiações em muitos concursos internacionais. Tudo isso devido a melhorias no setor, implantando novas tecnologias e adquirindo cada vez mais conhecimento, desde estudos do terroir de cada região produtora e suas características e também nos processos de produção do vinho para conseguir extrair suas melhores características. Assim, entregamos ao consumidor rótulos com maior qualidade.
Quais os principais entraves ao setor?
A tributação sobre o setor ainda é uma das principais dificuldades para se atuar em uma vinícola. Enfrentamos em 2020 e, segue em 2021, a dificuldade em conseguir embalagens, principalmente de vidro, para o engarrafamento, deixando muitas vezes de produzir pela falta de garrafas.
Que dicas deixaria a jovens empreendedores desanimados pelo momento de incertezas?
1ª) Aproveitar os momentos de crise, de mercados fornecedores especulativos e novos comportamentos dos consumidores, para reestudar a empresa, criar uma nova intenção estratégica (definir negócio, missão, visão e valores), pois a forma como os negócios estavam sendo conduzidos nunca mais será a mesma.
2ª) Estreitar o relacionamento com a área comercial e de marketing para entender o que o mercado consumidor está pedindo e criar planos estratégicos para atingir esses públicos e os novos desejos destes consumidores.
3ª) Avaliar o mercado externo nas suas ameaças e oportunidades e estudar o comportamento dos consumidores e dedicar uma terça parte do tempo de gestão para pensar na INOVAÇÃO. Detalhe: inovação é diferente de melhoria... Inovar é fazer algo diferente do que se está fazendo, sem sair do negócio.