Por SILVANA TOAZZA e MARCOS FERNANDO KIRST
Falar da Metalúrgica Abramo Eberle S/A (MAESA) é abordar um assunto sensível à comunidade caxiense, uma bandeira que precisa ser capitaneada pela imprensa, sim, pois é seu papel dar voz ao debate e ao futuro que almejamos para a cidade.
Os 19 pavilhões que se espalham por 53 mil metros quadrados hoje vivem a depreciação do abandono numa das regiões mais nobres da área central de Caxias do Sul. Restaurá-los é o caminho que se apresenta para conectar a Caxias da Revolução Industrial, representada por uma indústria que foi símbolo do apogeu econômico do século XX, com a Caxias do Sul do futuro.
Tirar os prédios fabris da depredação e inseri-los na vida da cidade (e disponibilizá-los para a comunidade) resultará em alicerces de conexão, inovação, turismo, com indicativos de uso para exposição de arte, economia criativa, espaços de inovação, Vila Gastronômica, Museu do Trabalho e Mercado Público, como a cereja do bolo de uma nova página na história da cidade.
53 mil metros quadrados esparramados por 19 pavilhões aguardam revitalização (foto: João Henrique Ramos)
Os desafios, contudo, são tão gigantescos e complexos quanto o tamanho da estrutura tombada. Porém, o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) do Executivo municipal trouxe uma luz ao habilitar recentemente dois consórcios para apresentar estudos de modelagem técnica, econômico-financeira e jurídica para os restauros e a ocupação desse patrimônio histórico tombado no âmbito de Parceria Público-Privada (PPP) com vistas à futura licitação do conjunto imobiliário de valor histórico. Entenda melhor o tema AQUI
Com o propósito de lançar ainda mais luzes sobre essa questão vital ao futuro de Caxias do Sul, já que seu amanhã depende de um olhar coletivo e integrado, assim como foram outras bandeiras do passado, o portal de notícias estreia uma série com quatro reportagens dando ênfase às vozes de personalidades das áreas econômicas, culturais, sociais, comunitárias e políticas sobre a importância de revitalizar o Complexo MAESA. O primeiro conjunto de depoimentos você confere a seguir:
DEPOIMENTOS
Qual a relevância da restauração da MAESA para a comunidade de Caxias do Sul?
Adiló Didomenico, prefeito de Caxias do Sul:
"Um grande indutor do turismo, da cultura, de lazer e negócios" (foto: Eduardo Carneiro)
"A MAESA tem uma simbologia muito grande para Caxias do Sul. Estamos fazendo todos os encaminhamentos da maneira correta, resgatando esse espaço para a comunidade. Com o complexo da MAESA bem estruturado, ele se transformará em um importante centro cultural, e sem dúvida será um grande indutor do turismo, da cultura, de lazer e negócios. A nossa cidade merece esse espaço, afinal, são poucas as cidades no país que podem oferecer um local de tamanha importância, e é algo que precisa ser valorizado." (Adiló Didomenico)
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Maurien Randon Barbosa, diretora-presidente do Instituto Elisabetha Randon:
"Uma grande oportunidade para a nossa comunidade" (foto: Alex Battistel)
"A revitalização do complexo da MAESA tem um papel simbólico muito importante para a cidade. Não apenas pelo caráter histórico da recuperação do legado material daquela que foi a maior indústria de Caxias do Sul na primeira metade do século passado, mas pelo potencial de envolvimento social, comunitário, econômico e cultural que o espaço pode alcançar para todos nós. Esse processo também representa uma grande oportunidade para a nossa comunidade, cujo maior desafio é construir, de maneira colaborativa e propositiva, um aproveitamento de todo aquele complexo que seja sustentável e conquiste o coração dos caxienses." (Maurien Randon Barbosa)
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Celestino Oscar Loro, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias:
"Guarda parte importante da história de Caxias do Sul" (foto: Julio Soares)
"Em todas as oportunidades em que a CIC Caxias foi chamada a participar dos debates sobre o destino da MAESA, sempre manifestou que esse complexo de fábricas guarda parte importante da história de Caxias do Sul e, por isso, sempre defendeu a elaboração de um plano de ocupação do espaço. Dispor deste bem como registro histórico é uma grande oportunidade e, seguramente, um privilégio. Sua preservação garantirá a magnitude arquitetônica e sua permanência como patrimônio histórico e cultural, abrigando atividades de interesse do bem comum e da comunidade caxiense." (Celestino Oscar Loro)
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Rafael Bueno, vereador-presidente da Frente Parlamentar "A Maesa É Nossa”:
"A ocupação é a nossa meta principal e precisa ser acelerada" (foto: Daniel Corrêa)
"A MAESA representa a cultura, a história e a memória de todos os caxienses. Uma luta construída a muitas mãos e que vai culminar com a ocupação do complexo pela comunidade, o grande ideal de todo esse processo. Sabemos da importância do Complexo da MAESA, por isso, é preciso acompanhar minuciosamente esse trabalho, por meio do Poder Legislativo, já que estamos tratando de um bem que simboliza a história e o futuro do município. A ocupação é a nossa meta principal e precisa ser acelerada. A Feira Maesa Cultural, que se tornou lei a partir da união da Câmara Municipal, Executivo e União das Associações de Bairros (UAB), e as visitas guiadas no interior do complexo, se tornarão mais frequentes, levando a comunidade a conhecer ainda mais sua história e cultura e a ampliar e cobrar o pertencimento. Também fizemos uma cartilha sobre a história e futuro da Maesa, que está à disposição da comunidade. Para ter um exemplar, basta contatar pelo (54) 9 9675.8803". (Rafael Bueno)
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Kenia Pozenato, professora e historiadora:
"A MAESA fez parte da minha infância e juventude" (foto: arquivo pessoal)
"A MAESA – Metalúrgica Abramo Eberle SA – fez e faz parte da História de Caxias do Sul. E alguém já disse que “Um povo sem História é um povo sem futuro”, com o que eu concordo plenamente. A MAESA fez parte da minha infância e juventude. Nasci e cresci no Hotel Menegotto, que ficava localizado na então praça Rui Barbosa, hoje Dante Alighieri. O prédio central da MAESA situava-se na rua Sinimbu, na quadra ao lado. Ali eram vendidos os produtos fabricados no prédio situado na Plácido de Castro. Era um complexo composto por dois prédios. E, no hotel, recebíamos hóspedes que vinham de Porto Alegre, de Rio Grande, e até do Rio de Janeiro, curiosos para ver as vitrines da Eberle, em datas festivas. E havia rivalidade entre a Eberle e a Bellini, que disputavam o primeiro lugar em vitrines. Nas da Eberle, por exemplo, para a Semana do Soldado, eram apresentados os sabres, as espadas, as insígnias e todos os produtos destinados ao Exército, fabricados no prédio da Plácido de Castro. E em outras datas festivas, nem dá para falar! Eram só maravilhas apresentadas. Esse é um patrimônio histórico nosso, é de Caxias do Sul e não se pode perder essa memória que, hoje, está nos prédios”. (Kenia Pozenato)
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