POR MARCOS FERNANDO KIRST
Este mistério todo e qualquer aprendiz de detetive e todo e qualquer leitor de novelas policiais sabe solucionar: o que acontece quando um detetive de papel volta a sair a campo municiado de todo o seu poder de dedução, ao mesmo tempo em que um escritor volta a dar asas à imaginação colocando os dedos a dedilhar o teclado de seu computador? A pista para o desvendar do mistério se esconde sob o significado potencial de duas palavras: convergência e literatura. Decifrou o mistério quem apostou suas lupas na única alternativa lógica e elementar: o fermentar de uma nova novela policial!
E esse fermentar está acontecendo aqui, em Caxias do Sul, no escritório/biblioteca/refúgio da casa do escritor José Clemente Pozenato, dedicado desde o início do ano a elaborar mais uma aventura de seu Comissário Pasúbio, já conhecido do público admirador de novelas policiais pelas performances cerebrais que protagoniza para desvendar os quatro mistérios anteriores, narrados em “O Caso do Martelo”, “O Caso do Loteamento Clandestino”, “O Caso do E-mail” e “O Caso da Caçada de Perdiz”. Desta vez, Pasúbio terá de queimar pestanas para solucionar “O Caso do Sumiço da Espingarda”.
Por enquanto, quem queima pestanas é o autor, que há anos tem consigo o mote da trama (e, certamente, a solução do mistério que já apoquenta Pasúbio e vai excitar os leitores, assim que impresso). “Comecei a escrever na praia, no início deste ano, mas ao voltar para casa acabei perdendo um pouco o foco devido a esse período estranho que estamos vivendo por causa da pandemia”, explica Pozenato, em entrevista exclusiva ao site.
Apesar de o ritmo de escrita ter desacelerado, o autor de “O Quatrilho” segue deslindando a trama. “Já escrevi o equivalente a sete laudas. Ainda faltam umas dez vezes isso para concluir”, analisa. A trama, a exemplo das histórias anteriores, é inspirada em um crime ocorrido na vida real. Neste caso, ocorrido no Rio Grande do Sul há alguns anos, e ainda sem solução. Qual crime? Pozenato não revela. Nem Pasúbio sabe. Caberá ao leitor astuto acompanhar a solução do mistério na ficção e fazer por conta própria os paralelos para tentar descobrir que fato o autor está evocando, sem que isso prejudique ou influencie na compreensão e na fruição da nova obra.
Os capítulos da novela são curtos, como em todos os demais “Casos” do Comissário Pasúbio, o que ajuda a conferir ritmo e agilidade à narrativa. Quatro já foram escritos, cujos títulos ajudam a dar pistas sobre o que está por vir: “Morbidez Acesa”, “Faro de Jornalista” e “Segredos de Bastidores”. O quarto capítulo ainda está inominado, e Pozenato aproveita para explicar as nuances do título do primeiro capítulo evocando uma frase que escutou do diretor e roteirista de televisão Antonio Calmon, quando o conheceu na Rede Globo no Rio de Janeiro, por ocasião da adaptação de “O Caso do Martelo” para a tevê (a adaptação foi ao ar em 1991, dirigida por Paulo José, no programa “Terça Nobre”).
Conforme Pozento, Calmon teria lhe segredado a fórmula para capturar a atenção do público de televisão: “A tevê tem de acender a morbidez do público”. Daí, o título do capítulo de abertura da nova missão do Comissário Pasúbio, chacoalhando desde as primeiras linhas a pasmaceira do leitor e acendendo, senão sua morbidez, pelo menos, sua curiosidade e intenção de seguir adiante, a exemplo do que acontece nas quatro novelas anteriores do personagem.
O Comissário Pasúbio, aliás, tem suas características psicológicas e comportamentais inspiradas em um professor do autor, na época do ginásio. “Busquei nele a inspiração para o Pasúbio, na forma como ele investigava as peraltices que nós, os alunos, aprontávamos; na forma como ele nos observava e na maneira como ele descobria os autores das travessuras, depois rindo da gente e se gabando de sua própria astúcia”, recorda Pozenato. “O interessante é que, anos depois, esse professor leu ‘O Caso do Martelo’, mas não se reconheceu no personagem”, diverte-se o autor.
Às vésperas de seu aniversário (completa 82 anos em 22 de maio), Pozenato vem também dando atenção ao processo de resguardo da memória de sua história de vida, escrevendo textos pessoais de resgate de sua biografia, intitulados “Memórias de São Chico” (o escritor é natural do município de São Francisco de Paula), publicadas semanalmente (todas as segundas-feiras) no blog que recentemente inaugurou: https://pozenato.art.blog/. O lema do novo espaço virtual é “Siga o blog e tenha sempre uma leitura deliciosa para acabar com o tédio”.
Enquanto a nova aventura do Comissário Pasúbio vai sendo moldada, sem prazo para a conclusão do trabalho, Pozenato, em paralelo, também colabora assiduamente com este site desde a sua estreia, enviando textos exclusivos como crônicas, artigos e reflexões sobre literatura, cultura e outros assuntos. Confira alguns deles aqui: