Caxias do Sul 24/11/2024

Por que o HIDROGÊNIO VERDE é o combustível do futuro?

Em entrevista exclusiva, analista técnico da Perfil Energia fala sobre essa fonte de energia renovável e promissora que já atrai investimentos para o país
Produzido por Silvana Toazza, 30/10/2023 às 08:21:16
Por que o HIDROGÊNIO VERDE é o combustível do futuro?
Tanque de hidrogênio da japonesa Kawasaki Heavy Industries
Foto: Reprodução

POR SILVANA TOAZZA

O Brasil ganha destaque no mundo no que tange à utilização de energias renováveis. Há estudos que apontam outras possibilidades na área e termos como “hidrogênio verde” surgem nesse cenário promissor.

Mas, afinal, o que é hidrogênio verde (H2V)? Simplificando, é a denominação para o hidrogênio produzido a partir da eletrólise da água - um processo que utiliza a corrente elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio da molécula de água -, adotando energias limpas (como a solar, a hídrica ou a eólica) para a sua produção. Trata-se de uma fonte energética que tem potencial de substituir combustíveis fósseis em transporte e fabricação de indústrias.

É um assunto novo que ainda requer muita pesquisa, tecnologia, barateamento de custos e investimentos para que vire de fato uma realidade prática no mundo. Em Caxias do Sul, Fábio Nicoletti Gonçalves, analista técnico da Perfil Energia, consultoria de gestão estratégica de energia, com atuação nacional, se dedica a estudar o tema. Com 23 anos, ele está fazendo seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Engenharia Elétrica, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), sobre as aplicações do hidrogênio verde, um tema tão moderno quanto complexo e instigante.

Fábio Nicoletti Gonçalves concede entrevista à jornalista Silvana Toazza

Em entrevista exclusiva ao portal de notícias, o jovem pesquisador aponta caminhos e aborda essa fonte energética disruptiva na economia mundial:

O hidrogênio verde é considerado o combustível do futuro. Fale sobre essa fonte de energia e como é gerada?
Hidrogênio verde refere-se a um processo no qual não há emissão de carbono. Embora hoje o principal processo usado para a geração de hidrogênio puro seja a “reforma a vapor” (que usa metano no processo, portanto não é limpo), outra maneira e mais limpa de obtê-lo é por eletrólise, por isso a denominação “hidrogênio verde”. Os dois principais componentes do processo de eletrólise são: a água e a energia elétrica. Esse hidrogênio tem características que o fazem portar o título de combustível do futuro. A principal é a geração através de energia limpa. A pauta existe há um bom tempo, mas agora ganha força com os países batendo na tecla de restrição de poluição no mundo.

Que outras vantagens apresenta?
O hidrogênio verde ainda oferece uma vantagem sobre os derivados do petróleo ao não liberar substâncias nocivas quando queimado. Um litro de hidrogênio possui três vezes mais energia quando comparado a um litro de gasolina. Outro ponto importante é a finalidade desse gás após armazenado. Pode ser usado para aumentar a pressão em gasodutos, inclusive nos sistemas internos e em máquinas de processos fabris, na geração de energia elétrica em larga escala ou até como combustível para automóveis. Ou seja, simplicidade do processo, vantagem sobre combustíveis de origem fóssil e flexibilidade de sua utilização são diferenciais. Ele precisa basicamente de água e energia, não gerando resíduos nocivos ao meio ambiente.

O Brasil tem potencial para ser um dos maiores produtores de hidrogênio verde do mundo por conta de suas vantagens naturais. O que se desenha para esse setor?
O Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, integrada por hidrelétricas, usinas solares e eólicas, reduzindo em muito o custo de produção. Alguns desses projetos ainda têm a intenção de usar a água do mar dessalinizada e, mais uma vez, a geografia do nosso país auxilia no processo, uma vez que temos uma vasta extensão de terras banhadas pelo mar. O preço ainda é um impeditivo, que tende a baixar com a popularização do consumo.

Como está o cenário atualmente? Quais os principais desafios que se apresentam?
Hoje, no Brasil, existem diversos projetos de hidrogênio verde em andamento, que somam um valor próximo de US$ 30 bilhões em investimento. O principal desafio ainda é o investimento no setor. Mesmo que US$ 30 bilhões já estejam envolvidos, são necessários entre US$ 6 trilhões e US$ 12 trilhões entre 2025 e 2050, segundo a consultoria da Boston Consulting Group (BCG), para que governos e companhias tenham suas demandas atendidas visando à redução de emissões de gases de efeito estufa. Esse investimento é relativo à infraestrutura de produção, armazenamento e transporte do hidrogênio verde, que pode substituir combustíveis com alta intensidade de carbono.

Quais setores podem se beneficiar dessa energia limpa?
Em geral, todos se beneficiariam, mas empresas e automóveis de serviço teriam um impacto mais imediato. Qualquer máquina que utilize sistema pneumático, que precisa de ar comprimido, poderia se beneficiar dessa fonte renovável.

No Rio Grande do Sul, o hidrogênio verde é alvo de estudos. O que está no radar do setor?
O Rio Grande do Sul é signatário do Acordo de Paris, portanto, assumindo o compromisso de reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030 e de neutralizá-las até 2050. Com isso, projetos que envolvam o hidrogênio verde são interessantes. O Estado já destinou R$ 5 milhões para o Projeto Hidrogênio Verde, que tem como meta a redução do consumo de combustíveis fósseis.

Já há medidas anunciadas pelo governo do Estado para impulsionar a produção de hidrogênio verde?
O Estado já firmou quatro memorandos de entendimento com as empresas White Martins, Enerfín, Neoenergia e Ocean Winds, algumas delas com o intuito de fazer a captação da água marítima e desenvolver usinas eólicas offshore (colocadas em águas profundas de até 50 metros).

De que forma a Perfil Energia vem atuando em relação a esse tema para oferecer possibilidades aos seus clientes em uma gestão de energia eficiente e renovável?
A Perfil se relaciona principalmente através da informação. Mesmo que pequenos projetos ainda não sejam viáveis, é importante que existam profissionais preparados para discutir o assunto e enxergar oportunidades para os clientes e, inclusive, novos produtos. Devido à origem da energia limpa, ambos os mercados se relacionam por aumentarem a demanda por essas fontes de geração sustentável. Estamos sempre de olho no mercado e nos adaptando, criando soluções inteligentes e eficientes aos nossos clientes.

O hidrogênio verde representa uma solução para a crise energética mundial, podendo ser usado como um meio de armazenamento de energia renovável, visto que o consumo mundial de energia crescerá 50% até 2050. Como enxerga esse horizonte?
É uma oportunidade de atrair investimentos externos no Brasil, gerar empregos e tecnologia de ponta, com a redução do impacto ambiental. O hidrogênio verde tem como diferencial o armazenamento físico que pode ser transportado por navios e não fios condutores por debaixo do mar, como já existe na Europa, mas é muito caro. O Brasil liderará esse movimento em função de sua costa. Obrigatoriamente, será o mundo inteiro trabalhando aqui, criando tecnologia aqui. Está prevista uma fábrica que entrará em operação em 2024, com capacidade de 10 mil toneladas de hidrogênio verde por ano, na Bahia, e outra projetada para o Ceará, num investimento de US$ 100 milhões. Muita novidade virá no futuro.

Definições sobre tipos de hidrogênio:

Hidrogênio verde (hidrogênio renovável): a produção é feita por eletrólise, mas as fontes de energia são renováveis.

Outros tipos de hidrogênio:

Hidrogênio marrom: hidrogênio proveniente do carvão mineral sem captura e armazenamento de carbono.

Hidrogênio cinza: produção a partir de combustíveis fósseis, como gás natural, sem carbono.

Hidrogênio azul: produção a partir de fontes fósseis, principalmente gás natural, com carbono.

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