Se por um lado Caxias do Sul registra crescimento econômico de 10,6% no primeiro trimestre - conforme dados divulgados nesta quinta-feira (09/05) -, por outro, enfrenta desafios com a maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. Por ser um polo empresarial e econômico, as análises sobre os impactos da catástrofe gaúcha predominaram na reunião desta semana da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), que seria para divulgar dados positivos dos três primeiros meses do ano. Ao longo dos últimos 12 meses, a economia local expandiu em 5,5%.
"A economia de Caxias do Sul vinha performando bem neste início de ano. Observamos um avanço na indústria, com a massa salarial crescendo 18,3% e as vendas 3,6% em março. Apesar disso, alguns índices como utilização da capacidade instalada e horas trabalhadas se mantiveram estáveis ou apresentaram leve queda", destaca o diretor de Planejamento, Economia e Estatística da CIC, Tarciano Mélo Cardoso.
Impactos das enchentes e reação às adversidades
O olhar no momento é menos para o passado e mais para o futuro, já que a economia local enfrenta indíziveis incertezas devido à catástrofe no Rio Grande do Sul. Maria Carolina Gullo, diretora de Planejamento, Economia e Estatística da CIC Caxias, expressou preocupação com as adversidades enfrentadas pela economia.
"Estávamos bastante otimistas com nossa economia, mas nenhum modelo matemático ou econométrico pode prever um desastre desta magnitude, que altera completamente todas as projeções para o ano", afirmou.
Ela acrescentou que um retorno a uma certa normalidade depende do restabelecimento das conexões rodoviárias, o que é crucial para o abastecimento de matérias-primas, entregas de mercadorias e chegada de produtos. No entanto, ainda é difícil dimensionar o impacto total, pois isso vai afetar as cadeias produtivas.
"Podemos enfrentar desorganização semelhante à observada durante a pandemia, o que certamente causará desequilíbrio nos preços e alguma falta de produtos", concluiu Gullo.
Estabilidade às empresas e aos empregados
As lideranças empresariais locais estão mobilizadas para mitigar os efeitos da tragédia. Celestino Oscar Loro, presidente da CIC Caxias, destacou que "estamos vivendo um momento de extrema excepcionalidade. O governo federal precisa regrar de forma sensata e equilibrada os efeitos que vão acontecer no mercado de trabalho em função da crise, principalmente para garantir estabilidade às empresas duramente afetadas e seus empregados. Precisamos ter consciência que têm empresas fechadas, tem trabalhador ilhado, tem fornecedor que não está recebendo. Como lidar com todos estes efeitos colaterais sem que o governo federal dê as condições para o enfrentamento? Por isso definimos cinco pilares principais de ação neste momento, que é para minimamente mitigar tudo aquilo que se avizinha. Vamos experimentar índices duríssimos", acrescentou, referindo-se aos próximos indicadores.
O presidente da CIC Caxias também detalhou esse plano de ação em que as entidades empresariais locais definiram cinco pilares de maior urgência para enfrentar os desdobramentos da crise, que incluem restabelecer as conexões rodoviárias para o transporte de ajuda humanitária, suprimentos, mercadorias e matérias-primas e suporte financeiro e segurança jurídica às empresas e trabalhadores afetados, entre outras medidas.
Capacidade de reação
Apesar da tristeza e das perdas irreparáveis, a Serra Gaúcha pode puxar o movimento de reconstrução gaúcha, com sua força e união:
"Se formos proativos, poderemos ser a locomotiva da reconstrução do estado, puxando a recuperação das demais regiões mais duramente afetadas pela tragédia. Há todo um esforço para, primeiro, mitigar o desastre, mas também precisamos ser capazes de resgatar a força econômica do Rio Grande do Sul a partir da Serra Gaúcha, que no momento ainda tem sua base produtiva atuando com certa normalidade. Tem a ver com a capacidade de reação e capacidade de puxar todo o estado junto", ressaltou Loro.
A saber: o comércio de Caxias do Sul apresentou em março o primeiro crescimento nas vendas em 2024. A elevação foi de 2,40% em relação a fevereiro de 2024. Quando comparado a igual período de 2023, também houve alta, de 2,32%. Já no acumulado do ano foi registrada retração de 0,67%, assim como no acumulado de 12 meses, com queda de 2,34%.