POR MARCOS FERNANDO KIRST
Rezam a prudência e o bom senso que uma coisa é ser destemido... outra coisa é ser estúpido. Muitas vezes, uma ação ou atitude aparentemente movida pelo destemor de quem a executa pode, na verdade, estar camuflando um ato tresloucado, inconsequente, de alguém desprovido de bom senso.
Temos visto muito disso nesses dias de combate planetário ao perigo de morte representado pelo coronavírus, quando cidadãos, líderes e dirigentes, muitas vezes, apesar de todos os alertas da ciência, da Organização Mundial da Saúde, dos médicos, e dos relatos reais da imprensa mundial, seguem insistindo em minimizar o problema, sugerindo que se leve uma vida normal dentro de uma situação absolutamente anormal, crítica e mortal. Destemor ou estupidez? Só o tempo e a História saberão dar a resposta certa. Até lá, reza a prudência...
Na verdade, o prudente prefere pecar por excesso de zelo, seja qual for o caso. A verdadeira valentia, a verdadeira ousadia e o verdadeiro destemor podem residir justamente no âmago de quem ousa assumir a postura da prudência, em favor da manutenção da vida, em primeiro lugar. Esses, sim, são os valentes.
Um símbolo de valentia, dessa valentia necessária para enfrentar um mundo repleto de desafios e de entraves, que muitas vezes oprimem setores específicos da sociedade, está desde dezembro de 2018 instalado defronte ao prédio da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em Wall Street. Trata-se da estátua em bronze de uma menina de cerca de 10 anos de idade, com 1,3 metro e altura, em atitude segura, encarando desafiadoramente outra estátua famosa instalada ali há mais tempo (desde dezembro de 1989), o imponente "Touro de Wall Street".
A menina é conhecida como “A Menina Sem Medo” (em inglês, “The Fearless Girl”), pois ela encara o touro bravio (que simboliza a pujança dos mercados e o empreendedorismo necessário para superar as crises econômicas e vencer) a poucos metros de distância, simbolizando várias coisas, entre elas, o destemor geral frente às adversidades e desafios e, especialmente, quando instalada, um libelo pela valorização das mulheres no mercado de trabalho.
Pois bem, nesses tempos de coronavírus, a “Menina Sem Medo” dá o exemplo e passa o recado, de fácil compreensão, em qualquer parte do planeta: já há alguns dias, ela segue ali, enfrentando o touro, o mundo e a vida, destemida, como sempre... Porém, agora, prudentemente usando uma máscara. Destemida, mas inteligente e informada.
