Neto de Hércules Galló – propulsor da indústria têxtil na Serra –, o caxiense José Galló, presidente do Conselho de Administração da Lojas Renner, protagonizou, nesta segunda-feira (8), a palestra online da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul.
O executivo ressaltou que Caxias representa "o empreendedorismo vivo", e o Brasil seria diferente se fosse como Caxias. Mas isso não pode significar apenas trabalhar na sua região, mas desenvolver um olhar com impacto nacional, a partir de cobranças e aproximação com os políticos. Ou seja, agir não apenas empresarialmente, mas politicamente.
Aproveitou o palco nobre para sugerir que os empresários solicitem mudanças de políticos e legisladores, com propostas, apresentando suas realidades e cobrando menos impostos e menos burocracia no país.
“A burocracia é o alimento deles para manter dificuldades e manter os seus empregos”, provocou, fazendo referência à fala de abertura do presidente da CIC Caxias, Ivanir Gasparin, que criticou a falta de diálogo das principais lideranças políticas brasileiras em plena pandemia.
Galló questionou ainda o alto peso dos impostos, correspondente a 38% em roupas e em 45% em água mineral, dizendo que essa conta fica ainda mais pesada às classes menos favorecidas, à margem de muitos produtos e serviços.
José Galló foi responsável por transformar a Renner em líder de moda no país
Credencial para refletir sobre o tema
Com um currículo que o credencia a discorrer sobre o tema proposto no evento “O encantamento do cliente vence qualquer crise”, Galló foi responsável pela ascensão da Renner, hoje maior rede de varejo de vestuário no país.
Quando ingressou no grupo, em 1992, a marca contava com oito lojas e encontrava dificuldades para quitar a folha de pagamento. Sua principal concorrente administrava entre 35 e 40 lojas. Hoje, a Renner superou esses números e fatura cerca de 50% a mais do que esse grupo competidor.
"Fomos chacoalhados”
Ao avaliar que a crise da Covid-19 veio para acelerar o uso da tecnologia, para sermos mais rápidos, para cortarmos etapas, para diminuirmos os gastos em estruturas físicas – “a velocidade de fazermos as coisas mudou” -, o empresário diz que já não basta satisfazer o cliente, mas sim encantá-lo.
Citou como exemplo a necessidade de a engenharia e o marketing passar a desenvolver o produto juntos e conversando com o consumidor. E não lançá-lo para só depois perceber que ele não atende às necessidades do público. Isso é retrabalho, perda de tempo, retrocesso.
“A crise nos provocou um grande agito. Fomos chacoalhados. A velocidade mudou. Não somos mais lineares. Quem não absorver a mensagem, vai ficar pelo caminho”, salientou.
Problemas financeiros?
Outra frase com bastante impacto pronunciada pelo empresário é que “não existem problemas financeiros”. Ele detalhou explicando que, nesses casos, os empresários e acionistas normalmente não criaram o produto certo, “fizeram o diagnóstico errado” do mercado e não oferecem um diferencial competitivo.
Somos pequenos?
Sobre pequenas empresas, Galló afirmou que essa justificativa não pode servir para o empresário se acomodar, uma vez que todas as companhias grandes, um dia, foram pequenas.
“Preciso me perguntar: como está a minha cabeça?”, provocou.
Retomada da economia
José Galló salientou que, nas lojas da Renner que foram reabertas, as vendas já chegam a 70%, 80% do que era o orçamento pré-coronavírus, uma amostra de que a economia começa a se movimentar.
“A crise também tem coisas boas. Vamos sair mais criativos, mais preparados”.
A saber: a Lojas Renner possui três operações em Caxias do Sul, nos shoppings Iguatemi, Bourbon San Pellegrino e Prataviera. Também opera no mercado local com outras marcas do varejo.
