Por MARCOS FERNANDO KIRST
As obras do escritor rio-grandense Josué Guimarães, cujo centenário de nascimento os gaúchos que valorizam literatura recordam e celebram neste 7 de janeiro de 2021, pautaram algumas de minhas principais leituras na década de 1980.
Iniciei-me no mundo narrativo singular e encantador de Josué com um livretinho de contos calcados na esfera do realismo fantástico, “O Cavalo Cego”, em 1983, quando eu frequentava o terceiro ano do científico, o correspondente ao atual ensino médio naqueles tempos de antanho. Gostei do que li e quis mais.
Ao longo daquele mesmo ano, empilhei mais três títulos do autor: os clássicos “A Ferro e Fogo I – Tempo de Solidão”, “A Ferro e Fogo II – Tempo de Guerra” e a novela “Enquanto a Noite não Chega”. Com os dois primeiros, mergulhei no cenário histórico da saga da imigração alemã no interior do Rio Grande do Sul, conduzida pela trama fictícia dos personagens atuando sobre o pano de fundo real, e fiquei na espera ansiosa pelo terceiro volume da trilogia, que jamais se concretizaria, devido à morte do escritor em 1986.
Em 1985, agora já estudante universitário, li outra de suas deliciosas e profundas novelas, “Depois do Último Trem”. Nos dois anos seguintes, saboreei duas outras obras dele: os contos de “O Gato no Escuro” (em 1986, ano em que Josué falecia, aos 65 anos de idade) e o romance alegórico que já nascia clássico, “Os Tambores Silenciosos” (em 1987).
Retomei o escritor em 2005, já vivendo em Caxias do Sul, lendo o extenso romance “Camilo Mortágua”. Ficaram ainda na fila outros títulos que em breve deverei visitar, incentivado pelo ano em que se celebra o talento do escritor, como “Dona Anja”, “É Tarde Para Saber” e “Amor de Perdição”. Josué escreveu também vários livros voltados ao púbico infanto-juvenil, legando uma vasta obra contundente literariamente e significativa, para todas as idades, a ser lida em todos os tempos. Injusto, portanto, que seja esquecido.
Josué Marques Guimarães nasceu em 7 de janeiro de 1921 em São Jerônimo, pequeno município situado na região metropolitana de Porto Alegre, vizinho de Charqueadas, Arroio dos Ratos e Butiá, no sul do Estado. Era jornalista de profissão e chegou a ser eleito vereador mais votado em Porto Alegre em 1951.
Atuou em jornais como “Folha de São Paulo”, “Jornal do Brasil”, “Zero Hora” e “Correio do Povo”. Morreu em 23 de março de 1986, vítima de um câncer intestinal. Seu primeiro livro publicado foi a coletânea de contos “Os Ladrões”, em 1970.
Um dos grandes nomes da literatura originada no Rio Grande do Sul, ao lado de outros luminares que não podem ser esquecidos, como Dyonélio Machado (1895 - 1985), autor de “Os Ratos”; Barbosa Lessa (1929 - 2002), autor de “Os Guaxos” e “Rodeio dos Ventos”; Marcello Gama (1878 – 1915), Vivita Cartier (1893 – 1919), Alcydes Maia (1878 – 1944), Felippe D´Oliveira (1890 – 1933), Ítalo Balen (1917 – 1981), Cyro de Lavra Pinto (1900 – 1980), Andradina de Oliveira (1864 – 1935), Delfina Benigna da Cunha (1791 – 1857) e tantos outros.