Mulher, 77 anos de idade, poeta e norte-americana. Este é o perfil da ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2020, anúncio feito pela Academia Sueca na manhã desta quinta-feira, 8 de outubro. Louise Glück nasceu em Nova York em 23 de abril de 1943 e consagrou-se nas últimas décadas como uma das vozes mais importantes da poesia contemporânea norte-americana, tendo inclusive conquistado o famoso Prêmio Pulitzer em 1993 com uma de suas obras, “The wild iris”.
A temática de sua poesia costuma ser autobiográfica, tendo como temas principais a solidão, a morte, separações, isolamento e relações familiares. Dedicada ao gênero, chegou a ministrar cadeiras de poesia em diversas instituições de ensino superior nos Estados Unidos.
Hoje, Glück reside no estado de Massachusetts, na cidade de Cambridge, e trabalha como professora adjunta e escritora residente na Universidade Yale, em Connecticut. Divorciou-se duas vezes e tem um filho, o sommelier Noah Dranow. Ela é autora de diversos livros como “Firstborn”, (1968), “The house on marshland” (1975), “The garden” (1976), “Descending figure” (1980), “The triumph of Achilles” (1985), “Ararat” (1990) e “Faithful and virtuous night” (2014). Sua obra ainda é pouco conhecida no Brasil.
Louise Glück é a décima-sexta mulher a ganhar o Nobel de Literatura desde a criação do prêmio, em 1901, quando já foram laureados um total de 117 autores (até hoje, nenhum brasileiro e somente um em língua portuguesa, José Saramago, em 1998).
Confira os nomes de todas as nobeladas:
1909 – Selma Lagerlöf
1926 – Grazia Deledda
1928 – Sigrid Undset
1938 – Pearl S. Buck
1945 – Gabriela Mistral
1966 – Nelly Sachs
1991 – Nadine Gordimer
1993 – Toni Morrison
1996 – Wislawa Szymborska
2004 – Elfriede Jelinek
2007 – Doris Lessing
2009 – Herta Müller
2013 – Alice Munro
2015 – Svetlana Alexievich
2018 – Olga Tokarczuk
2020 - Louise Glück
O tradutor Pedro Gonzaga, professor, escritor e doutor em Letras pela Ufrgs, que assina coluna sobre literatura na revista de cultura “Estado da Arte”, do jornal “Estadão”, publicou em 2017 traduções de dois poemas da escritora. Confira:
GRATIDÃO
Não pense que não sou grata por tuas pequenas
gentilezas.
Gosto de pequenas gentilezas.
De fato as prefiro à gentileza mais
substancial, que está sempre a te cravar os olhos,
feito um grande animal sobre o tapete
até que tua vida inteira se reduza
a nada além de levantar manhã após manhã
embotada, e o sol luminoso rebrilhando em seus caninos.
ÍTACA
O ser amado não
precisa viver. O ser amado
vive na cabeça. O tear
é para os pretendentes, suspenso
como uma harpa de brancos filamentos.
Ele era duas pessoas.
Era corpo e voz, o fácil
magnetismo de um homem vivo, e então
o sonho revelado ou a imagem
formada pela mulher manejando o tear,
ali sentada num salão cheio
de homens de mentes literais.
Se te causa pena
o mar enganado que tentou
levá-lo para sempre
e devolveu apenas o primeiro,
o verdadeiro marido, deverias
sentir pena desses homens: eles não sabem
para o que estão olhando;
eles não sabem que quando alguém ama dessa maneira
o manto se torna um vestido de casamento.