Caxias do Sul 26/11/2024

“Não precisa ter o Louvre ou a Disney; precisa é ter gente no Brasil”

Fundadora da rede Blue Tree Hotels destacou o calor humano, o jeito de servir e o acolhimento como diferenciais do setor do turismo no país
Produzido por Silvana Toazza, 06/07/2020 às 15:22:39
“Não precisa ter o Louvre ou a Disney; precisa é ter gente no Brasil”
Dama da hotelaria participou de reunião-almoço virtual da CIC
Foto: reprodução

POR SILVANA TOAZZA

Conhecida como a dama da hotelaria brasileira, Chieko Aoki busca forças e compartilha suas percepções a partir da inspiração na sua origem japonesa e das provas de superação de um país que se reergueu após a 2ª Guerra Mundial e habituado a enfrentar catástrofes naturais como tsunamis e terremotos.

“No Japão, todo o dia uma parede pode cair em cima de você. Na minha casa de lá, já tenho uma mochila com capacete, radinho, pilhas, lanterna, água, comida. Se tiver visita, deixo uma mochila debaixo da cama para cada visitante também, para o caso de termos de fugir”, destacou.

Com um olhar sensível, reflexivo e espiritualizado, a empresária, que modernizou o setor de hotelaria do país (o Blue Tree possui um hotel em Caxias do Sul há 16 anos), protagonizou a palestra na reunião-almoço virtual desta segunda-feira (dia 6), na CIC local, para falar sobre lições, reflexões e tendências para a cadeia turística diante da Covid-19.

Ivanir Gasparin, presidente da CIC de Caxias do Sul, conduziu a palestra

“Uma crise sem precedentes”

Com a transmissão sob o comando do presidente da CIC de Caxias, Ivanir Gasparin, que a definiu como “uma das vozes mais importantes do setor do turismo do Brasil e do mundo”, Chieko Aoki pontuou que o momento é de reflexão, já que “vivemos uma crise sem precedentes”.

A empresária salientou que o turismo está entre as maiores indústrias globais, envolvendo uma cadeia de cerca de 60 tipos de empresas.

No caso da rede Blue Tree Hotels, houve a percepção de que a crise da Covid-19 seria alongada e o investimento rápido em processos de saúde e segurança fez a diferença, ao lado de "uma situação de caixa saudável”. Os protocolos e estratégias de sobrevivência precisaram ser diferentes, pois a situação de cada hotel também era única. Três deles ficam perto de hospitais, e se mantiveram atuando, por exemplo.

Turismo interno

Além da necessidade de fazer economia, a executiva salienta que o setor precisa apostar em viagens locais e domésticas, mais curtas, valorizando o que temos, inclusive em termos de turismo industrial (por que não conhecer a Marcopolo e a Randon?), e que a hotelaria brasileira deve evidenciar o que há de único no mundo: o calor humano, o acolhimento, o jeito de bem servir. Alguns empreendimentos da rede também estão se estruturando para o novo momento, com espaço para estúdio de reuniões e gravações virtuais.

“Não precisa ter o Louvre ou a Disney; precisa é ter gente no Brasil”, afirma, referindo-se ao jeito de servir e ao acolhimento das equipes brasileiras.

Mesmo assim, Chieko Aoki acredita que os eventos vão voltar, mas que dependem da chegada da vacina contra o coronavírus.

“Um milagre”

Apesar de saber que levará pelo menos até 2022 para o setor dar a volta por cima, a empresária diz que o hotel Blue Tree de Caxias do Sul reabriu com 40% de ocupação, mesmo percentual do setor em geral na China, considerado baixo por ser o primeiro país a ter enfrentado a doença e pela numerosa população.

“Isso é um milagre”, expressa, referindo-se a Caxias do Sul e enaltecendo, com sua típica postura generosa e grata, a atuação da equipe local, sob comando da diretora Marjorie Balbinot Gasperin.

União para se fortalecer

A empresária crê na força da superação, como testemunhou na sua terra-natal, o Japão, onde, no pós-guerra, todos moravam em barracos e, hoje, são classe média.

“Estamos apostando que a cidade, unida, vai se recuperar. E uma cidade como Caxias do Sul vai fazê-lo mais rápido”, salienta.

A presidente da Blue Tree Hotels destaca que o jovem de hoje prefere “ser” do que “ter”, e o mundo está mudando. Prefere investir em viagens, conhecimento, ao invés de adquirir carro e produtos. Opta por louças que possam ir na máquina de lavar do que cristais e porcelanas de enfeite,

A senhora Chieko conclama empresários e governantes a andar juntos e defende que o país precisa combater o “custo-Brasil” e os impostos, além de lutar para acabar com a injustiça social.

“O Brasil tem tudo para dar certo”, assinalou.

Lições da dama da hotelaria

O site elenca cinco tópicos enaltecidos por essa grande empresária brasileira, de origem japonesa:

Cultive a espiritualidade para enfrentar a crise

Não desperdice água, comida, luz, produtos. No Japão, uma roupa é usada até a terceira geração e tudo é cuidado, pois todas as coisas são vistas como ramificações de Deus

É preciso economizar e fazer uma poupança, pois temos de aprender a conviver com riscos e com a iminência de crises, como no Japão

Valorizar as empresas locais, um ajudando o outro, assim como no turismo, é fundamental nesse momento

O Brasil tem algo importantíssimo: o calor humano, o acolhimento, a abertura para amizades, para servir