Caxias do Sul 21/11/2024

“Não abrimos espaço para a desmotivação”

As empreendedoras Maria Beatriz Dal Pont e Carolina Dal Pont Branchi, mãe e filha, revelam como superaram a crise da Covid-19 no setor gastronômico com um novo capítulo na história da Amada Cozinha
Produzido por Silvana Toazza, 23/08/2021 às 13:42:54
“Não abrimos espaço para a desmotivação”
Bea e Carol comandam nova fase do negócio
Foto: Fábio Grison

POR SILVANA TOAZZA

Acomodação é uma palavra que não se encaixa no vocabulário pessoal e empresarial da sommelier de azeites Maria Beatriz Dal Pont e da nutricionista Carolina Dal Pont Branchi, mãe e filha.

Representando as mentes e as mãos criativas por trás de uma marca consolidada em Caxias do Sul, o Restaurante Amada Cozinha, elas decidiram que era a hora de mudar e adaptar o negócio aos novos tempos. A Covid-19 fez repensar e reposicionar a grife gastronômica. E elas não temem mudanças. Preferem adaptar-se a resistir.

Restaurante atende em novo endereço no centro de Caxias (foto: Fábio Grison)

Com isso, surge o novo capítulo na história da Amada Cozinha. Desde a segunda quinzena de julho, a casa atende em novo endereço: na Rua Os 18 do Forte, 1.535, ao lado do bar e restaurante Alligator. O novo endereço chega com salão amplo, atendimento também na área externa, estacionamento de fácil acesso e maior número de vagas disponíveis.

Aspectos do antigo endereço, como aumento de aluguel, localização no subsolo ocasionando falta de visibilidade do restaurante, o estacionamento pequeno e de difícil acesso, a necessidade de repensar a empresa em termos de planejamento e custos para adequação ao momento econômico presente, foram fundamentais para a troca de ponto. A ideia vinha sendo amadurecida desde 2020, e o espaço agora ganha projeção para reuniões e cafés, além de refeições.

"Passamos excelentes momentos no espaço, encantamos clientes com as dependências e ambiente, crescemos e aprendemos muito como empresa, mas o momento é de readequação e reorganização para seguirmos com nossa caminhada", pontuam as sócias.

Horário ampliado e novo cardápio são atrativos (foto: Fábio Grison)

Além do horário ampliado (de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e no sábado, das 11:30h às 19h), a Amada Cozinha aposta em novidades no menu que se aliam aos clássicos focados no uso exclusivo de azeite de oliva extravirgem gaúcho.

Além desta mudança de endereço, mantendo-se na área central, a Amada Cozinha ampliou, desde o final de 2020, seu braço de atuação e assumiu o setor de Alimentos & Bebidas do Hotel Blue Tree Towers Caxias do Sul. Passou a administrar o restaurante, o café da manhã, o bar do lobby, room service e alimentação para eventos do empreendimento.

Nesta entrevista a quatro mãos e duas vozes, concedida de forma exclusiva ao site, Maria Beatriz Dal Pont e Carolina Dal Pont Branchi comentam o novo momento da Amada Cozinha:

A Amada Cozinha aplicou na prática a palavra reinvenção. Quais mudanças chegam ao público?
A adequação da empresa aos novos tempos chega com um reposicionamento estratégico que implicou mudanças internas, transferência para novo espaço físico, com amplo espaço externo, novo cardápio, maior número de funcionários, novos horários, ideias para eventos pontuais em parceria com o bar e restaurante Alligator, além do atendimento normal de café e almoço.

O que impulsionou a sair do ponto no coração de Caxias?
Na verdade, nós continuamos no Centro da cidade, a uma quadra da praça Dante. Retornamos à nossa origem, como restaurante, na Rua Os Dezoito do Forte. O maior impulso para a mudança foi o fortalecimento da empresa, a recomposição de custos e a busca de maior conforto e acessibilidade aos nossos clientes. Optamos por um local mais visível, mais acessível, com aumento no número de lugares e amplo estacionamento que agregam valor ao nosso negócio.

Como tem sido a aceitação do consumidor?
A aceitação tem sido excelente, muitos clientes antigos retornando, elogios diários ao novo local, mais despojado, mas ainda muito personalizado e charmoso. Temos percebido uma ótima procura diária que vem refletindo no aumento significativo do número de atendimentos, tanto ao meio-dia, como à tarde e no happy hour.

O mercado da alimentação foi bastante atingido pela pandemia. Como conseguiram superar o pior da crise da Covid-19?
Diríamos que, ainda, não a superamos totalmente, pois existem reflexos que serão mais duradouros. Nós acreditamos no nosso modelo de negócio e na aceitação da nossa gastronomia, que é bem autoral, leve e saborosa. Nossa força de trabalho foi desafiada e não demos espaço para a desmotivação. Quando uma de nós estava mais frágil, a outra segurava firme e, assim, fomos superando um dia após o outro. Também tivemos uma boa dose de coragem e disposição para superar adversidades. Mas, certamente, quem contribuiu bastante para conseguirmos crescer na crise foram nossos colaboradores, tanto da Amada, quanto da Amada Blue (junto ao hotel), que ficaram firmes ao nosso lado e nossos clientes que se mantiveram fiéis.

Quais foram os grandes desafios desta mudança de endereço?
O maior desafio foi o tempo. As obras do novo local estavam ainda em andamento quando fizemos a mudança, pois tínhamos um período fixado em contrato para desocupar o antigo espaço. As obras foram terminadas enquanto montávamos equipamentos e desembrulhávamos móveis. Foi uma corrida, mas conseguimos reabrir em 20 dias. O segundo desafio foi o equilíbrio financeiro, pois, além da sustentação da empresa na pandemia com faturamentos baixos e inconstantes, tivemos de implantar um novo projeto de restaurante e partir para este novo local.

O cardápio precisou ser repensado?
Sim, até porque nosso cardápio é sazonal. Lançamos para a abertura um cardápio batizado de “Origem”, que contém os pratos clássicos da Amada Cozinha, incluindo nossas sopas, e criações autorais de outono/inverno, assinadas pela Carol.

Como enxergam o mercado da gastronomia caxiense? O público está aberto ao novo?
Vemos o mercado de gastronomia em Caxias como desafiador. Existe uma linha tênue entre a aceitação e a experimentação. Muitos experimentam, mas nós medimos nosso desempenho pelo número de retornos, ou seja, quantos clientes passam a frequentar o restaurante. Procuramos sempre ouvir nossos clientes e aferir o grau de satisfação, procurando melhorar no dia a dia. Como nossos pratos se diferenciam pela pegada saudável, com muitos legumes e verduras, uso do azeite de oliva extravirgem, sem nada frito ou super processado, tudo feito na hora, bem fresquinho, pensando na eliminação de desperdício e na sustentabilidade, com uma composição nutricional equilibrada, fugimos do padrão usual da gastronomia caxiense. Não elaboramos pratos conceituais, mas comida boa e leve.

O turismo vem ganhando espaço?
Muito. E temos bastante conhecimento pois estamos com a gestão do Hotel Blue Tree, conseguimos enxergar e presenciar a movimentação de grupos de turismo mais do que executivos. Esta realidade mudou muito. Nos finais de semana, temos mais clientes que durante a semana, principalmente no hotel. É um turismo familiar, de lazer.

Quantos empregos foram gerados no novo formato de negócio?
Na Amada Cozinha tivemos três novas contratações entre cozinha e salão, totalizando 10 funcionários, mais as duas sócias; na Amada Cozinha Blue, junto ao hotel, estamos com 20 funcionários e o sócio Cristian Schmith.

Parcerias são fundamentais...
As parcerias nos impulsionam para a frente, nos fazem crescer e colaborar com as empresas. Para nós, as parcerias são sempre uma via de mão dupla, de colaboração e crescimento conjunto.

Trabalhar com alimentação exige disciplina e comprometimento, além de um risco e de uma incerteza de movimento. Como administram essas variáveis?
Para trabalhar neste setor é preciso ser vocacionado. Ter prazer em servir, não ter problemas em trabalhar nos finais de semana, feriados, datas comemorativas. Saber que é um trabalho até pesado, mas que traz muita satisfação. Claro que existem muitas varáveis, que há incertezas quanto ao movimento, à frequência, ao número de pessoas atendidas. Tudo funciona como uma rede interligada. É preciso saber comprar certo e na quantidade correta, para não faltar e não sobrar. Tem de ter jogo de cintura e sensibilidade para antecipar as situações. Com o tempo, desenvolve-se uma habilidade de prever e reagir, buscando incentivar com ações e divulgação quando percebemos que haverá variação de movimento. É um desafio constante.

Muitos restaurantes saíram do mercado ao longo da pandemia. É mais fácil desistir ou persistir?
Na nossa história, sempre optamos por persistir, o lutar e o fazer o que se gosta, e o que é necessário para persistir. Fizemos uma leitura dos fechamentos durante a pandemia e verificamos que muitos que encerraram suas atividades eram locais tradicionais, que vinham atuando há muitos anos, portanto, quase uma opção pela aposentadoria. Quase uma decisão normal dentro dos negócios, talvez antecipada pela situação do momento.

Que dicas daria a empresários acuados pelo cenário de incertezas?
Primeiro, uma reflexão profunda sobre o quanto estão dispostos a investir em tempo, energia e recursos financeiros; segundo, quanto de resiliência e crença na proposta de trabalho possuem; terceiro, o quanto de realização e satisfação o trabalho lhes proporciona. Havendo uma resposta consistente frente a essas variáveis, diríamos que o caminho é continuar, sempre com fé e disposição para o trabalho

2021, o ano da.... mudança e crescimento!