POR MARCOS FERNANDO KIRST
O que está morrendo no mundo, juntamente com o desaparecimento de grandes atores e atrizes na faixa dos 80/90 anos, é um estilo artístico, um conceito estético de fazer cinema, que esses nomes protagonizavam.
Além das insubstituíveis perdas humanas e profissionais que as mortes desses talentos representam, elas também cavam cada vez mais fundo o buraco onde se vai enterrando a qualidade da sétima arte, hoje resumida à produção de arrasa-quarteirões calcados em super-heróis, ultraviolência, terror e... e super-heróis e... e ultraviolência... e...
As bravas e raras exceções passam longe dos megaestúdios e das salas de projeção dos shopping centers, resumindo-se aos esforços louváveis de produções independentes fora do eixo de Hollywood e exibidas em espaços culturais alternativos (Caxias do Sul tem o privilégio de abrigar um deles, de alta qualidade, configurado na Sala de Cinema Ulysses Geremia, junto ao Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho).
A morte, nesta segunda-feira, 6 de setembro, do ator francês Jean-Paul Belmondo, aos 88 anos, acende mais um sinal de alerta para uma era que, definitivamente, vai sendo abrigada somente nas páginas da história da cinematografia universal. A ele, só neste ano, até aqui, unem-se as perdas irreparáveis de estrelas da dramaturgia como Christopher Plummer, Ed Asner e os brasileiros Orlando Drummond, Eva Wilma, Tarcísio Meira, Paulo José e Sérgio Mamberti, entre outros.
De minha parte, a título de homenagem e para saciar a sede por assistir a filmes de verdade, aproveito o feriado para homenagear Belmondo revendo, pela enésima vez, uma de suas obras que para mim figura entre as preferidas de sua extensa carreira: “O Magnífico”, deliciosa, surpreendente e inteligente comédia que protagonizou em 1973 ao lado de Jacqueline Bisset.
Belmondo contracenando com Jacqueline Bisset em "O Magnífico" (Crédito: Divulgação)
Paródia impagável dos filmes de espionagem em voga na época (estrelados também por astros saudosos como Sean Connery e Roger Moore, que deram vida nas telas ao espião James Bond, o 007), sei que vou gargalhar novamente na cena em que o atrapalhado personagem de Belmondo, o espião Bob Sinclair, procura seduzir a mocinha do filme (Bisset) tentando tirar o roupão na sala de estar e destruindo a decoração. Já ri mil vezes. Rirei mil e uma hoje.
Fenômenos que só se explicam por meio da magia de uma arte feita com qualidade, com talentos de verdade. Vida longa à memória de Jean-Paul Belmondo e de todo um universo no qual sua estrela se eterniza.
Veja o trailer de "O Magnífico" AQUI